A dor torturadora da perda de um grande amor… sem dramas

OS REENCONTROS COM AMORES PASSADOS

Mulher no Bar

Uma mulher me esperava no restaurante; o meu amor perdido.

Ela sempre chegava um pouco antes; eu sempre um pouco depois.

Fazia muito tempo que não a via, mas certos hábitos jamais se alteram.

“Tudo bem?”, perguntei. “Graças a Deus”, respondeu.

Rimos e o gelo se quebrou. Era uma piada particular nossa. Ela era ateia, jamais acreditara em Deus.

Num certo momento, deixou de acreditar também em mim. Foi aí que o nosso romance começou a terminar.

Reencontros com amores passados servem para mostrar muita coisa.

Mostram, por exemplo, como uma intimidade construída em anos pode se dissolver instantaneamente com o rompimento.

Você passa a tratar com cerimônia constrangida alguém com quem, até pouco antes, tinha a mais absoluta liberdade.

Ela me esticou um livro aberto numa determinada página, com uma sentença sublinhada.

Era uma das frases mais lindas e também uma das mais tristes que alguém já escreveu.

Proust dizia: “Nesse nosso mundo onde tudo fenece, tudo perece, há uma coisa que se deteriora, que se desfaz em pó até de forma mais completa, deixando para trás ainda menos traços de si do que a beleza: a saber, a dor”.

A dor. A dor da perda de um grande amor.

A gente imagina que vai morrer sem ele. Como dói aquela ausência.

Como dói a perspectiva de nunca mais ter nos braços alguém que a gente imaginava ao nosso lado para sempre.

Nunca mais.

E no entanto quando aquela dor torturadora se vai, vencida enfim pelo correr dos longos dias, o que sentimos não é alívio, mas vazio e frustração.

É como se pensássemos: o grande amor exige uma dor eterna, um luto no coração até o último dia. Só que a dor, como disse Proust, dura ainda menos que a beleza.

Devolvi o livro e mudamos de assunto. Era tempo de despedida. Sem drama. Ela refizera a sua vida e eu a minha.

Já não doía como doera nem nela nem em mim.

Mas ali compreendi com clareza que a morte da dor amorosa também pode, de uma forma estranha, doer.

Por Fabio Hernandez (fragmento)

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