Contra a baixaria na rede: não entre na onda dos trolls
Os “trolls” utilizam suas práticas para impregnar o debate político. O único objetivo deles é confundir e impedir que uma discussão flua naturalmente, utilizando argumentos com baixa credibilidade e, ao final, apelando para a verborragia, ofensas e baixaria.
A tática do troll, quase sempre, é começar “testando hipóteses” para sentir uma lista de discussão ou de comentários em blogs ou redes sociais. Daí, para infestar as caixas de e-mails é um pulo.
Em época eleitoral, a prática é a mesma – muitas vezes remunerada -, alterando somente o fim da ação para a ofensa a um candidato ou as ideias que este defende perante seu provável eleitorado.
ELEIÇÕES 2010: O QUE VOCÊ PODE FAZER PARA DESCONSTRUIR O BANDITISMO DIGITAL
A abordagem sobre a atuação dos trolls na rede e como a bandidagem digital utiliza suas práticas para impregnar o debate político, atrapalhando o fluxo das boas idéias, podem elevar a discussão democrática no país.
O troll digital está sempre pronto para desestabilizar o debate. Seu único objetivo é confundir e impedir que uma discussão flua naturalmente, utilizando argumentos com baixa credibilidade e, ao final, apelando para a verborragia e ofensa. A tática do troll, quase sempre, é começar “testando hipóteses” para sentir a lista de discussão ou comentários.
Em época eleitoral, a prática é a mesma, muitas vezes remunerada, alterando somente o fim da ação para a ofensa a um candidato ou as idéias que este defende perante seu provável eleitorado.
O apelido troll, dado aos difamadores da rede, é baseado nas personagens do folclore escandinavo, conforme nos ensina a Wikipedia. São humanóides pouco inteligentes que não vivem em bandos, são agressivos e temidos pelo domínio da arte da ilusão.
Durante o processo eleitoral as atividades dos trolls profissionais vão além da interferência nos debates. Dentre as suas atribuições momentâneas estão a redação de e-mails falsos atribuídos a jornalistas, a disseminação destes e-mails, a criação de perfis falsos em redes sociais e também a criação de perfis genéricos.
Existe uma diferença entre o perfil fake (falso) e o genérico. O fake levanta a bola do debate, muitas vezes reproduzindo o que outras pessoas enviam. O perfil genérico parece real, com dados pessoais que simulam um histórico de vida. Este é o avatar do troll.
Para você cidadão, que preza o debate construtivo, que pretende nestas eleições discutir propostas, ideias e discordar até, inteligentemente, veja alguns itens que podem ajudar a combater o banditismo digital gratuito ou patrocinado. Prováveis candidatos que pretendem fazer campanha limpa, com plataforma de campanha, também podem utilizar as informações abaixo.
Investigação de e-mails falsos
Investigar os e-mails falsos é um trabalho fundamental durante uma campanha e pode ser realizado pela equipe do comitê ou por qualquer simpatizante. Diversos virais com informações falsas circulam na rede. É preciso mapear os principais, diariamente, investigar e soltar uma nota desmentindo a informação.
É um trabalho profundo de apuração para identificar locais ou pessoas citadas nas mensagens e conseguir declarações de desmentidos, invalidando assim o rumor. O texto resposta deve ser liberado no site de campanha, nas redes sociais, lista de e-mails e boletins de campanha.
Como checar um e-mail falso usando a rede
É muito simples. Ao receber o e-mail pegue partes do texto, geralmente a manchete, ou palavras-chave, e faça uma busca nos indexadores de rede como o Google ou Yahoo. O referenciamento vai lhe dizer se a história é falsa ou não.
Geralmente, em período eleitoral, textos antigos voltam a circular repaginados para as eleições. Até hoje, textos de 2000 atribuídos a jornalistas e escritores de grande influência são disseminados.
Esta prática visa atingir eleitores desprevenidos, que não acompanham habitualmente a cobertura jornalística e que não conhecem as posições destes profissionais sobre determinados assuntos. Uma busca resolve o problema, indicando o desmentido dos jornalistas em seus próprios blogs ou sites das empresas em que atuam.
