Diálogo sensível e comovente entre mãe e filha ao telefone
O diálogo que vem a seguir pode ser encontrado com facilidade em vários sites de piadas ou na categoria “humor” de muitos blogs. E é inacreditável que seja assim.
Não dá para imaginar o motivo porque, com nitidez, o autor procurou imprimir ao texto um conjunto de conteúdos altamente poéticos e carregados de sentimentos filial e materno.
Daí, fica evidente outra façanha — involuntária — do escritor: mesmo sem esta intenção ele conseguiu revelar o enorme vácuo existente no centro da caixa toráxica e também entre as orelhas dos editores que enquadraram o comovente diálogo na seção comédia de seus sites e blogs.
Confira se eu não tenho razão:
MÃE É MÃE
Dez horas da manhã, toca o telefone. Aquela sorridente senhora atende e ouve do outro lado da linha:
— Mamãe?
— Que foi, minha filha?
— Mamãe, aconteceu algo terrível… Minha casa está uma bagunça, tenho que ir buscar as crianças na escola, fazer o almoço, preciso levar o Pedrinho na natação, estou com 38 graus de febre e o Marco acabou de me ligar que vai trazer três amigos para o jantar. Mamãe, você precisa me ajudar, por favor!
— Fica calma, minha filha! Eu vou já pra aí. No caminho pego as crianças na escola, faço o almoço, depois levo o Pedrinho na natação, dou uma ajeitada na casa e, em seguida, preparo uma lasanha para o jantar. Enquanto isso, você toma um comprimido e vai para a cama, descansar.
— Oh, mamãe! Você é a melhor mãe do mundo, sabia? Te amo!
— Obrigada, minha linda! Também te amo! Daqui a pouco estarei aí!
— Tá certo, e não se esquece de mandar um beijo para o papai.
— Papai? Mas filha, o seu pai morreu quando você ainda era uma garotinha.
— Pera um pouco… aí não é 7633-0856?
— Nããão. Aqui é do 7633-0865!
— Então, quer dizer que a senhora não vem…?!
O texto foi extraído de A Garganta da Serpente e consta como parte de uma crônica de Artur da Távola.
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