Transtorno bipolar: loucos são os outros… eu sou ‘normal’
MAS… QUEM NÃO É?
Do blog BananaPost
Com o passar do tempo e com o entendimento pelos bem-pensantes de que a ‘loucura’ é muito, muito relativa, de ‘psicose’ passou-se a denominar ‘transtorno’, ainda maníaco e ainda depressivo, para se chegar à atual formulação, digamos mais amena, de ‘transtorno bipolar’ ou bipolaridade.
BIPOLARES, UNI-VOS!
Por Luiz Caversan *
Um dos grandes paradoxos contemporâneos é a resistência quase pétrea da sociedade em relação aos que ela considera desiguais, diferentes, esquisitos. Como se a sociedade em si não fosse diferente, esquisita, desigual e, a cada dia que passa, muito mais que isso.
Mas parece que o leitmotiv da contemporaneidade extemporânea é mesmo se alimentar da intolerância, enxergando no outro aquilo que não vê (e não suportaria…) em si próprio.
Bipolaridade é um transtorno de comportamento que, como o próprio nome diz, tem duas pontas: ou o sujeito está deprimido ou está eufórico (maníaco na linguagem médica), com momentos maiores ou menores de algum equilíbrio, durante os quais a vida pode até parecer normal.
No mais das vezes, ou o mundo, as pessoas, a existência são uma grande tragédia ou um grande limbo, pegajoso e escuro, nos quais o transtornado se enreda num sofrimento sem fim, paralisado; ou então tudo é uma grande festa, na qual o protagonista (ainda o transtornado…) tem o poder, a força, tudo quer, tudo alcança, e se expõe e se compromete e se arrisca, sem medo nem noção de que pode estar jogando fora a própria vida, quando não a de familiares também.
Antigamente, esse comportamento-gangorra, em que a existência se assemelha a uma montanha russa de emoções conflitantes, era diagnosticado sob a sigla PMD, psicose maníaco depressiva. Tratada com estabilizadores de humor como ácido valpróico ou antidepressivos e lítio, podia e cada vez mais pode ter algum controle.
Com o passar do tempo e com o entendimento pelos bem-pensantes de que a loucura é muito, muito relativa, de psicose (distúrbio mental grave, segundo o Houaiss) passou-se a denominar transtorno, ainda maníaco e ainda depressivo, para se chegar à atual formulação digamos mais amena de transtorno bipolar ou bipolaridade.
Assim é que evolui o nome, evolui o tratamento, evolui a capacidade de os portadores deste mal interagirem cada vez mais normalmente com o mundo que os cerca, mas ainda há muito o que evoluir no entendimento coletivo do que se passa na cabeça das pessoas e deixar de se incomodar tanto com isso.
Quem nunca ouviu ou até mesmo disse algo como ‘Nossa, fulano está tomando remédio de tarja preta!’, como se isso fosse uma sentença de morte e não eventualmente a procura de um caminho mais curto de tornar a vida menos insuportável?
E quantos por aí não consideram a vida absolutamente insuportável, porque no mais das vezes ela pode mesmo ser, e acha que está tudo bem com sua cachola?
Loucos são os outros, certo?
Então vamos nessa, bipolares, depressivos, compulsivos e maníacos, que este bonde aqui está lotado de iguais.
Duvida?
Então dê uma lida no jornal de hoje, veja o noticiários sobre as coisas que estão rolando agora mesmo pelo mundo e diga para você mesmo:
— Eu sou normal!
* Luiz Caversan, 55 anos, é jornalista, produtor cultural e consultor na área de comunicação corporativa.
* * *
Medo…
Vontade de dar um grito,
ou calar-se para sempre
De ficar parado, ou correr
De não ter existido
ou deixar de existir (morrer)
Não há razão quando a mente não funciona
(redundante, não?)
Vão extinguindo-se as questões
mesmo sem respostas
Perde-se, neste estágio,
a vontade de saber.
