Leite: investir em produtividade ou aumentar o rebanho?
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Se o pecuarista optar por ampliar o rebanho leiteiro para obter uma produtividade de 15 litros diários por vaca (volume máximo), ele precisará gastar 46,7% a mais do que se investir em ganho de produção.
Leite produtivo melhor que o desMatado
Por Renata Camargo *
Boletim divulgado nesta semana pela Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) revela que investir em produtividade é mais vantajoso do que ampliar o rebanho bovino na produção de leite. O relatório fala em ganhos ambientais ao mostrar que a expansão do rebanho – que tem como um dos efeitos o aumento das áreas de pastagem – é menos lucrativo do que elevar a produtividade com a mesma quantidade de vacas.
De acordo com o estudo, elaborado pela equipe técnica da CNA em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq), se o pecuarista optar por ampliar o rebanho leiteiro para obter uma produtividade de 15 litros diários por vaca (volume máximo), ele precisará gastar 46,7% a mais do que se investir em ganho de produção.
A análise foi feita a partir de pesquisas de custo de produção de leite em regiões de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Segundo o relatório, se o produtor rural aumentar os gastos em 89,7%, investindo principalmente em alimentação, higienização e mão-de-obra, terá um ganho de produção de 87,6%. Se utilizar a estratégia de ampliar o rebanho, o pecuarista gastará 178,2% a mais que o custo atual para obter a mesma produção.
No relatório, a CNA ressalta que o pecuarista deve considerar que investir em produtividade “tende a trazer também melhoria da qualidade do leite e ainda aumentar a escala do produtor”. A entidade enfatiza ainda que “os ganhos ambientais seriam muito maiores no caso da intensificação, uma vez que o mesmo número de vacas produziria mais leite sem aumentar a emissão de gases do efeito estufa”.
Dados do Ministério do Meio Ambiente apontam que a pecuária continua sendo a grande vilã do desmatamento na Amazônia. O troféu desmatamento aos “reis do gado” é dado devido às constantes derrubadas de florestas (que provoca emissão de CO2) realizadas para garantir a continuidade da cultura da pecuária extensiva – aquela feita em grandes extensões de terra, com gado solto, geralmente com baixo desenvolvimento tecnológico.
A atribuição de vilão do efeito estufa aos pecuaristas também se dá pelo fato de a flatulência dos ruminantes – o pum do boi (outros falam em arroto do animal) – emitir uma quantidade significativa de metano (CH4) na atmosfera. O metano é 23 vezes mais potente que o gás carbônico em termos de efeito estufa, ainda que a reação de cada um desses gases com a atmosfera se dê de forma diferente.
Incentivar uma pecuária como ganhos de produtividade e menor extensão é garantia de menos desmatamentos, menos poluição, mais biodiversidade, mais conservação de recursos naturais. Em um cenário em que as políticas de comando e controle não têm causado efeitos positivos como se queria em termos de preservação em propriedades rurais, dotar de argumentos econômicos o debate ambiental é uma equação inteligente para ampliar a reserva verde no país.
* Renata Camargo é colunista do Congresso em Foco.