O canto melodioso, estridente e polêmico da sabiá-laranjeira
IMPLACÁVEL TENOR DA NOSSA MADRUGADA
“Será abençoada com amor, felicidade e paz a criança que ouvir o canto de uma sabiá-laranjeira durante as madrugadas, no início da primavera”, garante uma antiga lenda indígena.
Isso lá na floresta porque, na selva urbana, a história é bem outra: tem gente se revirando na cama com a sinfonia que chega a durar duas horas seguidas antes mesmo de clarear o dia.
A tal ponto que o poderoso canto da sabiá (75 decibéis, quase o ruído do tráfego de veículos) ecoou ao longo da semana em intensos debates entre os internautas nas redes sociais.
A favor ou contra, o fato é que nós somos os invasores do habitat natural da Turdus rufiventris, reconhecida como ave-símbolo do estado de São Paulo, e também do Brasil por decreto federal.
Polêmica ou não, ainda é uma paixão nacional: no Amazonas, ele é caraxué; na Bahia, sabiá-coca; sabiá-laranja no Rio Grande do Sul e ainda sabiá-de-barriga-vermelha, sabiá-ponga e sabiá-piranga em outras regiões.
QUEM É ESSE ‘DESPERTADOR’?
Foi citada por diversos poetas (entre eles Gonçalves Dias, na sua “Canção do Exílio”) como um pássaro que canta “o amor e a primavera” e esteve presente no emblema oficial da recente Copa das Confederações de 2013.
Além do Brasil, a sabiá-laranjeira também é nativa da Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Ocorre numa ampla área que se estende nordeste do Brasil até o sul da Bolívia e norte-leste da Argentina.
Esta espécie de sabiá (do tupi haabi’á) tem a plumagem parda, com exceção da região do ventre, destacada pela cor vermelho-ferrugem, levemente alaranjada, e bico amarelo-escuro.
As patas são cinzas, o olho negro circundado finamente de amarelo e a garganta é esbranquiçada rajada de marrom, o peito é cinza-pardo, que vai mudando para um alaranjado opaco no ventre.
Mede cerca de 25 centímetros de comprimento e pesa, o macho 68 gramas, a fêmea 78 gramas. A espécie apresenta por vezes colorações aberrantes (leucismo, albinismo e flavismo), que podem estar ligadas a alterações no seu ambiente ou mutações genéticas.
O poderoso canto, que ocorre no alvorecer (madrugada) e à tarde, tem a função de demarcar território e, no caso dos machos, para atrair a fêmea. A fêmea também canta, mas numa frequência bem menor que o macho.
O canto da sabiá-laranjeira que, em geral, parece com o som de uma flauta doce, é parcialmente aprendido, havendo linhagens geográficas de tipos de canto: em outras palavras, nenhum pássaro da espécie canta exatamente como o outro.
Habita originalmente florestas abertas e beiras de campos, mas por ser uma espécie bastante adaptável também é encontrada nas áreas de lavoura e cidades.
Sua alimentação inclui basicamente artrópodes, larvas, minhocas e frutas maduras. Também fazem parte da sua dieta sapos e rãs que acabaram de deixar a fase de girino.
VOU VOLTAR, SEI QUE AINDA VOU…
Macho e fêmea constroem o ninho juntos utilizando gravetos, fibras vegetais e barro. A fêmea põe de 3 a 4 ovos que eclodirão após treze dias de choco, recebendo atenção de ambos os pais.
Em três semanas os filhotes podem deixar o ninho. Cada fêmea choca três vezes por ano e pode gerar até 6 filhotes por temporada. A sabiá-laranjeira pode viver até dez anos na natureza.
A população da Turdus rufiventris é considerada estável embora não quantificada, sendo descrita como uma ave comum.
Por esta razão a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, em inglês) a classificou como espécie em condição pouco preocupante.
Ou seja, nas próximas viradas do inverno para a primavera prepare os tímpanos com um pouco mais de bom humor, relaxe e aproveite… ou se conforme.
Com O Eco – e clique nas duas primeiras imagens para ampliar.
Será possível um Sabia-laranjeira reconhecer o humano que coloca comida pra ele? Fazem três dias seguidos que um Sabiá bate na minha janela logo de manhã. Tenho a impressão que pede para eu colocar comida. Eu tenho esse costume de colocar frutas para eles logo que acordo, mas será mera coincidência ele bater na janela?
Não tenho a menor dúvida, Glauce, ainda mais nesta época do ano (inverno) em que há escassez de nutrientes, como insetos, p/ex. O bichinho já se condicionou com o seu hábito. O pessoal acha que as aves são insensíveis. Errado: já vi uma sabiá de gaiola que adorava um cafuné na cabeça antes de pegar no sono.