Novos modelos para o sucesso e a felicidade da atual geração
COLHA O DIA E APROVEITE BEM O SEU MOMENTO
O texto a seguir resume um pouco a história dos editores do MIncBlog que, por opção, largaram a segurança de seus empregos e carreiras para empreender e arriscar a realização pessoal e profissional.
Um, jornalista, abandonou a estabilidade do serviço público federal, na assessoria de comunicação social de importante estatal, e o outro, engenheiro, se demitiu da área tecnológica de uma multinacional.
Tornaram conhecida a empresa de metalurgia artística da qual são sócios pela qualidade dos produtos, atendimento personalizado e alta visibilidade do site Matéria Incógnita em hospedagem própria.
Na busca de três décadas por sonhos, enfrentaram as turbulências das políticas econômicas, sem nunca deixar de combater o bom combate. Não há retorno. Às vezes dá medo, mas vai com medo mesmo!
A GERAÇÃO QUE ENCONTROU O SUCESSO NO PEDIDO DE DEMISSÃO
Por Ruth Manus *
O cenário é mais ou menos esse:
. amigo formado em comércio exterior resolve largar tudo para trabalhar num hostel em Morro de São Paulo;
. amigo com cargo fantástico em empresa multinacional decide pedir as contas porque descobriu que só quer fazer hamburger;
. amiga advogada joga escritório, carrão e namoro longo pro alto para voltar a ser estudante, solteira e andar de metrô fora do Brasil;
. e amiga executiva de um grande grupo de empresas fica radiante por ser mandada embora dizendo “finalmente vou aprender a surfar”.
Você pode me dizer “ah, mas quero ver quanto tempo eles vão aguentar sem ganhar bem, sem pedir dinheiro para os pais”.
Nada disso. A onda é outra.
Venderam o carro, dividem apartamento com mais 3 amigos, abriram mão dos luxos, não ligam de viver com dinheiro contadinho.
O que eles não podiam mais aguentar era a infelicidade.
Engraçado pensar que o modelo de sucesso da geração dos nossos avós era uma família bem estruturada. Um bom casamento, filhos bem criados, comida na mesa, lençóis limpinhos.
Ainda não havia tanta guerra de ego no trabalho, tantas metas inatingíveis de dinheiro. Pessoa bem sucedida era aquela que tinha uma família que deu certo.
E assim nossos avós criaram os nossos pais: esperando que eles cumprissem essa grande meta de sucesso, que era formar uma família sólida.
E claro, deu tudo errado.
Nossos pais são a geração do divórcio, das famílias reconstruídas – que são lindas, como a minha, mas que não são nada do que nossos avós esperavam.
O modelo de sucesso dos nossos avós não coube na vida dos nossos pais. E todo mundo ficou frustrado.
Então nossos pais encontraram outro modelo de sucesso: a carreira.
Trabalharam duro, estudaram, abriram negócios, prestaram concurso, suaram a camisa. Nos deram o melhor que puderam.
Consideram-se mais ou menos bem sucedidos por isso: há uma carreira sólida? Há imóveis quitados? Há aplicações no banco? Há reconhecimento no meio de trabalho?
Pessoa bem sucedida é aquela que deu certo na carreira.
E assim nossos pais nos criaram: nos dando todos os instrumentos para a nossa formação, para garantir que alcancemos o sucesso profissional.
Nos ensinaram a estudar, investir, planejar. Deram todas as ferramentas de estudo e nós obedecemos. Estudamos, passamos nos processos seletivos, ocupamos cargos.
Mas, e agora? O que está acontecendo?
Uma crise nervosa.
Executivos que acham que seriam mais felizes se fossem tenistas. Tenistas que acham que seriam mais felizes se fossem bartenders. Bartenders que acham que seriam mais felizes se fossem professores de futevolei.
Percebemos que o sucesso profissional não nos garante a sensação de missão cumprida.
Nem sabemos se queremos sentir que a missão está cumprida. Nem sabemos qual é a missão. Nem sabemos se temos uma missão.
Afinal, quem somos nós?
Nós valorizamos o amor e a família. Mas já estamos tranquilos quanto a isso. Se casar tudo bem, se separar tudo bem, se decidir não ter filhos tudo bem. O que importa é ser feliz.
Nossos pais já quebraram essa para a gente, já romperam com essa imposição. Será que agora nós temos que romper com a imposição da carreira?
Não está na hora de aceitarmos que, se alguém quiser ser CEO de multinacional tudo bem, se quiser ter um barzinho tudo bem, se quiser ser professor de matemática tudo bem, se quiser ser um eterno estudante tudo bem, se quiser fazer brigadeiro para festas tudo bem?
Qual o modelo de sucesso da nossa geração?
Será que vamos continuar nos iludindo achando que nossa geração também consegue medir sucesso por conta bancária? Ou o sucesso, para nós, está naquela pessoa de rosto corado e de escolhas felizes?
Será que sucesso é ter dinheiro sobrando e tempo faltando ou dinheiro curto e cerveja gelada? Apartamento fantástico e colesterol alto ou casinha alugada e horta na janela?
Sucesso é filho voltando de transporte escolar da melhor escola da cidade ou é filho que você busca na escolinha do bairro e pára para tomar picolé de uva com ele na padaria?
Parece que precisamos aceitar que nosso modelo de sucesso é outro. Talvez uma geração carpe diem. Uma geração de hippies urbanos.
Caso contrário não teríamos tanta inveja oculta dos amigos loucos que “jogaram diploma e carreira no lixo”.
Talvez – mera hipótese – os loucos sejamos nós, que jogamos tanto tempo, tanta saúde e tanta vida, todo santo dia, no lata de lixo.
RUTH MANUS é advogada e professora universitária. Lê Drummond, ouve pagode, ama chuchu com bacon e salas de embarque. Dá risada falando de coisa séria. Não perde um XV de Piracicaba contra Penapolense por nada. Sofre de incontinência verbal, tem medo de vaca e de olheiras, que nem todo mundo.