Abelhas têm personalidade parecida com a dos humanos
ESSA DARIA UM NÓ NA CABEÇA DE SHAKESPEARE
Do blog ECOnsciência
Assim como as angústias e dúvidas existenciais shakesperianas, também fisicamente as abelhas nada têm em comum com os seres humanos. Mas, segundo estudo publicado pela revista Science, esses insetos são dotados de personalidade tais quais os humanos.
Dentro de um grupo de abelhas, por exemplo, há as exploradoras que apresentam um comportamento mais ousado e também as mais cautelosas que preferem um modo de vida mais caseiro.
“As abelhas têm distintas funções na colônia”, explica Silvia Rodríguez Zás, pesquisadora da Faculdade de Agronomia da Universidade do Uruguai e que trabalha agora na Universidade de Illinois, nos EUA.
“Algumas ficam dentro da colmeia e cuidam dos filhotes. Outras saem para obter comida”, acrescentou Zás, integrante da equipe liderada por Zhengzheng Liang, do Programa de Neurociência da Universidade de Illinois.
“As exploradoras são as que buscam novas fontes de alimentos e as outras, menos numerosas, procuram lugares para dar início a colmeias novas”, acrescentou.
O estudo das abelhas e suas possíveis implicações para entender o comportamento de mamíferos, e até o dos humanos, é interessante porque esses são insetos sociais que vivem em comunidades altamente organizadas.
EXPERIMENTOS
Durante os experimentos, os pesquisadores instalaram as fontes de alimento das abelhas em uma grande área protegida e observaram quais saíam para explorar e procurar comida.
Depois os cientistas compararam os genes das abelhas aventureiras com aquelas que ficavam próximas a suas colmeias.
A pesquisadora lembra que o comportamento explorador das abelhas é algo que nos humanos é conhecido como “comportamento em busca de novidade”, disse Silvia.
Entre todas as abelhas que procuram alimentos, 25% se dedicam a buscar novas fontes.
“Há uns mil genes, 15% do total, que se expressam mais nas abelhas exploradoras que nas não exploradoras. São genes com função associada à comunicação e essas diferenças se expressam na dopamina, na octopamina, no glutamato e no ácido gama-aminobutírico”, continuou Zás.
“Nos seres humanos, essas moléculas se relacionam com a sensação de satisfação e também com a dependência”, explicou a pesquisadora. “Os seres humanos que têm a tendência de buscar atividades inovadoras também possuem um maior risco de desenvolver uma dependência”.
Em outras fases do estudo, os cientistas acrescentaram doses maiores de octopamina e glutamato na dieta das abelhas exploradoras. “O resultado foi que exploravam ainda mais”.
“Por outro lado, a adição de agentes bloqueadores na dieta inibiu-lhes a vontade de explorar. As abelhas normais, que não tendem a explorar, exploraram ainda menos”, acrescentou Zás.
Os resultados da pesquisa, assinalou o artigo, “demonstram paralelos interessantes entre o comportamento em busca de novidades das abelhas melíferas e o dos humanos”.
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