Fábula sobre a Verdade nua e crua e a Pós-Verdade fantasiada
A VELHA VERDADE VERSUS A JOVEM PÓS-VERDADE
Ela sempre andava à vista de todos, sem roupas e sem adornos, tão nua (e crua) como o seu nome.
Aqueles que a viam viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo e ninguém lhe dava as boas vindas.
Assim, a Verdade percorria os confins de um certo país tropical, sempre rejeitada e desprezada.
Desconsolada, encontrou uma parente distante que passeava alegremente num provocante traje colorido.
– Verdade, por que você anda tão abatida? – perguntou a jovem Pós-Verdade.
– Devo ser muito feia e incômoda, já que as pessoas me evitam a todo custo.
– Quanta inocência! – riu a Pós-Verdade – Não é por isso que te evitam. Vamos, use algumas das minhas roupas e veja só o que acontece.
Então a Verdade se produziu com aquelas lindas vestes e, de repente, passou a ser bem-vinda, inclusive promovida pela mídia.
Foi aí que compreendeu: as pessoas não gostam de encarar a Verdade nua; elas a preferem disfarçada.
(Adaptação livre de uma parábola judaica)