Homenagem ao Dia dos Pais com Father & Son, de Cat Stevens, e Ser Pai, de Artur da Távola
SÍMBOLOS PODEROSOS PARA O DIA DOS PAIS
Datas de importância pessoal costumam ser referenciadas por registros musicais ou fragmentos de textos que emergem na memória de cada um.
Assim, não estaria completa uma homenagem ao Dia dos Pais sem a música Father & Son, de Cat Stevens, e a crônica Ser Pai, de Artur da Távola.
SER PAI
Ser pai
é acima de tudo, não esperar recompensas.
Mas ficar feliz caso e quando cheguem.
É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância
(mas compreensão) com os próprios erros.
Ser pai
é aprender errando, a hora de falar e de calar.
É contentar-se em ser reserva, coadjuvante,
deixado para depois. Mas jamais faltar no momento preciso.
É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte.
É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em
nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.
Ser pai
é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez. É esperar.
É saber que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo.
Portanto, é agüentar a dor de ver os filhos passarem
pelos sofrimentos necessários,
buscando protegê-los sem que percebam,
para que consigam descobrir os próprios caminhos.
Ser pai
é saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir.
Falar e dizer. Dosar e controlar-se. Dirigir sem demonstrar.
É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia,
jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói.
É ser bom sem ser fraco e jamais transferir aos filhos
a quota de sua imperfeição, o seu lado desvalido e órfão.
Ser pai
é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar.
É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher,
ainda que não seja em vida.
Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão.
Mas ir às lágrimas quando chegam.
Ser pai
é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido
se faz na personalidade do filho,
sempre como influência, jamais como imposição.
É saber ser herói na infância, exemplo na juventude
e amizade na idade adulta do filho.
É saber brincar e zangar-se. É formar sem modelar, ajudar sem cobrar,
ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.
Ser pai
é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja,
projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão
e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender;
de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte,
mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.
Ser pai
é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.
O máximo de convivência no máximo de solidão.
É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho
a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.
É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno,
por tudo haver feito para deixar de ser importante.”