Os e-mails falsos chegam até você
Sem muito esforço o e-mail falso chega até você. Para isto é preciso sempre manter canais de comunicação abertos com a população, via conta institucional ou a checagem constante das redes sociais. O search do Twitter é essencial nesta localização.
Canais abertos ajudam os aliados a enviarem denúncias falsas que devem ser investigadas e também permitir que os opositores entrem em contato com seus próprios e-mails de ataque. Não se iluda, isto sempre acontece e serve para saber quais os níveis de ataque e o que deve ser respondido.
A conta de e-mail deve ter um filtro por assunto para catalogar os temas e acompanhar o que mais está circulando no dia.
Resposta por mail
Todos os e-mails devem ser respondidos, desde ataques ou elogios. A resposta sempre circula.
Os e-mails de ataques não devem ser respondidos com mais ataques. A resposta deve ser com proposta de trabalho, nunca desqualificando quem ataca, mesmo que seja ataque pessoal.
A resposta de ataque, enfurecida, pode servir de armadilha para que o opositor divulgue o candidato como destemperado.
Não repassar e-mail sem checar a informação
O que mais acontece na rede é a criação de boatos para desestabilizar campanhas/pessoas. É o famoso “ ouvi dizer”. Na rede ninguém está escondido.
O candidato que se sentir ofendido por uma informação falsa pode realizar o rastreamento na rede para encontrar o provedor de onde partiram os ataques utilizando o IP (internet protocol) se estes estiverem disponíveis nas mensagens enviadas.
Tudo na internet tem identificação, via endereços de protocolo, os chamados IPs (Internet Protocol). Diversas ferramentas permitem chegar até o provedor de acesso, como o site “What’s my IP address” e, com decisão judicial, identificar quem repassou a mensagem.
Por isso, quem pensa que está protegido atrás de um computador, está equivocado.
Repassar mensagens falsas, além de trazer prejuízos para o próprio eleitor, pode prejudicar o honesto debate eleitoral na rede. Trolls profissionais podem se esconder na rede utilizando ferramentas como o Tor ou outras ferramentas.
O tempo que se perde repassando uma mensagem falsa, tentando destruir a reputação de um candidato, pode ser utilizado para ajudar o seu próprio candidato a disseminar propostas de campanha, com os boletins, a argumentação coerente nas redes sociais e respondendo dúvidas dos eleitores indecisos.
É sempre importante denunciar para os próprios comitês que você apóia as mensagens falsas que estejam circulando para prejudicar o oponente. Assim, o seu candidato pode soltar alguma nota negando que a tal mensagem difamatória tenha saído do seu comitê. Lembrem-se que isso pode prejudicar a candidatura perante o TRE ou TSE, gerando multas ou até a impugnação da candidatura.
Toda e qualquer ofensa difamatória ao seu candidato, ou ofensas aos adversários atribuídas ao seu candidato, devem ser notificadas ao Tribunal Superior Eleitoral ou Tribunal Regional Eleitoral, seja por e-mail ou protocolando documentos nas sedes das entidades. O registro pode ajudar os tribunais a obter informações em qualquer denúncia de crime eleitoral para rastrear prováveis fraudadores.
Perfis falsos de políticos em redes sociais
O submundo da militância cria sempre perfis falsos em redes sociais para soltar informações virais na rede sobre um candidato.
Alguém que não gosta de um político cria um perfil em nome dele para prejudicá-lo na campanha, acumulando seguidores para lançar informações incorretas ou mensagens difamatórias.
Não se deve estimular que as pessoas sigam estes perfis, que ajudam a desestabilizar a discussão democrática. É preciso também denunciar aos comitês de campanha quando isto acontece.
Perfis genéricos para lançar dúvidas ideológicas
É comum também que os profissionais da militância de submundo criem perfis genéricos para atuar na rede, com uma prática muito simples: a de desqualificar ideologicamente o candidato subvertendo o que ele pensa perante grupos religiosos ou políticos.
Em 2006 diversas comunidades religiosas no Orkut, que eram contra o aborto, foram invadidas por estes perfis genéricos para entrar no debate e levar a impressão de que o presidente Lula era a favor do aborto. É público e notório que o presidente era, e é, contra o aborto. Estes perfis não entravam de forma raivosa no debate. Entravam de forma sútil, como um participante comum, estimulando ideias para depois inserir frases como: “pois é, por isso eu não voto no Lula, ele é a favor do aborto”.
O raciocínio destes perfis genéricos é contar com a desinformação do eleitor, que muitas vezes não conhece a opinião de um candidato sobre diversos assuntos. Por isso, antes de tudo, é importante que o eleitor se informe sobre a opinião do seu candidato sobre assuntos polêmicos.
O candidato na web
Para quem deseja se candidatar a algum cargo público é preciso marcar presença na rede. Como? Criando perfis nas principais redes sociais para participar de comunidades. Redes sociais: Orkut, Twitter, Linkdin, Flickr (fotos) e Facebook.
O candidato precisa se dedicar, em algum momento, a alimentar seu próprio perfil.
Os usuários esperam sempre, nas redes sociais, que o cidadão do outro lado do perfil seja real e esteja presente incentivando o debate com propostas de campanha e soluções, gerando informações exclusivas para seus seguidores.
Caso o candidato não consiga manter a interação, não adianta colocar um assessor para dar atenção ao público. Esta prática é facilmente identificada pelos usuários. O ideal nestes casos é criar um perfil da chapa para estimular o debate.
Comunidades no Orkut são sempre interessantes para debater e também para lançar informações de campanha para a base de eleitores e militantes. Ex: um texto de campanha pode ser imediatamente lançado na comunidade, que o replica em blogs e outras redes sociais.
Frequentar comunidades de candidatos concorrentes? Sim, desde que seja para se defender de ataques e debater com propostas. O candidato nunca deve cair em discurso de provocadores nas redes sociais, pois é isto que eles querem: a desmoralização diante do público. O candidato só deve responder questionamentos sérios, mesmo que divergentes das suas ideias.
Website
O website deve ser padrão, com todas as propostas, e em formato multimídia, com publicação imediata de textos, áudios, vídeos e fotos em sequência de blog.
Os conteúdos são independentes e não precisam mais de conjugação entre si. Uma foto com legenda é um post, um vídeo, áudio, mesmo que isolados, é conteúdo que pode ser replicado em blogs. Isso tudo não impede que sejam feitos textos consolidados, mais parrudos de informação. Claro, podem existir, mas pensem nos conteúdos isolados para difusão.
Usar licença Creative Commons para tudo é o mais adequado. O copyright só restringe a difusão da informação uma vez que as pessoas perdem tempo para conseguir autorização e acabam desistindo de replicar, burocratizando o comitê.
Quanto mais o conteúdo circular, melhor para o candidato. Se o cidadão tiver que ligar, mandar e-mail, passar fax ou enviar carta para pedir autorização de uso, ele desiste. A autorização deve estar embutida em toda a licença do site, afinal, tudo é público.
Boletim de campanha
Todos os dias deve sair um boletim de campanha do candidato, pela manhã ou a tarde. O ideal se possível é que saiam dois boletins.
Conteúdo? Propostas de campanha em todas as áreas possíveis, eventualmente respondendo questionamentos dos opositores. Sempre propositivo, estimulando a base de militância em suas ações.
O boletim deve ser produzido em formato jornalístico, com fotos, textos e infográficos explicativos, sempre pensando que o material pode ser impresso e distribuído por quem quiser. É material de campanha que deve ser distribuído por e-mail para o mailing de campanha e publicado imediatamente no site com recursos multímidia para enriquecer o conteúdo.
Publique sempre versão em PDF dos boletins para download.
* Publicado originalmente no blog Vida Digital – que fica hospedado no Vi o Mundo.
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