Indígenas e pessoas com estudo têm intuição igual para a geometria

Desenhos geométricos coloridos

No século XVIII o filósofo Immanuel Kant (1724-1804) propôs que o entendimento da geometria nos humanos é fruto de uma intuição inata, e não consequência das salas de aula. Duzentos anos mais tarde, uma pesquisa feita com uma tribo amazônica confirma esta hipótese. Talvez não precisasse tanto. Bastava observar as pinturas corporais, adereços, cestaria e cerâmicas — enfim, o riquíssimo artesanato dos indígenas brasileiros, que raras pessoas com estudo formal conseguem reproduzir.

APRENDIZADO DE GEOMETRIA É INTUITIVO

Pesquisadores franceses e ingleses testaram o entendimento de geometria de membros da tribo Munduruku, na Amazônia, e descobriram que ele é basicamente o mesmo de pessoas que estudaram o tema na escola.

Embora fossem simpáticos à proposta de uma “intuição inata da geometria do espaço”, os estudiosos ficaram surpresos com a “robustez das intuições espaciais” dos integrantes da tribo Munduruku. As conclusões foram publicadas hoje (23) no períodico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

No trabalho, eles verificaram essa intuição de crianças e adultos da tribo em relação a pontos, linhas e superfícies e compararam com a de adultos e crianças americanos e franceses que estudaram matemática. Os resultados foram muito semelhantes entre os dois grupos.

Curiosamente as crianças dos Estados Unidos e da França que ainda não haviam começado o estudo da geometria se saíram pior nos testes intuitivos do que os indígenas brasileiros da mesma idade.

Cestaria indígena brasileira

Segundo Véronique Izard, uma das autoras do artigo, da Ecóle Politecnique, na França, para reconciliar estes dois resultados foram sugeridas duas hipóteses.

Primeiro, a geometria é inata, mas se desenvolve a partir de uma certa idade, perto dos 7 anos (como a barba no homem que é inata, porém surge apenas durante a puberdade).

Ou, então, a geometria é aprendida, mas neste caso precisa ser adquirida com base em uma experiência espacial que é muito geral e compartilhada entre a tribo Munduruku e os participantes na França e nos Estados Unidos.

“Talvez esta capacidade seja fruto da experiência que advém da forma como nosso corpo se move no espaço”, explicou Véronique

O próximo passo dos pesquisadores será verificar se há diferenças no entendimento da geometria entre os Munduruku. “Queremos ver se os que vivem em vilas isoladas e os que estão em áreas com construções entendem geometria de forma diferente”, completou.

Simultaneamente é desenvolvida uma pesquisa com crianças de 5 a 6 anos — sem estudo formal de geometria ainda — da França e dos Estados Unidos. Os  pesquisadores pretendem compreender como elas adquirem, nos primeiros anos de vida, o conceito de geometria euclidiana sobre planos ou objetos em três dimensões.

Fonte

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *