Sal da Terra: um bar de Cabo Frio que se entrava pela janela
ACESSO PELA JANELA
Imagino que a maioria das pessoas traga na memória algum point ou bar para referenciar momentos alegres e marcantes de sua história pessoal. O bar e restaurante Sal da Terra é uma dessas chaves delicadas que abrem um baú de recordações. Por isso, merece uma homenagem.
Impossível não se lembrar do Sal da Terra. A característica mais curiosa era a entrada por uma das janelas, conforme pode se ver nessas fotos antigas que achei na rede. Esquisito, mas era aí que morava o charme do negócio desde os tempos da casa antecessora, a lendária pizzaria Matusquela.
Funcionava na Francisco Mendes, mais conhecida antigamente como rua do Boliche ou dos Mineiros, que é aquela que faz esquina com o Hotel Malibu, perpendicular à praia de Cabo Frio e que segue em linha reta até a praça do centro da cidade.
Nossa, mas o ponto era uma gracinha, um aconchego só – como toda mineira gosta – e refúgio certo nos períodos de ventania com areia, quando ninguém merecia ficar nas choperias da rua da praia. O Boulevard Canal, lá no Itajurú, ainda começava a ser ocupado.
As massas gratinadas ali servidas eram campeãs, assim como, hummmmm, os coquetéis e batidas sofisticadas feitas na hora com cachaça. E, por uma coincidência dessas que o destino apronta, o Sal da Terra trabalhava com o destilado que a minha família produz há um século. Nem imagino como ia parar lá.
Aprendi com um dos donos, chamado Paulo – uma simpatia de pessoa -, como fazer uma série de misturas criativas que são tudo de bom. Ele era um artista, ensinava as receitas na boa, sem frescuras, enquanto o outro sócio se entortava em caretas, de tão cheio de marra. Mas isso não vem ao caso. O que importa é que vou compartilhar as dicas desses coquetéis em outras postagens.
O nome do bar, claro, foi inspirado na extração salineira característica da região e na música Sal da Terra, do Beto Guedes e Ronaldo Bastos – ecologia em estado puro que também reproduzo logo a seguir.
E, por falar nisso, música era um dos pontos fortes da casa. Um monte de vezes passava horas ali dentro, viajando ao som ambiente sintonizado nos rocks da rádio Fluminense FM, a saudosa Maldita, até que entrasse em cena o pessoal que gostava de levar um blues no violão.
Nos finais de semana a festa era total: muita música mineira, do Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô e Márcio Borges, Fernando Brant, Toninho Horta, Ronaldo Bastos, Wagner Tiso, enfim, a turma toda do Clube da Esquina. Quem puxava era uma violonista da terra, acho que Zarinho, e um bando de outros músicos.
Tinha que ver, o bar lotava, dava fila na porta, ou melhor, na janela, e quase sempre ainda estava cheio pela manhã quando os turistas começavam a se dirigir à praia.
Amizades, encontros, desencontros, trepidação e suavidade que se acabaram num nem tão belo dia quando, por algum motivo insondável, o Paulo decidiu ir embora levando consigo toda aquela energia boa com ele. Pra trás ficou a casa vazia com o sujeito marrento das caras e bocas enterrado lá dentro, a remoer seus fantasmas.
Para concluir, quero dizer apenas mais nenhum segredo: a beleza daquele tempo foi curto mas ficou tatuado na alma. O Sal da Terra continuará a trazer as melhores lembranças à superfície da memória… nem que eu viva mais duzentos anos, como diz a canção inspiradora.
Matusquela e Cabo Flipper, para sempre!
Ô Sonja, você foi quem chegou mais perto. Tenta descobrir por onde o Paulo anda, o endereço ou telefone, se possível. Ele é um cara muito especial.
Por uma coincidência dessas havia programado postar a receita de uma batida cremosa de vinho com pêssego que ele me ensinou, lembra dela?
Um beijinho procê.
Puxa, vocês tiraram mesmo essa do fundo do baú. O Paulão, até onde sei depois trabalhou no governo federal e acabou virando empresario de diamantes. Agora disseram que tb tá mexendo com gado nelore em MG, que tb virou fazendeiro. Só pode tá poderoso. Se for mesmo, ele merece, ele é o cara!
O grande lance dali era o estilo meio mediterrâneo que ele tinha. Rústico e elegante, com o toque certo de sofisticação, bom gosto e simplicidade. Muito agradável. No atendimento aos clientes aquele alemão era um craque, fazia toda a diferença.
Não era por acaso que atraía tantos gringos animados. Parece que eles se sentiam em casa. O mais comum era ver italianos, espanhóis, alemães, suecos, americanos e argentinos, p/ex. Parecia uma babel. Tudo misturado aos sotaques paulistas, cariocas, mineiros e baianos, para colocar um tempero a mais na enturmação.
Enfim, é verdade, o Sal da Terra marcou mesmo época na fase final daquele tempo romântico de ocupação de Cabo Frio. Depois tudo ficou profissional e impessoal demais. E foi outro dia, nem faz tanto tempo assim. Uma pena, eu adorava.
Fá, lembra como o Sal da Terra era bom prá namorar? A gente ou regulava a luz ou desligava a lâmpada que tinha na lumináreia sobre as mesas. KKKKK!!!!!!
Murebinho esqueceu de falar do tira-gosto de azeitoninha preta curtida na salmoura com alho e pimenta calabreza. Ai, aquilo era de matar mas ele não dava chance para ninguém, ficava doido.
Ana Cláudia, claro que me lembro da batida. Simples, mas uma delícia, né não? Essa é uma das receitas que não posso deixar de passar. Em breve, prometo.
Mureb, então a Zarinho continua a mesma, agitando todas. Que bom! Quanto ao cara, sinceramente, não lembrava o nome. Só daquela antipatia sem limites.
Ihh… gente que coisa mais louca… eu descobrir vocês aí se relebrando disso. Sou parente da profa. Ma. das Graças, a Zarinho, grande agitadora cultural e dos carnavais cabofrienses… Ela tambem é Mureb, turquinha como eu…kkk. Aquelas noites no Sal da Terra foram inesquecíveis. E o Paulão, gente… amigaço. Nunca mais ninguém viu o barbudo. Aquele outro, o do bigode, era Fernando. Muito ruim de jogo o cara… ficou depois vagando por ai…kkkk. Isso mesmo gente… o Paulão era o protagonista, o outro so fazia figuração e mal…kkkk.
Aí, se o Paulão fizer contato dêm uma bronca nele e o intimem a procurar os velhos amigos. Quando tiver aqui em Cabo Frio é so perguntar que vocês acham todo mundo… Bacana seu bloge… Vou apregoar pro pessoal. Abs
Boa lembrança essa, menina. Eu ficava bem ali coladinha no edifício Três Rios e não saía de lá com minhas amigas. Tempo bão aquele. Lembra daquela batida de vinho?
O Paulo era mesmo “o cara”, talentoso, cheio de carisma, fizemos uma amizade bacana. Não tiro sua razão. Aquele outro, o cumprido, coisa mais horrorosa!
Depois que o Paulo saiu ele passou a viajar pelo Brasil inteiro, fazendo filmagens e acho que fotografias também. Era algo assim pro governo.
Ele passou aqui em Juiz de fora algumas vezes e me visitou. Só que com o tempo nós perdemos contato e hoje não sei por onde anda.
Quem sabe ele um dia não acha na internet essa homenagem? Ela não é só sua não, viu? É minha tb e de muita gente. Pódeixá que ele ainda nos acha aqui.