Enxada reciclada promove inovação tecnológica na lavoura
OS INVENTORES NA AGRICULTURA FAMILIAR
“Teu diploma e anel de doutor, quem te deu foi o fio da enxada; se pra mim hoje aqui falta tudo, foi pra não te deixar faltar nada” — pai falando ao filho, em moda de viola da dupla sertaneja Valderi e Mizael.
Quem vive nos centros urbanos raramente presta atenção neste instrumento de metal, com pelo menos 3.200 anos, presente na construção dos nossos apartamentos, nos serviços de limpeza pública e nos alimentos que ingerimos. Quando muito, ao serem expostos como “telas” em trabalhos artesanais.
O que poucos sabem é que uma boa enxada e outros pequenos artefatos agrícolas podem contribuir para evitar parte do êxodo rural, garantindo condições de trabalho e a permanência do pequeno lavrador em sua terra.
Por este motivo, o Instituto Nacional do Semiárido (Insa) começou o cadastramento de ferreiros e marceneiros que tenham desenvolvido estratégias inovadoras para enfrentar os impactos da estiagem numa área de quase 1 milhão de km², compreendendo 1.133 municípios de nove estados do Brasil.
O órgão, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, está mapeando tecnologias sociais que possam ser disseminadas e usadas por outras famílias.
Uma das iniciativas catalogadas é do ferreiro Rogério Araújo, do município de Caturité (PB). Por meio da reciclagem de peças danificadas de tratores, como o disco de grade dos arados, ele constrói enxadões de grande resistência mecânica.
O artefato tem baixo custo, cerca de R$ 20, e vida útil mais longa do que a enxada tradicional. A ferramenta (na imagem a seguir) foi desenvolvida há cinco anos e, desde então, faz tanto sucesso que, com frequência, recebe encomendas de agricultores da região.
Pelo cronograma, na primeira fase do programa, este ano, serão observadas práticas de 900 famílias de agricultores familiares, assentados da reforma agrária e comunidades tradicionais, em nove estados — Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Paraíba, Alagoas e Minas Gerais.
No ano que vem, durante a segunda etapa, serão selecionados os exemplos com maior impacto e caráter inovador e que podem ser multiplicados com mais facilidade pelas famílias do Semiárido.
Com o apoio de centros de pesquisa e universidades, serão feitos estudos de caso para avaliar os impactos científicos e sociais das estratégias.
Por fim, em 2015, com base nos resultados apurados que vão compor um banco de dados, serão formuladas sugestões de políticas públicas e de ações para outros institutos e organizações sociais que atuam na região.
O Insa também pretende divulgar cartilhas e fichas técnicas para facilitar o acesso das famílias aos resultados do projeto. Contatos por telefone, no número (83) 3315-6451 ou (83) 3315-6452, ou pelo e-mail [email protected].