Nosso cérebro é quem manda nos assuntos do coração
A QUÍMICA DO AMOR
Qual é o papel que os neuroquímicos e circuitos cerebrais jogam no amor e nos relacionamentos? A ciência sugere que, embora seja normal que a paixão existente no início de um romance definhe, é também possível que o amor profundo persista e se torne duradouro. Mas a decisão é tomada pelo cérebro, não pelo ‘coração’.
CÉREBRO COMANDA AMOR E PAIXÃO
por Carolyn Butler *
O que realmente nos atrai mais para um parceiro do que para outro? É sexo? Romance de conto de fadas? Destino? Ou estamos meramente à mercê de nossos hormônios e circuitos cerebrais?
Os sites de promoção de encontros online alardeiam sua bossa para identificar a “química”, mas a verdade é que a biologia básica pode jogar um papel pelo menos tão forte no amor quanto socialização, ambiente, destino e outros fatores.
“Gostamos de nos sentir independentes e livres dos sistemas cerebrais que regulam os hábitos e regimes de acasalamento de animais, mas o fato é que não somos”, disse o neuroendocrinologista Tom Sherman, professor adjunto na Escola de Medicina da Universidade de Georgetown.
“Estudos recentes indicam que alguns de nossos comportamentos mais complexos – como amor, corte e acasalamento – são regulados, em certa medida, por um conjunto bastante simples de neuroquímicos”.
INTERAÇÃO DE SISTEMAS CEREBRAIS
Pesquisadores identificaram agora três sistemas cerebrais que atuam no acasalamento e na reprodução:
1º – O primeiro é o desejo sexual, mediado principalmente pelo hormônio sexual testosterona;
2º – O segundo é o amor romântico – mediado principalmente pela dopamina, um neurotransmissor que aciona os centros de prazer e recompensa do cérebro –, que se caracteriza pelo desejo e foco em só uma pessoa de cada vez;
3º – E, por fim, o apego, mediado pelos hormônios oxitocina e vasopressina, que está associado à ligação e à segurança que, com frequência, se sente com um parceiro de longa data.
Esses sistemas variam de pessoa para pessoa e podem funcionar juntos ou em toda sorte de combinações, diz a pesquisadora Helen Fisher, antropóloga biológica da Universidade Rutgers e autora do livro Por que Amamos.
“É por isso que podemos sentir um profundo apego por uma pessoa, passar para um amor romântico alucinado por outra, e depois entrar na internet para olhar pornografia e sentir um impulso sexual que não tem nada a ver com nenhum daqueles”, diz Helen.
“Pode-se olhar por cima da mesa e sentir tudo isso pela mesma pessoa, que é o queremos no Dia dos Namorados”.
Ela acrescenta que a interação desses sistemas cerebrais, junto com o neurotransmissor serotonina, provoca as variações de temperamento que ajudam a explicar por que entramos numa sala abarrotada de gente e nos apaixonamos loucamente por uma pessoa e não por outra.
Entretanto, resta ver o tamanho do papel que os neuroquímicos e circuitos cerebrais jogam no amor e nos relacionamentos.
Os pesquisadores sugerem que, embora seja normal que a paixão existente no início de um romance definhe, é também possível que o amor profundo persista.
RECOMPENSA
Um estudo publicado em 2011 no Social Cognitive and Affective Neuroscience revelou que casais que estavam casados por uma média de 20 anos e ainda se amavam intensamente exibiam a mesma atividade cerebral, mesmo no sistema de recompensa rico em dopamina, que os que acabaram de se apaixonar.
Mas também havia uma diferença importante: só os que estavam nos primeiros estágios do romance exibiam atividade em uma região do cérebro associada à ansiedade, ao passo que casais de longa data mostraram atividade cerebral ligada à calma.
“Isso faz sentido. Uma pessoa quando acaba de se apaixonar fica muito ansiosa: será que ele vai telefonar? Estarei gorda demais? Por que foi que eu disse aquilo? Mas quando a pessoa está amando outra com quem teve filhos e está casada há 20 anos, ela não fica ansiosa, mas ainda pode voltar do trabalho para casa, compartilhar a noite, fazer amor e conviver com a outra”, afirma Helen, coautora do trabalho.
“De modo que o amor pode mesmo ser duradouro, e descobrimos isso no cérebro”.
* No The Wahington Post, via Estadão