Macacos se rebelam contra a injustiça, como os humanos

Macaco - Wallpaper

DIREITO DE GREVE

Do blog BananaPost

Engana-se redonda e quadradamente quem até agora achava que o homem era o único animal capaz de se sentir injustiçado e até mesmo decidir entrar em greve.

Sim, os macacos do gênero Cebus também se recusam a realizar tarefas caso percebam que tenham recebido um tratamento desigual, de acordo com estudos realizados pelo pesquisador holandês Frans de Waal, uma das maiores autoridades mundiais em relação ao comportamento de primatas.

Pertencem a esta subdivisão, entre os símios, diversas espécies de macacos-prego, bastante comuns na Mata Atlântica brasileira.

“Comprovamos que se damos a um desses macacos-prego uma recompensa menor ao que demos a outro após terem realizado ambos a mesma tarefa, o animal prejudicado se irrita e para de ajudar”, garante o cientista.

“Por essa razão, estou convencido de que esses macacos entendem perfeitamente quando são tratados de maneira injusta e podem rebelar-se contra a desigualdade de uma maneira comparável às greves dos humanos”.

O pesquisador se encontra na Espanha para participar de uma série de palestras justamente no mesmo dia em que o país enfrenta uma greve geral. Ela ocorre em protesto às medidas de austeridade e cortes públicos impostas pelo governo de Mariano Rajoy, além da tentativa de estabelecer uma dura reforma trabalhista.

“Quem sabe o que está se passando na Espanha e em outros países onde os cidadãos que se sentem indignados pelos privilégios de uma elite, com salários astronômicos em um contexto de grave crise econômica, seja comparável ao que sentem esses animais perante uma situação propositalmente injusta”, questiona o cientista.

Calcula-se que mais de cinco milhões de pessoas paralisaram suas atividades. Manifestações ocuparam as ruas das principais cidades do país. O governo de Rajoy, que assumiu o poder em janeiro, não concorda com a paralisação e defende as reformas. Dezenas de manifestantes foram presos.

REAÇÃO LÓGICA

Para chegar à conclusão de seu estudo sobre as reações dos animais frente à desigualdasde, De Waal e sua equipe ensinaram a um grupo de macacaos-prego a realizarem uma tarefa que consisita em recolher pedras e depositá-las nas mãos de um pesquisador. Em troca, eles recebiam um pepino como recompensa por seus “serviços”.

Até a mudança de filosofia, a “produtividade da empresa” ia de vento em popa. Enquanto todos os macacos recebiam o mesmo salário, em diferenças substanciais de tamanho entre os legumes repartidos aos trabalhadores, a paz social reinava: 90% dos animais cumpriam suas obrigações em menos de cinco segundos.

No entanto,os problemas começaram quando, de forma indiscriminada, os cientistas decidiram aumentar o soldo para apenas alguns de seus “funcionários”.

Ante uma reação de surpresa dos macacos testemunhada pelo pesquisador, os mais afortunados passaram a receber uvas ao invés de pepinos, cada vez que traziam uma pedra. Para esses animais, a fruta, em razão de seu gosto doce e odor, tem um “valor” maior do que um pepino.

A reação dos prejudicados foi semelhante a de qualquer humano em uma situação de desigualdade parecida: perder a motivação, cair na preguiça e passar a desobedecer os pesquisadores (que cumpriam o papel de patrões). Pouco depois, o conflito laboral foi instaurado e os macacos se negaram a continuar trabalhando.

Para De Waal, esse comportamento demonstra neles a existência de uma “aversão à desigualdade”, que os leva a reagir com certa hostilidade se algum membro do grupo recebe uma recompensa maior pela mesma tarefa dos demais.

De Waal é autor de livros como Nosso Símio Interior e A Política dos Chimpanzés. Dirige o laboratório Yerkes de Investigações sobre Primatas em Atlanta, nos EUA, e ensina comportamento primata na Emory University, na mesma cidade.

Com Opera Mundi

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