A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões uma estatística
A ILUSÃO DE VIDA E MORTE
Ao contrário do que muitos acham, viver e morrer são fenômenos complementares. Não são antitéticos.
Morrer, segundo decidiu a Natureza, é tão crucial para a manutenção do Reino Animal que ela (Natureza) designou o Acaso para cuidar do assunto.
Mas, prudente, cuidou ainda de colocar em cada ser algum dispositivo para levá-lo à morte.
Exemplificando: um diabetes aqui, uma fragilidade na artéria ali, ou alguma outra coisinha que me fragilize, dispondo-me ao morrer, querendo eu, ou não.
Não satisfeita, disparou acidentalidades por toda parte: geadas, fogaréus, falta d’água, contaminações naturais, venenos, tudo ao redor, para facilitar o processo de matar/morrer.
Sabedora das espertezas da espécie humana (que viria mais cedo ou mais tarde de dentro do Reino Animal e, entre outras coisas, tentaria atrapalhar as regras naturais) dotou-nos ainda de mecanismos inconscientes que buscam nossa morte à revelia da gente.
Assim é que nos rodeamos de utilidades como fogão a gás, eletricidade, produtos químicos, ou seja, um arsenal a disposição a nosso redor para, quem sabe, conduzir-nos ao apagão eterno.
Isto ficou mais visível nos tempos atuais: as festas nas noites ficaram mais cheias de riscos; bebidas ou outras drogas são parceiras de carros nas madrugadas para levar pessoas a morrer.
Infelizmente não dá para concluir que todo prazer é mortal, porque também se pode concluir que todo desprazer é mortal.
É claro que se percebe haver pessoas mais suscetíveis (mais inclinadas) a morrer, do que outras. Mas isto, para o Acaso, não tem a menor relevância. O dia de cada qual, chega.
Os gregos d’antanho, que bestas não eram, perceberam em cada ser vivo este encaminhar-se para a morte – até mesmo mediante experimentações cotidianas, como no caso do sono (Hipnos, na língua deles). A ponto de dizerem que Hipnos é irmão gêmeo de Tânatos, a morte.
Eles vislumbraram que nós, humanos, experimentamos um pouquinho a cada noite, virtualmente, como será nosso tempo depois de mortos.
Dito isto, tenhamos bons dias!
* Por Antonio Francisco, um dos melhores comentaristas habituais do blog do Luis Nassif