Facebook tira Orkut da liderança entre as redes sociais no Brasil

Orkut x Facebook

BATENDO CABEÇA

O Orkut, a primeira tentativa do Google de ingressar nas redes sociais, foi ultrapassado pelo Facebook em agosto segundo o Ibope, e corre o risco de perder definitivamente a supremacia de 7 anos no País.

Mas, vamos admitir, foi uma ferramenta importante na alfabetização dos usuários brasileiros na internet.

Essa é a análise da pesquisadora em mídias sociais Raquel Recuero, para quem o site foi “fundamental” na entrada do brasileiro nas redes.

“O Orkut acabou não só sendo a grande porta de entrada da internet para o brasileiro, como uma das principais motivações para isso. Para mim, seu papel na inclusão digital é incrível”, afirma.

Números de nova pesquisa Ibope Nielsen Online indicam que o Facebook, maior rede social do mundo, finalmente ultrapassou o Orkut, serviço queridinho dos brasileiros, no País.

De acordo com a pesquisa, o Facebook alcançou em agosto 30,9 milhões de usuários únicos, com o Orkut se mantendo praticamente estável em 29 milhões.

NÚMEROS OFICIAIS X PESQUISAS

O Facebook, que tem mais de 750 milhões de usuários em todo o mundo, alardeou em agosto que possui 25 milhões de membros brasileiros. O Orkut, com 85 milhões de usuários globalmente, tem 50,6% deles no Brasil, pouco mais de 43 milhões.

Números de julho da comScore, outra empresa que mede audiência na internet, mostram o Orkut com 36 milhões de brasileiros, contra 26 milhões do Facebook.

A discrepância entre as pesquisas e os números oficiais pode ser explicada, em parte, pela metodologia da análise dessas empresas.

Tanto o Ibope quanto a comScore levam em conta somente usuários que acessam a internet em casa ou no trabalho, deixando de lado quem acessa a web em lan houses, por exemplo, quesito que poderia aumentar a quantidade de brasileiros na rede do Google.

Além disso, as pesquisas contam o número de visitantes únicos em um determinado período, e não a quantidade de pessoas cadastradas nos serviços.

“Há um percentual que me parece bastante significativo de acesso ao Orkut que vem de lan houses e espaços públicos que não está computado nessa audiência. No caso do Orkut, esse número pode ser significativo, uma vez que o acesso tem crescido, justamente, junto a esses grupos. No Facebook, ao contrário, o acesso estava focado nas classes A e B, e crescendo na classe média, ou seja, espaços onde o grosso dos números está no acesso de casa ou do trabalho”, afirma Raquel.

Polêmicas à parte, mesmo sem levar em conta quem acessa a internet em espaços públicos, os últimos números da comScore não podem ser deixados de lado. Segundo a empresa, de julho do ano passado a julho deste ano, o Facebook teve um crescimento impressionante de 209%, contra apenas 20% do Orkut.

O gráfico do aumento do número de membros das duas redes sociais indica que essa curva de crescimento, se já não se cruzou, deve se cruzar em breve.

PAIXÃO TIPICAMENTE BRASILEIRA

Lançado em 2004, o Orkut foi um sucesso quase imediato no Brasil, único país em que ainda mantém a liderança nas redes sociais.

“É uma paixão do brasileiro”, diz Manoel Fernandes, diretor da Bites, empresa especializada em análise de mídias sociais.

Mas por que o brasileiro se identificou tanto com a rede do Google? “Foi um conjunto de fatores, meio que o sistema certo no lugar certo”, analisa Raquel.

A ausência de uma experiência anterior com redes sociais, já que o Friendster e o MySpace eram pouco conhecidos, foi uma delas.

“Junto aos primeiros usuários está um grupo cujos convites eram altamente valorizados, os ‘techies’ e estudantes de informática, que estavam curiosíssimos com a ferramenta por conta da marca Google”, afirma a especialista.

Outro fator a ser levado em conta na ascensão do Orkut por aqui foi a interface amigável, “que possibilitou que as pessoas entendessem a ferramenta sem precisar falar inglês”, segundo Raquel. E a enxurrada de brasileiros na rede pode ter sido um dos fatores que levou o Orkut a não dar certo em outros lugares.

“No início surgiu uma competição muito grande do Brasil por bater os outros países e essa competição resultou numa animosidade e agressividade bem grande para com os usuários dos demais países que usavam a ferramenta”, diz Raquel.

