Canção do Engate, de Antônio Variações, não me sai da cabeça
TV PORTUGUESA É MELHOR QUE A GLOBO
Quem acredita em fantasias como o tão falado “Padrão Globo de Qualidade” está convidado a rever os seus conceitos. Assista, se tiver a oportunidade, a série Não me sai da cabeça da RTP — empresa estatal portuguesa que inclui a rádio e a televisão públicas (por enquanto).
É um conjunto de 5 documentários, de 25 minutos cada um, maravilhosamente apresentados por Sílvia Alberto. Inteligente e bem humorado, cada um aborda uma grande canção portuguesa, daquelas que ficam na memória e nos tímpanos para sempre.
E vamos combinar: a série humilha qualquer coisa que a rede Globo tenha a pretensão de produzir.
O primeiro documentário é sobre a Canção do Engate, sucesso de António Variações — um tipo “maluco beleza” lusitano que morreu em 1984, aos 39 anos, de broncopneumonia provavelmente causada pela AIDS. O impacto em Portugal foi semelhante ao que ocorreu com o nosso Cazuza.
Dezenas de artistas gravaram o hit em sua homenagem, mas eu escolhi para mostrar esta versão acústica mais contemporânea de Tiago Bettencourt (não se iluda com a introdução).
Agora, o inacreditável é que nenhum intérprete brasileiro tenha jamais se interessado por uma melodia assim, que gruda como chiclete… só que com a vantagem de ter uma letra tão linda: Tens a minha mão aberta / À espera de se fechar / Nessa tua mão deserta...
CANÇÃO DO ENGATE
António Variações
Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite pra passar
Por que não vamos unidos
Por que não vamos ficar
Na aventura dos sentidos?
Tu estás só e eu mais só estou
Que tu tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta
Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás
Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia
Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada
Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás…
Composição e interpretação belíssimas, MaryLover. Bastaria fazer uma adaptação mínima no tempo dos verbos, passando da segunda para a terceira pessoa do singular (você no lugar do tu, como nós usamos aqui) para arrebentar nas paradas. Dá para produzir nas formas de balada, country, rock e até na batida eletrônica. A galera tá mesmo comendo mosca.
PS: Consegui assistir ao programa na TV a cabo. Tens (hehehe) razão: não dá pra Globo mesmo não. E a Sílvia, hein? Uma gata!