A relação entre o canto dos pássaros e a fala dos humanos
OS GENES QUE NOS TORNARAM PAPAGAIOS
Eles têm penas, voam, botam ovos e dobram os joelhos para trás. Nós temos pelos, andamos, engravidamos e dobramos os joelhos para frente. Com tudo isso, possuímos mais coisas em comum do que poderíamos supor.
Embora distantes na escala evolutiva, pássaros e humanos compartilham uma habilidade rara entre outros animais: a linguagem falada. Do ponto de vista da ciência não existe diferença biológica entre o canto de várias espécies de aves e a fala do bicho homem.
Já se sabe que existe um grupo de 40 genes ligados ao controle da fala nos passarinhos cantores e faladores semelhantes aos encontrados nos humanos tagarelas.
Comportamentos e conexões neurais associados à fala e ao canto estão ligados a traços genéticos compartilhados por humanos e alguns pássaros que estão separados de nós por três milhões de anos na história da evolução.
E isto é relevante, pois nem nossos parentes mais próximos, como os chimpanzés, conseguiram desenvolver essa habilidade de aprender e reproduzir sons.
Tal capacidade teria evoluído independentemente em humanos, pássaros e outros animais que aprendem sons, como as baleias e os golfinhos.
Portanto, como a linguagem nada mais é do que a capacidade de controlar os movimentos da laringe para reproduzir sons, tecnicamente não há diferença entre o canto dos pássaros e a fala humana.
As definições de fala e linguagem falada é que são diferentes para a neurologia e a linguística ou psicologia comportamental. Quando se trata de cérebro, linguagem e fala são a mesma coisa.
O que diferencia os humanos e certos pássaros, como os papagaios, dos demais animais é a habilidade de imitar sons. Só que a capacidade de entender a linguagem não é única dos humanos; cães e até galinhas podem identificar o que é dito ao comando “senta”.
Enfim, parece que tudo começou quando a maioria das espécies passou a se valer da vocalização para atrair parceiros para o acasalamento. Os humanos é que tiveram a sacada de usar a linguagem majoritariamente para a comunicação interpessoal.
Mas no início da nossa história evolutiva, o mais provável é que usássemos, assim como esses pássaros, a fala e o canto como atrativos sexuais e, depois, também passamos a usar os sons como forma de interação social.
É para tentar descobrir como se deu essa mudança que os neurobiólogos da Universidade Duke , nos EUA, anunciaram que não existe diferença biológica entre o canto de alguns pássaros e a fala humana, no encontro anual da Sociedade Americana para o Progresso da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), em Boston.