Jogos de Xadrez e Pôquer lutam para participar das Olimpíadas

Pôquer nos Jogos Olímpicos

UMA QUESTÃO DE TEMPO

Durante a realização dos XXX Jogos Olímpicos — Londres 2012, a grande mídia se mobilizou nas arenas britânicas para a cobertura das competições entre super atletas nas modalidades esportivas de alto rendimento físico. No Brasil, foi a TV aberta quem bateu recordes de tempo de transmissão, volume de audiência e faturamento com anúncios comerciais.

A exposição de medalhas reluzentes ao lado de famosas logomarcas no peito dos vencedores das disputas foi tanto maior quanto mais poderosos eram os patrocinadores dos calçados, acessórios, uniformes, agasalhos e equipamentos de competição em geral. Afinal — e acima de tudo –, os Jogos são puro business.

Só que, paralelamente às Olimpíadas, o Reino Unido também sediou de forma discreta os Jogos Mundiais dos Esportes da Mente. Eles aconteceram não nas ruidosas quadras de ginásios poli-esportivos ou campos e pistas de grandes estádios, mas em torno de silenciosos tabuleiros e pequenas mesas recobertas de pano verde, transformadas em cenários de batalhas memoráveis.

Foi ali, distante do burburinho das arquibancadas plebeias, que reis, rainhas, cavaleiros e damas, representados por peças brancas e pretas de madeira ou cartas de ouros e espadas, se enfrentaram sob o comando dos cérebros mais brilhantes do planeta, pelo menos em matéria de inteligência, habilidade e estratégia, entre outras competências.

As grandes estrelas dos chamados Mind Sports, naturalmente, são aquelas oriundas do xadrez e do pôquer, as duas modalidades mais importantes do evento, secundados pelo bridge, damas e o baduk.

O SONHADO STATUS OLÍMPICO

Tanto um quanto outro são considerados os mais nobres jogos em suas categorias e se encontram entre os mais praticados no mundo: o xadrez como o mais importante deles sobre o tabuleiro e o pôquer entre os jogos de cartas. Nenhum outro é capaz de manter tantos adeptos de todas as idades quanto o enxadrismo e o carteado.

Não é por outro motivo que a Federação Internacional de Xadrez tanto se empenhou para obter junto ao COI o seu reconhecimento como esporte com status olímpico. E a galera do pôquer segue agora pelo mesmo caminho.

Sim, esportes! Estudos revelam que nos grandes embates de nível internacional a capacidade física geral dos jogadores, a excitação mental e os parâmetros circulatórios durante a competicão, são completamente comparáveis às de outros esportistas como de atividades atléticas leves.

Mais ainda: por estes critérios seriam mesmo até bastante superiores às reações orgânicas dos praticantes de Tiro com Arco (e flecha) e Tiro Esportivo (com pistola de ar comprimido), apenas para citar alguns. Então, certamente o xadrez e o pôquer também podem ser considerados esportes.

HAJA CORAÇÃO!

Todo jogo para ser classificado como tal deve confrontar no mínimo dois oponentes individuais ou equipes em campos opostos com o objetivo de derrotar o adversário. Sendo assim, o xadrez e o pôquer podem ser considerados esportes porque nas competições os jogadores medem suas forças e ganha quem joga melhor.

Para uma pessoa que vê o enxadrismo ou o carteado como passatempos lúdicos, pode-se dizer que são apenas simples jogos. Mas para quem os encara com mais seriedade, no mínimo são esportes onde, na definição de Goethe, se pratica a ginástica na inteligência.

Hoje, os especialistas em Educação Física destacam que se tratam de esportes muito amplos, pois o cérebro “trabalha” em regime integral o tempo todo e assim abrem outras áreas de programação mental do raciocínio, ampliando as conexões interneurais. O que pouca gente conhece é a íntima relação entre o grau de desempenho cardiovascular e a performance competitiva nestes esportes, porque todos imaginam que ele exige apenas do cérebro.