Segundo ela, o Google agiu tarde no processo que eles chamaram de “localização”, separando os usuários de cada país na rede.

“Foi aí que o Orkut começou a crescer então na Índia e em alguns outros países. Mas já era tarde demais. O Facebook já despontava dominante ou quase dominante em boa parte dos países de língua inglesa. Embora outros países tivessem outros sites como “referenciais” (como o Orkut no Brasil), o Facebook foi pouco a pouco ficando hegemônico”, diz.

A DIFERENÇA ENTRE AS REDES

Porém, se engana quem pensa que o Orkut está morrendo. Os milhões de usuários da rede mantêm vivas as comunidades da rede social, o que, para o diretor da Bites, é a principal diferença do Orkut para a concorrente.

“O Facebook é uma rede em que as pessoas se agregam àqueles que são parecidos com elas, seus amigos, enquanto o Orkut as pessoas podem se agrupar em torno de temas, as comunidades”, afirma Fernandes.

Para o analista, que elabora estratégias para empresas dentro das redes sociais, o Orkut é um ambiente muito mais favorável para promover um novo produto ou serviço justamente por causa desses fóruns.

“No Facebook você tem uma dificuldade de olhar por dentro, de se relacionar com as pessoas. No Orkut é mais fácil para as marcas se relacionarem. É muito mais fácil identificar um tema dentro de uma comunidade do Orkut do que no Facebook, onde as pessoas se aglutinam em torno da fan page”, analisa.

Nos últimos meses, o Orkut passou por diversas mudanças de layout e implementou novas funcionalidades na tentativa de manter o ritmo de crescimento no País, muitas delas inspiradas no Facebook, como o botão “gostei” e a publicação das atualizações nos mesmos moldes do Mural do site de Zuckerberg.

Para Raquel, os jogos sociais foram fundamentais para acelerar o crescimento do Facebook por aqui, mesmo que tardiamente.

“Os aplicativos foram o grande diferencial, que realmente conseguiu fazer com que o Facebook conseguisse entrar em nichos que não conseguia, como o Brasil. O crescimento do Facebook inicialmente esteve intrinsecamente conectado ao crescimento de jogos como o Farmville. Claro que, uma vez alcançada uma certa massa crítica, o sistema passou a crescer por si só”, analisa.

Outro fator importante para a popularização da rede de Mark Zuckerberg foi a preocupação com a privacidade, que chegou atrasada ao País, segundo a pesquisadora.

“As pessoas vêm no Facebook uma chance de ‘recomeçar’ sua rede social, dessa vez com mais critério do que no Orkut, onde uma das práticas era adicionar todo mundo”, diz.

A “ORKUTIZAÇÃO”

Nos últimos tempos, ser usuário e defensor do Orkut não tem sido uma tarefa muito fácil. O termo “orkutização” é usado pejorativamente para tudo que se torna popular, qualquer produto ou serviço que comece a cair no gosto das classes C e D.

Para Fernandes, o preconceito de que o usuário do Orkut vem de classes mais baixas não passa de uma bobagem. “Em comunidades mais sérias, o nível de discussão dos usuários é muito alto. Em comunidades segmentadas de carros ou política, por exemplo, os fóruns têm um ótimo nível”, afirma.

Raquel acredita que existam, sim, muitos usuários da classe C e D no Orkut, apesar de achar necessário o acesso a esses dados para confirmar. Para ela, esse preconceito é um fenômeno recente, que vem justamente do fato de o Orkut ter sido a porta de entrada do brasileiro na internet.

“O preconceito está na sociedade, é intrínseco e expresso nessas ferramentas. Não acho que o Orkut seja causa do preconceito, ele só está abrindo o que já está dentro da sociedade brasileira.”

Mesmo com o investimento pesado que o Google vem fazendo na sua mais recente investida nas redes sociais, o Google+, é difícil imaginar o que pode acontecer com o Orkut daqui pra frente.

O diretor da Bites diz que deseja “vida longa” ao site que conquistou os brasileiros, e a pesquisadora Raquel Recuero continua achando que ele tem uma importância muito grande no País.

“Acho que jamais teremos um fenômeno semelhante, em termos de importância para um país. Mas também não sei por quanto tempo sobreviverá”, diz.

Texto de Ismael Cardoso, no Terra

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