Síndrome do Terremoto – trauma psicológico que faz tudo ‘tremer’
ABALOS FANTASMAS
Depois de terremoto, japoneses sentem réplicas internas refletindo no próprio corpo. Muitos relatam a sensação de que o chão está tremendo, mesmo quando ele não está.
Os traumas decorrentes do compreensível pânico frente à tragédia se manifestam fisicamente como tonturas e ansiedade que acometem um número cada vez maior de pessoas.
Médicos dizem que estão observando um aumento importante no número de indivíduos que vivenciam tais abalos fantasmas. Muitos chegam a apresentar outros sintomas bem definidos da “doença do terremoto”, como tonturas e ansiedade.
Para efeitos de comparação, sentir o chão tremer quando ele não está tremendo é semelhante àquela sensação de balançar quando se chega pela primeira vez em terra após passar algum tempo em um barco.
“As pessoas estão muito sensíveis”, disse Kazuhiro Soeda, um médico especialista de orelha, nariz e garganta em Utsunomiya, perto de Tóquio. Ele trata de vários pacientes com problemas já diagnosticados para lidar com os tremores internos. “Isso é algo que eu nunca tinha visto antes”.
E não é para menos. Como se a ameaça de radiação de uma usina nuclear não bastasse, Tóquio e a região ao seu nordeste tem sentido diversos tremores subsequentes desde o terremoto de magnitude 9 que desencadeou um tsunami devastador em 11 de março.
Dois terremotos foram sentidos em Tóquio na manhã de quarta-feira, três na terça-feira, um grande na segunda-feira e outro na última quinta.
No geral, houve 400 tremores de magnitude 5 ou superior no nordeste do Japão desde 11 de março. Isso é o mesmo número de terremotos em um mês que o país tipicamente tem em dois anos e meio, segundo a Agência Meteorológica do Japão.
Os terremotos estão complicando os esforços para controlar o vazamento nuclear na usina Fukushima Daiichi. O terremoto de segunda-feira, por exemplo, desligou o resfriamento na usina por quase uma hora.
Cada vez que um tremor considerável ocorre, a primeira pergunta de muitas pessoas é saber se a usina nuclear ficará ainda mais danificada e se uma nuvem de radiação nova está a caminho. Um porta-voz da Tokyo Electric Power Co., empresa proprietária da usina, prontamente aparece na televisão para tranquilizar os telespectadores.
Certamente a série de terremotos não causou o mesmo pânico e fuga em massa que o medo de radiação na primeira semana após a crise nuclear. Ainda assim, com níveis de radiação no ar de Tóquio em queda acentuada desde então, algumas pessoas entrevistadas na rua disseram estar mais preocupadas com os tremores do que com a radiação.
Com informações do New York Times — tradução do Último Segundo
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