Para que serve um jornalista esportivo, além de repetir o óbvio?
O PROVOCADOR
Marco Antonio Araujo é autor de um dos melhores blogs do portal R7, o Provocador, onde não livra a cara de nenhum famoso ao mostrar, com humilhantes toques de letra, que a mediocridade anda mais grudada neles do que, do alto da sua egolatria, possam sequer suspeitar ou, pior, suportar.
JORNALISMO ESPORTIVO NÃO FAZ MAL A NINGUÉM
Ser jornalista é uma profissão ingrata. Cada dia mais difícil. E dentro dela há o último degrau de uma escada sempre em decadência: o jornalismo esportivo.
Pare para pensar. Um repórter é aquele ser que escolheu dedicar sua vida a narrar fatos, sempre em busca da verdade. Para não irmos muito longe, o que isso tem a ver com futebol, por exemplo? Nada, evidentemente.
O que é verdadeiro num jogo de bola? O placar final, com certeza. Empatou, ganhou, perdeu.
Em um esforço de reportagem, bastaria dizer quais jogadores participaram da peleja, quem fez gol ou levou cartão, o estádio em que tudo aconteceu, as tabelas e gráficos, coisinhas do tipo.
Eventos dessa natureza, convenhamos, se tornam importantes muito mais pelo que têm de simbólico e apaixonante do que pelo que carregam de objetividade. Se tirássemos o que há de subjetivo, opinativo e delirante, restaria apenas a súmula do juiz.
Não é assim que funciona. Dezenas de profissionais são mobilizadas para cobrir um evento esportivo. Fundamentais são os que exercem funções técnicas e auxiliares. Os câmeras, principalmente. Esses caras são muito bacanas.
O restante, todos sabemos, costuma se dividir em repórteres de campo, locutores e comentaristas. São eles que comandam o show. É com eles que está a verdade final. São pagos pra isso. E se levam muito a sério.
Esse é o problema. Os jornalistas esportivos não são importantes. Nenhum deles é genial. São o que há de mais previsível. Pra valer, quase todos são é chatos. Dispensáveis. Fofoqueiros. Maledicentes. Iletrados.
Por alguma magia cósmica, há trabalho para eles. Poderiam ser motoristas de táxi, porteiros, balconistas, qualquer outra profissão falante e digna. Mas não. Vivem como se estivessem presos no sofá da sala, remunerados para ir à sacada do apartamento gritar gol.
Ou tirar sarro do colega flamenguista do escritório. Ou blefar qual vai ser a próxima contratação do Barcelona. Ou parecer físico nuclear na hora de explicar o esquema tático da seleção. Tédio.
O jornalista esportivo é remunerado para repetir chavões, fazer sempre as mesmas perguntas e tirar conclusões óbvias. Talvez por isso não incomodem ninguém.
Com exceção do Neto, Milton Neves, Tiago Leifert, Juca Kfouri e Galvão Bueno. Esqueci alguém?
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* Marco Antonio Araujo, é jornalista desde 1987, quando escreveu crítica de teatro para o extinto jornal A Voz da Unidade, do PCB. Ajudou a fechar outro veículo, A Gazeta Esportiva, onde foi diretor de redação. Para compensar, criou as revistas Educação, Língua Portuguesa, Fera! e Ensino Superior. Foi professor e coordenador de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero de 1992 a 2002, período em que o curso foi considerado o melhor do país. Levou um processo por isso. Fez assessoria de imprensa para políticos honestos e de caráter, como se fosse possível. Assinou a coluna “Macho”, da Revista da Folha (jornal Folha de S.Paulo). Mesmo assim, continua heterossexual. É socialista, torcedor do Santos e ateu, o que, convenhamos, não ajuda em nada.
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