Como a velha mídia manipula a morte de Muammar Kadhafi


Manipulação da velha mídia

MENTIRAS TURBINADAS

O Chefe de Redação

“Muammar Kadhafi está morto”, é a notícia da hora em todos os meios de comunicação. Dizem em uníssono os portais da velha mídia que “o ditador líbio foi deposto por sua própria população em um levante que se tornou uma sangrenta guerra civil”. Como se a combustão fosse espontânea.

Só que não aconteceu assim, pelo contrário. O projeto das potências ocidentais foi desmantelar e privatizar completamente uma nação que não estava integrada no turbo-capitalismo; abrir uma outra (lucrativa) terra de oportunidade para o neoliberalismo com turbo-propulsor.

O que menos houve na Líbia foi povo nas ruas, mas tropas de mercenários enviados e armados pelos EUA, França e Itália, entre outros, no momento em que seu sistema econômico naufraga numa enorme crise financeira. Mas à velha mídia não interessa esclarecer a verdade histórica. Emir Sader* ensina:

O VOCABULERO-LERO DA VELHA MÍDIA

Aqui algumas indicações sobre como ler a velha mídia. Nada do que é dito vale pelo seu valor de face. Tudo remete a um significado, cuja arte é tratar de camuflá-lo bem.

Por exemplo, quando dizem liberdade de imprensa, querem liberdade de empresa, das suas empresas, de dizerem, pelo poder da propriedade que têm, de dizer o que pensam.

A chave está em fazer passar o que pensam pelo interesse geral, pelas necessidades do país. Daí que nunca fazem o que deveriam fazer. Isto é, dizer, por exemplo: “A família Frias acha que…” Ou: “A família Civita acha que…” e assim por diante.

A arte da manipulação reside em construções em que os sujeitos (eles) ficam ocultos. Usam fórmulas como: “É mister”, “Faz-se necessário”, “É fundamental”, “É’ indispensável”.

Sempre cabe a pergunta: Quem, cara pálida? Eles, os donos da empresa. Sempre tentar passar a ideia de que falam em nome do país, do Brasil, da comunidade, de todos, quando falam em nome deles.

A definição mais precisa de ideologia: fazer passar interesses particulares pelos interesses gerais.

Quando dizem “fazer a lição de casa”, querem dizer, fazer duro ajuste fiscal.

Quando falam de “populismo”, querem dizer governo que prioriza interesses populares.

Quando falam de “demagogia”, se referem a discursos que desmascaram os interesses das elites, que tratam de ocultar.

Quando falam de “liberdade de expressão”, estão falando no direito deles, famílias proprietárias das empresas monopolistas da mídia, dizerem o que bem entendem.

Confundem liberdade de imprensa com liberdade de empresas – as deles.

No Vocabulerolero indispensável para entender o que a mídia expressa de maneira cifrada, é preciso entender que quando falam de “governo responsável”, é aquele que prioriza o combate à inflação, às custas das políticas sociais.

Quando falam de “clientelismo”, se referem às politicas sociais dos governos.

Quando falam de “líder carismático”, querem desqualificar os discursos dos líderes populares, que falam diretamente ao povo sobre seus interesses.

Quando falam de “terrorismo”, se referem aos que combatem ou resistem a ações norte-americanas.

“Sociedades livres” são as de “livre mercado”. Democráticos são os países ocidentais que tem eleições periódicas, separação dos três poderes, variedade de siglas de partidos e “imprensa livre”, isto é, imprensa privada.

“Democrático” é o pais aliado dos EUA – berço da democracia. Totalitário é o inimigo dos EUA.

Quando dizem “Basta” ou “Cansei”, querem dizer que eles não aguentam mais medidas populares e democráticas que afetam seus interesses e os seus valores.

Entre a velha mídia e a realidade se interpõe uma grossa camada de mecanismos ideológicos, com os quais tentam passar seus interesses particulares como se fossem interesses gerais.

É o melhor exemplo do que Marx chamava de ideologia: valores e concepções particulares que pretendem promover-se a interesses da totalidade.

Para isso se valem de categorias enganosas, que é preciso desmistificar cotidianamente, para que possamos enxergar a realidade como ela é.

* Emir Sader é sociólogo e cientista, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP – Universidade de São Paulo. (Com charge de Ivan Cabral)

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* * *

O Chefe de Redação


2 thoughts on “Como a velha mídia manipula a morte de Muammar Kadhafi

  • 22 de outubro de 2011 em 09:44
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    O NOSSO FDP!

    Todos os líderes ocidentais saúdam o assassinato do ditador Kadhafi como o fim de uma era de despotismo e repressão. Hoje armam-se os pró-revolucionários árabes, ontem armavam os ditadores cuja morte aplaudem.

    É a velha política externa realista de tradição norte-americana… aquela dos anéis nos dedos: mudam-se os ditadores, mantêm-se os interesses.

    “He may be a son of a bitch but he’s our son of a bitch” teria dito Roosevelt, décadas atrás, quando questionado sobre o apoio a um brucutu latino-americano. O verdadeiro destinatário da delicadeza não se sabe ao certo mas o que importa é que podia ter sido qualquer ditador ou terrorista dos muitos que o realismo externo norte-americano tomou como aliados ao longo de várias décadas e de diferentes presidências.

    Armas, financiamento, formação militar, cumplicidade política mais ou menos oculta, proteção, propaganda… nada faltou aos “sons of a bitch”.

    Classificado pela OTAN como terrorista com base em informações de Kadhafi, capturado pela CIA e entregue ao regime líbio, torturado pelos serviços secretos britânicos… agora, o líder rebelde Belhadj é comandante militar de Trípoli e com o pomposo título de “aliado”.

    A assim, La Nave Va…

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