Desenvolvimento econômico só é possível com inclusão social
A QUESTÃO É TER MAIS OU SER MAIS?
Definitivamente, não é mais possível se pensar em desenvolvimento sem valorizar as pessoas, assim como também não é possível falar em crescimento de liberdades e de justiça social sabendo que um terço da humanidade permanece mergulhado na miséria. Continuar postergando a solução desse enorme e desumano problema — fome, miséria e exclusão — é procrastinar a escala evolutiva da vida; antes disso, é afrontar a capacidade de viver em equilíbrio e em harmonia.
NÃO EXISTE PROGRESSO SEM VALORIZAR AS PESSOAS
por Marcus de Oliveira *
O desenvolvimento, em suas múltiplas manifestações, não é uma questão de ter, mas, sim, de ser mais. Sábios e filósofos de todos os tempos profetizaram a esse respeito.
Gandhi argumentou que o desenvolvimento seria bom e justo somente se elevasse a condição dos mais modestos.
Em defesa de uma economia com uma face mais humana, o padre Louis Joseph Lebret pontuou que o desenvolvimento não deve ser visto apenas pelo prisma econômico (acúmulo material), mas, também pelo social, ético, político e moral.
Adam Smith, preocupado em estudar a riqueza das nações, afirmou que a verdadeira riqueza deve ser avaliada pelo padrão de vida das famílias.
Pois bem. Se entendermos ser verdadeira a premissa de que uma economia boa é aquela que “funciona”, então a economia para poder funcionar a contento e fazer jus à sua condição de ciência pertencente ao campo do humanismo, necessita, obrigatoriamente, incluir as pessoas em suas análises e “atividades”.
Cabe ressaltar que a inclusão das pessoas passa indubitavelmente por avaliar o padrão de vida das famílias. Inclusão, na acepção do termo, está associada a atingir o estado de bem-estar.
É pela inclusão das pessoas, tornando-as participativas e valorizando-as, que poderemos então, com exatidão, medir o eixo da liberdade e da melhoria de vida de cada um.
Isso implica, contudo, captar a realidade social. Dito de outra forma, deve ser o foco principal das preocupações econômicas.
Não por acaso é consenso afirmar que o crescimento econômico vem acompanhado por um florescimento das liberdades. Essa tal liberdade somente se torna plena quando incorpora em sua essência o mais importante imperativo: a justiça social.
Por sua vez, justiça social é a outra maneira de chamar uma economia que esteja incorporada à ideia central que pretende colocar o progresso a serviço dos mais pobres, dos mais humildes. Aqueles que dirigem (e participam) das economias modernas – os agentes econômicos – devem estar cientes dessa premissa.
Definitivamente, não é possível pensar em desenvolvimento sem valorizar as pessoas, assim como também não é possível falar em crescimento de liberdades e de justiça social sabendo que um terço da humanidade permanece mergulhado na miséria.
Continuar postergando a solução desse enorme e desumano problema (fome-miséria-exclusão), é procrastinar a escala evolutiva da vida; antes disso, é afrontar a capacidade de viver em equilíbrio e em harmonia.
Ora, se todo problema social exige uma solução econômica, que a Economia (ciência e atividade) esteja à altura de resolver essa ignomínia.
Conquanto, antes da ação, é necessário o consenso. Por que se afirma isso? Porque a divergência, nesse caso, apenas divide, e não permite construir o novo.
Vejamos que a barafunda e a celeuma, em termos de condução da atividade econômica, tende a se estabelecer, o que impede, sobremaneira, apontar e vislumbrar um horizonte com mais nitidez.
Em se tratando de matéria econômica é muito mais corriqueiro termos dissenso que consenso. Isso é fortemente perceptível quando os economistas colocam as lentes sobre o real significado do desenvolvimento.
Nesse pormenor, uns dizem que a melhor política de desenvolvimento seria aquela capaz de enriquecer os indivíduos. Outros, mais preocupados com a realidade social, apontam que a melhor política é aquela que desempobrece os mais necessitados.
Esses últimos estão ao lado dos que pensam ser necessário antes de qualquer outra coisa destruir os alicerces da pobreza, a fim de solidificar uma economia com capacidade de prosperar sem as manchas sociais mais tacanhas dos tempos modernos: a fome, a miséria e a exclusão social.
Esses ainda são sabedores de que uma economia vai mal e regride quando a especulação e as artimanhas do mercado financeiro se tornam mais atrativas do que a criação de novas atividades que nascem de novas ideias que estão, por sua vez, centralizadas na valorização do ser humano.
Quando o ser humano passa a ser valorizado e incluído em termos de políticas econômicas, a satisfação dos incluídos se realça em escala exponencial.
Assim, se a ideia central da economia não for pela inclusão das pessoas, a economia deixa de fazer sentido, uma vez que essa ciência nasceu para dar boas respostas sobre como melhorar a vida de cada um.
Aos economistas modernos que procuram pautar suas ações nessa linha de pensamento cabe anunciar mais um recado vindo da academia. De lá, Edmund Phelps, laureado com o Nobel, vem para dizer, alto e bom som, que “a boa economia é a que satisfaz a aspiração a uma vida boa”.
Alguém quer aspiração melhor a uma vida boa do que se sentir e estar incluído?
Portanto, se os economistas têm uma “função” bem definida na sociedade essa é, certamente, a de se envolver no processo de transformação econômica e social. A economia e os economistas modernos precisam, em termos de análises e ações, alcançarem os objetivos sociais.
É precioso pontuar, de uma vez por todas, que só haverá inclusão plena quando as ações econômicas envolverem a urgente transformação. Do jeito que está não é possível pensar em desenvolvimento sem valorizar as pessoas.
Sem inclusão, definitivamente, não há progresso!
– – –
* Marcus de Oliveira, no Zwela Angola, é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO.