Drogas no Rio: tráfico armado sai de cena e entram as milícias

Tráfico de drogas - delivery

O tráfico de drogas no Rio – modelo obsoleto e anti-econômico

A Cachaça da Happy Hour

Por Luis Eduardo Soares, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública

(…) “O tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas – mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente.

O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção.

É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica.

Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra.” (…)

Trecho da análise sobre a violência e os desafios da insegurança no Rio de Janeiro, feita por Luiz Eduardo Soares, antropólogo e cientista político, co-autor de Elite da Tropa (1 e 2) e Cabeça de Porco (com MV Bill e Celso Athayde).

Vale a pena ler o artigo completo, publicado no Luis Nassif.

* * *

Blog da Nívia de Oliveira Castro

2 thoughts on “Drogas no Rio: tráfico armado sai de cena e entram as milícias

  • 26 de novembro de 2010 em 13:10
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    Oi, gente, blz? Gostaria de dar minha sugestão de leitura. Saiu no Maria Frô:

    OLHARES DISSONANTES SOBRE A VIOLÊNCIA NO RIO DE JANEIRO

    Nós que sabemos que o “inimigo é outro” não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

    Achar que as várias operações criminosas fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

    O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos.

    De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

    Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia ALUGA as duas favelas para a facção criminosa hegemônica…..

    http://mariafro.com.br/wordpress/?p=21889

    Só como contribuição em rede, Nivia. Bjs, Ju.

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  • 26 de novembro de 2010 em 12:01
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    O L. E. Soares foi na mosca com essa análise. Ele é certamente a maior autoridade brasileira no assunto. Lembrando: as milícias já são financiadoras expressivas de muitas campanhas políticas. O que significa que já existem bancadas de deputados comprometidas com o “negócio”. Estado e criminalidade de “alto nível” unidos contra o tráfico pé-de-chinelo dos morros. É o que se vê nessa mobilização policial. Sofisticada técnica mafiosa importada dos países avançados. Preço a ser pago por entrarmos na rota do desenvolvimento. Simples assim. A mídia não conta. Nós fingimos que não percebemos.

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