O futuro é como o presente:
É coisa nenhuma, é lugar nenhum.
Morreu a curiosidade
Morreu o sabor
Morreu o paladar
parece que a vida está vencida
Tenho medo de não ter mais medo.
Queria encontrar minhas convicções…
Deus está em um lugar firme, inabalável,
não pode ser tocado pela nossa falta de confiança
Até porque, na verdade, confio nele
O problema é que já não confio em mim mesmo
Não existe equilíbrio para mentes sem governo
A química disfarça, retarda a degradação
mas não cura a mente completamente
e não existem, em Deus, obrigações:
já nos deu a vida, o que não é pouco,
a chuva, o ar, os dias e noites
Curar está nele, mas, apenas retardaria a morte
já que seremos vencidos pelo tempo
(este é o destino dos homens)
e seremos ceifados num dia que não sabemos
num instante que mira nossa vida
e corre rápido ao nosso encontro lentamente
(ou rasteja lento ao nosso encontro rapidamente?)
Sei lá…
Mas não sei se quero estar aqui
para assistir o meu fim
Queria estar enclausurado, escondido…
As amizades que restam vão se extinguindo
e os que insistem na proximidade
são os mesmos que insistirão na distância,
o máximo de distância possível.
A vida continua o seu ciclo
É necessário bom senso
não caia uma árvore velha, podre, sobre as que ainda estão nascendo.
Os que querem morrer deixem em paz os que vão vivendo
Os que querem viver deixem em paz os que vão morrendo
Eu disse bom senso?
Ora, em estado de pânico não se encontra bom senso
nem princípios, nem razão, nem discernimento,
nem força alguma
Torna-se um alvo fácil
condenável pelos que estão em são juízo
E questionam: onde está sua fé?
e respondo: ela estava aqui agora mesmo…
ela não se extingui, mas parece que as vezes se esconde de mim…
o problema é que, quando a mente está sem governo
(falo de um homem enfermo)
é como um caminhão que perde o freio
descendo a serra do mar…
perde-se o contato com a fé e com tudo o que há…
e por alguns instantes (angustiantes)
não encontramos apoio, nem arrimo, nem chão, nem parede, nem mão…
ah… quem dera, quem dera…
que a mão de Deus me sustente neste instante…
em que viver é tão ou mais difícil que conjulgar todos os verbos…
porque sou, neste momento
a pessoa menos confiável para cuidar de mim mesmo…
tenho medo, medo…
medo de perder o medo
de sair da vida pela porta de saída…
medo de perder o medo
de apertar o botão “Desliga”…
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QUAL DE MIM SOU EU…?
Aqui, o poeta
não é simplesmente
um gênio do conhecimento
dos sentimentos humanos
Na verdade
não há gênio
(e nem conhecimento)
o que se passa
é que não passo
a palavra
a personagens,
nem empresto a voz
a ilustres heterônimos:
dividem-se, em mim,
dois pólos
que não se comunicam
não dividem o espaço
Cada um,
a seu tempo
preenche-o completamente
assenhoream-se
dominam-no
como se não tivera
outro dono
são pólos inconciliáveis
incomunicáveis
incompatíveis de gênio
senhores de si
e as vezes de mim
me confundem
são cheios de razões
não sei o que sou
são parasitas
alimentam-se
da minha consciência
e só percebo
que não são eu
quando se vão.
Mas… alternam-se
tão rapidamente
que nem tenho tempo
de ser eu mesmo
Eu? Desculpem-me:
quem sou eu?
Não sei…
Só sei que não sou eles
(mas também não sou eu…)
pois no curto espaço
de tempo
em que se ausentam
sou apenas
o vácuo,
vazio absoluto
Deus, olha pra mim…
e cura-me
antes que julguem-me
e condenem-me
porque
ninguém
irá
exorcisar
o que não são
possessões
mas dualidades:
euforia e medo…
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