A subida do nível do mar nas praias do litoral norte de São Paulo
A PRÓXIMA VÍTIMA
Do blog ECOnsciência
Muita gente vai se espantar quando retornar à sua praia preferida durante as férias de verão. Do litoral norte até o sul do país já é evidente que, em muitos locais, a paisagem habitual se transformou com o desaparecimento de boa parte da faixa de areia. E isto quando o mar não lambeu ruas e calçadões, até engolir casas e prédios por completo.
Agora ficamos sabendo que também sobe cada vez mais rápido o nível das águas no sofisticado litoral norte paulista, refúgio de endinheirados e celebridades. É o que aponta pesquisa do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade de São Paulo (USP).
Com base nos registros feitos de 1944 a 2007 pela Companhia Docas do Estado de São Paulo, em Santos, houve uma elevação do mar de 74 centímetros por século. Também foi analisada a documentação de outras instituições em Ubatuba, São Sebastião e Caraguatatuba.
Nas últimas décadas, no entanto, o avanço das águas marítimas foi mais rápido.
UM METRO MAIS ALTO
“Nos últimos 20 anos, analisando esses dados, a gente nota que tem havido uma aceleração. Isso aparentemente está ligado ao fato que as temperaturas têm aumentado mais nesse período”, ressaltou o professor Paolo Alfredini, coordenador do estudo.
Com isso, a estimativa é que neste século o nível do mar suba cerca de 1 metro.
Um aumento desse nível significa a perda de 100 metros de praia em áreas com declives suaves. Essa aproximação das águas pode colocar em risco construções à beira-mar.
“A quebra da onda vai ficar muito mais próxima das avenidas, onde existem ocupações urbanas. Vai começar a solapar e erodir muros”, disse Alfredini.
“Tubulações que passem perto da praia, como emissários de esgoto, interceptores de águas pluviais, podem vir a ser descalçados e eventualmente até romper”, completou.
RESSACAS VIOLENTAS
Outro fator que ameaça as construções costeiras, verificado no estudo, é o aumento da altura das ondas nas ressacas e tempestades marítimas, além do aumento da frequência desses fenômenos. “Havendo um recrudescimento das ondas, isso também vai provocar mais erosões nas praias”, alertou o pesquisador da USP.
A elevação do nível do mar poderá, ainda, causar problemas para o abastecimento de água em algumas cidades. Esse processo tende a causar um aumento no volume que se infiltra nos rios.
“Portanto, as tomadas de água para abastecimento público e industrial poderão começar a receber água com maior teor de salinidade. E isso pode começar a complicar ou inviabilizar o tratamento da água”.
Para amenizar esses problemas, Alfredini aponta a necessidade de preparação das cidades afetadas, com a construção, por exemplo, de obras de defesa costeira.
CICLOS GEOLÓGICOS DA TERRA
Mas nem todos concordam. O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos se opõe a este paliativo, lembrando que o aumento do nível oceânico está relacionado com os ciclos geológicos e climáticos do planeta.
Ao longo do próprio Quaternário, nos últimos 2 milhões de anos, aconteceram várias e intensas variações climáticas com grandes alterações do nível dos mares.
No caso atual, segundo ele, o que caberia é uma melhor regulação técnica da ocupação urbana em nossos litorais, proibindo-se a ocupação de faixas sob alcance de notórias flutuações do nível marinho.
Cartas geotécnicas para tanto elaboradas seriam instrumentos adequados para esse desejado planejamento urbano. “Obras de proteção são de duvidosa eficiência, podem desorganizar a sedimentação e erosão litorânea, onerando a sociedade”, adverte Rodrigues dos Santos.
Com Agência Brasil