Xadrez nos Jogos Olímpicos

De fato, jogar xadrez e pôquer profissionalmente exige um preparo físico intenso. Para um bom desempenho nos tabuleiros e no pano verde os jogadores devem buscar de maneira sistemática realizar atividades cardiovasculares tais como caminhar ou correr, pois ampliarão as possibilidades de oxigenação cerebral.

Afinal, empenha-se ao limite a capacidade do cérebro, que é o órgão do corpo humano que apresenta a maior taxa de consumo de carboidratos e oxigênio (em segundo lugar vem o coração). Assim, não só jogar xadrez e pôquer, como também realizar qualquer atividade intelectual intensa resulta num gasto de calorias tão grande quanto realizar atividades físicas.

O famoso campeão de xadrez Garry Kasparov tem que se envolver num expressivo treinamento cardiovascular e muscular localizado para manter a sua forma e continuar altamente competitivo.

Segundo ele, “o xadrez é o mais violento dos esportes. Como numa guerra, o objetivo é minar o inimigo psicologicamente para trucidá-lo no tabuleiro. Nessa batalha tem mais chances de vencer quem consegue despejar mais energia e manter mais concentração na partida”. O mesmo pode-se considerar sobre o pôquer.

A DURA MARATONA BUROCRÁTICA

Apesar de não estar incluído no programa olímpico, um esporte pode ser “reconhecido” pelo comitê organizador das Olimpíadas. Trata-se de um passo anterior à sua inclusão no programa.

Para tanto, a federação internacional do esporte em questão deve existir há, no mínimo, dois anos, além de provar para o Movimento Olímpico que o esporte possui um estatuto e um caráter olímpico.

Como regra geral, um esporte é considerado olímpico se ele é praticado por homens em, pelo menos, 75 países e quatro continentes e, no caso das mulheres, no mínimo em 40 países e três continentes.

A fim de evitar um número gigantesco de esportes e, consequentemente de atletas, inviabilizando assim, a organização dos Jogos, o COI definiu que um esporte só entra se outro sair. Novamente essa decisão política de quem entra ou sai é realizada pelo COI, que analisa cada modalidade.

De qualquer maneira, nenhum esporte é incluído no programa no ano de realização dos Jogos. O esporte deve ser admitido no programa com 7 anos de antecedência dos Jogos em questão.

Na atualidade o COI reconhece mais de 350 modalidades como esporte, mas menos de 50 entram no Programa Oficial das Olimpíadas que assistimos pela TV. Entre as razões estão os interesses econômicos envolvidos nos Jogos, orçados em bilhões de dólares e que acabam por contemplar modalidades mais hegemônicas e atrativas ao capital.

OS ÍDOLOS DO ESPETÁCULO TELEVISIVO

Outro caminho tem sido a adaptação da modalidade esportiva aos moldes de transmissão da mídia, como bem fez o vôlei para oxigenar seu status no mundo todo, da mesma forma como ocorreu anteriormente com o basquete.

Xadrez gigante, relâmpago, dinâmico, com aparelhos sofisticados e softwares caríssimos podem alavancar e pavimentar a entrada do enxadrismo em eventos futuros e tornar mais palatável sua divulgação na grande mídia.

Nos EUA, canais de TV especializados em partidas de pôquer dominam engenhosas técnicas com inúmeras microcâmeras para permitir ao público a visualização antecipada das cartas e os movimentos dos jogadores. Dessa maneira, o telespectador se sente virtualmente no centro da disputa.

Enfim, não chega a ser nenhum absurdo imaginar que num futuro não muito remoto seja dada aos aficcionados a oportunidade de assistir aos xeque-mates de nomes como os russos Garry Kasparov e Alexandra “Sasha” Kosteniuk, além da húngara Judit Pólgar, ou aos blefes do lendário norte-americano Doyle Brunson, da britânica Victoria Cohen e do chinês Johnny Chan.

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