Pele artificial se cicatriza até meia hora depois de ser cortada
REVESTIMENTO DE PRÓTESES ROBOTIZADAS
Por Marcos Eduardo Machado *
Um salto tecnológico fantástico acaba de ser dado pela ciência na produção de um novo tipo de pele artificial capaz de se cicatrizar em apenas 30 minutos.
Depois de cortada com uma lâmina, a pele sintética recupera 75% de sua resistência e de sua condutividade elétrica originais em 15 segundos, para voltar ao estado original em meia hora.
Tudo começou quando a equipe da Dra. Zhenan Bao, da Universidade de Stanford, criou uma pele artificial com sensibilidade superior à da pele humana.
Depois, há cerca de um ano, o material já havia progredido para uma pele artificial super flexível e transparente.
Agora, a pele sintética não apenas é flexível e sensível, como também pode curar-se de um ferimento em poucos minutos.
TESTES COM ROBÔS
É claro que ainda não se trata de uma “pele artificial” no sentido médico do termo — por enquanto ela não tem os atributos necessários para um implante em um paciente humano.
Mas o material sintético já alcançou propriedades tão surpreendentes que inicialmente poderá ser testado como pele de robôs, no revestimento de próteses robotizadas, ou como sensor nas mais diversas aplicações.
A Dra. Zhenan chama a nova pele artificial de “o melhor de dois mundos”, uma vez que ela reúne a capacidade de autocicatrização.
Ela geralmente é obtida com polímeros, com a condutividade de um metal, algo essencial para dar-lhe a sensibilidade, mas que também abre caminho para mais aplicações.
“Para fazer a interface desse tipo de material com o mundo digital, o ideal é ter um material que seja condutor de eletricidade,” disse a pesquisadora.
LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO
Tudo começa com um plástico formado por longas cadeias de moléculas unidas por ligações de hidrogênio — a atração relativamente fraca entre a região positivamente carregada de um átomo e a região de carga negativa de outro.
São essas ligações que permitem que o material adquira a propriedade da autocicatrização. As moléculas podem ser separadas por uma força relativamente pequena, rasgando o material.
Mas, quando elas se reconectam, as ligações se reorganizam e restauram a estrutura do material.
O grande lance é que suas características originais não se perdem, uma grande vantagem em relação a outros materiais igualmente capazes de se autoconsertar.
A sensibilidade da pele artificial — baseada em sua condutividade elétrica — é garantida pela adição de partículas de níquel. Elas também ajudam a aumentar a resistência do material, para que ele não se rasgue tão facilmente.
AUTOCICATRIZAÇÃO
Para testar a capacidade de se autoconsertar da pele artificial, os pesquisadores foram direto ao ponto, sem rodeios: eles cortaram o material com um estilete.
Não foi necessário medicamento e nem mesmo curativo. Bastou segurar as duas partes juntas para que a pele sintética recuperasse 75% de sua resistência e de sua condutividade elétrica originais.
Esse índice se aproximou dos 100% depois de 30 minutos. Em comparação, ressaltam os pesquisadores, a pele humana leva dias para cicatrizar.
Melhor ainda, a mesma amostra foi cortada e recortada 50 vezes no mesmo ponto, e recuperou todas as suas propriedades iniciais.
PRÓTESES ROBOTIZADAS
A Dra. Zhenan disse que é possível melhorar a pele sintética, já que as partículas de níquel, importantes para tornar o material condutor e resistente, acabam atrapalhando o processo de autoconserto, que não é tão bom quanto ela gostaria.
Apesar disso, Benjamin Tee, que foi o grande idealizador do novo material, afirmou que, neste estágio, ele é sensível o suficiente para detectar um aperto de mão, o que abre o caminho para seu uso na robótica, o que inclui as próteses robotizadas.
* Marcos Eduardo Machado é engenheiro e editor do blog ECOnsciência