Bebida energética com alto teor de cafeína causa mortes nos EUA
INTOXICAÇÃO MONSTRO
O consumo de bebidas energéticas da Monster Energy pode ter provocado a ocorrência de várias mortes nos Estados Unidos, segundo relatórios divulgados no final de outubro pela poderosa FDA — Food and Drug Administration (equivalente à nossa Anvisa).
Muito da preocupação com relação ao consumo de energéticos se deve ao alto índice de cafeína contida em bebidas do tipo, que no momento é regulamentado como suplemento nutricional.
A revista New Scientist traz uma ampla abordagem sobre os trágicos incidentes envolvendo uma das principais marcas patrocinadoras de esportes nos EUA.
Como essas mortes foram reveladas?
Uma garota de 14 anos de idade chamada Anais Fournier morreu repentinamente em Maryland em dezembro, do ano passado, em decorrência de uma arritmia cardíaca que resultou em uma parada cardiorrespiratória. Ela teria bebido duas latas de Monster Energy em dois dias.
A mãe de Anais, Wendy Crossland, processou a Monster Beverage, sediada em Corona, Califórnia, afirmando que a empresa não especificou corretamente os riscos que advêm do consumo dos energéticos com muita cafeína.
Como parte de um Pedido de Liberdade de Informação (uma requisição formal por informações mantidas anteriormente em sigilo, possível por meio de uma lei americana) de Wendy, a FDA divulgou detalhes de outros quatro casos, além de um ataque do coração não fatal, todos supostamente associados ao consumo de Monster Energy.
Ainda que os relatórios não provem conclusivamente a responsabilidade direta da Monster Energy nos óbitos, a empresa se antecipou em garantir que suas bebidas são seguras.
Quanta cafeína existe em energéticos como o Monster Energy?
Não é uma quantia gigantesca, na verdade. Uma lata de 682 ml de Monster Energy contém 240 miligramas de cafeína. Uma xícara típica de café (225 ml) contém algo em torno de 90 e 200 miligramas de cafeína.
Quanta cafeína seria necessária para ser fatal?
A dose letal de cafeína é de cerca de 6 gramas para adultos. Então seriam necessárias 25 xícaras de café para chegar a esse ponto.
Parte do motivo pelo qual é fácil evitar a morte por cafeína é porque os sintomas que vêm nos estágios iniciais da intoxicação – tontura moderada, náusea e dor de cabeça – são bem desconfortáveis, diz Sarah Kerrigan, uma toxicologista forense da Universidade Estadual de Sam Houston, no Texas.
Para as crianças e os idosos, a dose que causa efeitos sérios pode ser significativamente menor do que 5 gramas, mas a quantidade ainda não foi precisamente estabelecida.
Quão comum é a morte por cafeína?
Não é tão comum. Apenas alguns casos aparecem na literatura científica, apesar de que seja possível que tais mortes ainda não recebam contabilização ampla.
Contudo, houve aumento no socorro hospitalar, mas que não chegam a resultar em mortes. A grande questão é o quanto podemos culpar os energéticos sozinhos por essas hospitalizações.
Entre 2005 e 2009, essas idas ao hospital aumentaram em dez vezes nos EUA. Mas pelo menos 44% dessas visitas eram relacionadas à mistura dos energéticos com outras substâncias, como o álcool.
Então o que poderia ter causado as cinco mortes divulgadas?
Como a quantidade de cafeína numa lata de Monster Energy poderia, na pior das hipóteses, causar alguns tiques na maioria dos adultos sadios, as mortes são provavelmente ligadas a condições médicas pré-existentes ou porque a bebida foi combinada com outras coisas.
Anais sofria de síndrome de Ehlers-Danlos, uma anomalia genética que gera pele e articulações “soltas”, e vasos sanguíneos muito frágeis. Como a cafeína dilata os vasos, a doença pode ter deixado a jovem muito mais sensível aos efeitos da cafeína.
Que outras doenças podem deixar alguém vulnerável à cafeína?
Quase tudo que deixa o músculo do coração mais fraco pode aumentar a sensibilidade aos impactos cardiovasculares da cafeína, diz Rita Redberg, uma cardiologista da Universidade da Califórnia, em São Francisco.
Doenças como obesidade e diabetes, que não são normalmente associadas à arritmia, podem enfraquecer o coração e abrir a porta para que a cafeína cause palpitações perigosas.
Mas a sensibilidade à cafeína é algo extremamente particular, diz Jeff Goldberger, um eletrofisiologista do coração da Universidade do Noroeste em Chicago.
Uma análise realizada em 2011 da literatura relacionada à cafeína mostrou que é quase impossível listar fatores de doenças consistentes que liguem grandes doses de cafeína à arritmia na população em geral.
A Monster Energy traz avisos alertando que elas não devem ser consumidas por crianças menores de 12 anos ou pessoas sensíveis à cafeína.
Por que os energéticos não são regulamentados nos EUA?
A FDA só pode regulamentar alimentos e drogas. A malandragem é que, ao se anunciarem como suplementos nutricionais, os energéticos escapam dos tipos de regras impostas aos alimentos que contém cafeína.
Refrigerantes, por exemplo, são limitados nos EUA a 71 miligramas de cafeína para cada 340 mililitros, uma concentração cerca de um terço menor do que a encontrada no Monster Energy.
Energéticos nos EUA não são obrigados a especificar quanta cafeína existe em seus produtos.
O que mais existe em energéticos?
Taurina e guaraná são sempre considerados como estimulantes, junto com outras substâncias.
Muitos desses ingredientes não foram estudados, diz Sarah, e “certamente não a ponto de você estudar uma nova droga se você fosse começar a prescrevê-los ou vende-los no balcão”.
Com Jornal Ciência (veja mais wallpapers aqui)