Novos ricos pagam até R$ 320 mil anuais por autêntico mordomo
MIMOS DE EMERGENTES
Esgotadas as trivialidades que o dinheiro pode comprar, ter um mordomo trabalhando em casa significa o símbolo definitivo de status para um novo rico que se preze ostentar em sua lista de mimos.
Não é por outro motivo que estes profissionais encontram na atualidade um mercado em franco crescimento nos países emergentes depois do risco de extinção na Inglaterra, onde ficaram famosos pela elegância e distinção.
Na Rússia e na China, por exemplo, oferecer bons serviços não é suficiente — o diferencial é falar inglês com sotaque da terra da rainha. No Brasil, surgem oportunidades para uma versão mais tropicalizada.
De acordo com a Associação Internacional de Mordomos Profissionais, em 1930, havia cerca de 30 mil profissionais. De lá para cá, o número vinha caindo.
Nos anos 1980 os discretos serviçais que sabiam dos segredos mais íntimos da aristocracia não somavam muito mais que cem. Mas os novos ricos fizeram a antiga função ganhar espaço nas alcovas emergentes. Inclusive na própria Inglaterra.
O presidente da associação, Robert Wennekes, diz que somente no Reino Unido existem 10 mil mordomos hoje, sendo 25% deles mulheres. “A profissão de mordomo está indo muito bem. Países como Rússia e China brigam para conseguir os melhores”, conta.
Bertold Wiesner, um jovem de 33 anos, concorda. Após tentar a sorte no teatro, ele optou pela profissão de mordomo que lhe permite ganhar um salário de mais de US$ 160 mil por ano, o equivalente a mais de R$ 320 mil.
Mas em outros países, como a China, os rendimentos podem ser ainda melhores. “Ouvi dizer que nos países árabes, pagam três, quatro, ou até dez vezes mais”, garante.
Ele conta que as duas ocupações têm muito em comum: “Você tem que vestir uma máscara metafórica e este é o melhor papel da sua vida, porque você o interpreta 24 horas por dia, 365 dias ao ano”.
Wiesner lembra que teve que “atuar” para esconder o seu orgulho nacionalista e mostrar um rosto afável, quando ouviu o seu patrão criticar na frente dele a cerimônia dos Jogos Olímpicos de Londres 2012.
E é exatamente esta habilidade de controlar as emoções que faz os mordomos britânicos tão populares.
TRABALHO DURO
O mordomo moderno tem diferentes papéis e precisa estar apto para atuar como gerente da casa, assistente pessoal, secretário, chefe de cozinha, guarda-costas e motorista.
Em geral, o dia do mordomo começa com a tarefa de garantir pão fresco e jornais, preparar o café da manhã e vestir o patrão.
No meio da tarde, servir chá e torta a convidados, para em seguida, organizar conferências telefônicas e fazer anotações se o chefe assim o requerer.
No fim do dia, ainda é preciso encontrar tempo para passear com os cachorros e limpar a chaminé.
Desempenhar diversas funções em um curto espaço de tempo e gostar de receber ordens são habilidades fundamentais nesta profissão.
Wiesner conta que a recompensa é grande, como ganhar bons salários e viver de graça em uma mansão com piscina, sauna e outros luxos.
Para Sara Vestin, diretora da agência de empregos Bespoke Bureau, “é o sotaque empolado — o inglês da rainha — a etiqueta, o status de mordomo britânico e o seu estilo que tem levado tantos estrangeiros a contratá-los”.
Ela assinala que a procura supera a oferta e, por esta razão, a agência abriu seis escolas de mordomos na China em 2012.
O jovem mordomo Wiesner planeja no futuro criar a sua própria escola de mordomos e dá a sua primeira lição sobre o trabalho: “Seja discreto, entenda, dê ajuda e assistência, mas nunca seja amigo dos patrões”, ensina.
Uma boa pesquisa de mercado pode apontar o caminho das pedras para quem queira se especializar no atendimento personalizado aos ascendentes, alpinistas sociais, novos e velhos ricos também aqui no Brasil emergente.
Com F5