Não sorria: você está sendo manipulado com o preço do tomate

A ALTA DO TOMATE VIRA CASO DE POLÍTICA

Preço do tomate

Primeiro foram os olhares graves e “preocupados” dos apresentadores de telejornais. Seguiram-se os analistas econômicos de talk-shows em canais “inteligentes” da TV paga. Logo vieram as entrevistas testemunhais de donas-de-casa flagradas em supermercados.

O tema atiçou até as “boas” colunas da mídia impressa. É o caso de Vinicius Torres Freire, na Folha de S.Paulo:

“O povo ainda parece feliz feito pinto no lixo e adora Dilma Rousseff, algo alienado que está dos efeitos de uma economia mal parada, ou que mal se move. Mas a inflação persistente tem seu primeiro símbolo mais ou menos popular, o tomate, que está caro para chuchu e se tornou motivo de conversa e chacota nas praças da internet, as ditas redes sociais”.

Mais um que faz parte da manada que dispara pedindo o aumento das taxas de juros para conter a inflação e ganhar com o estoque de liquidez nas tesourarias.

Tolo mesmo ou oportunista é o dono de restaurante que suspendeu o uso de tomates em sua cozinha. Mais tolos ainda os que o repercutem.

Tente verificar os preços ácidos que ele cobrava por seus molhos, também ácidos, na última safra, quando o preço da caixa de tomates estava na bacia das almas.

A cultura desse fruto é das mais complicadas e vulneráveis às adversidades climáticas, pragas e doenças. Não à toa reclama-se da quantidade de agrotóxicos que nela é aplicada.

Assim funciona a agricultura, senhores editores gerais. O agricultor que plantou tomate antes da má safra atual investiu em tecnologia, teve um clima bom, colheu pra burro e vendeu barato para zelosas donas de casa e espertas cantinas.

Resultado: ficou descapitalizado para bancar o próximo plantio. Muitos mesmo até deixaram de colher, pois o preço do produto não justificava a mão de obra.

Sem grana, no novo plantio, teve de economizar em tecnologia e rezar pela repetição de um bom clima.

São Pedro não o atendeu. Perdeu produtividade, aumentaram as doenças, colheu menos, a oferta ficou menor e o preço subiu.

Como pinheirinhos no Natal, ovinhos de chocolate na Páscoa, presentinhos no Dia das Mães ou dos Namorados… deu para entender ou precisa que faça um desenho?

Aí vêm as folhas e telinhas cotidianas alarmar a população para a “inflação do tomate” e um dono de cantina anunciar boicote aos agricultores de Itapetininga e Capão Bonito, regiões responsáveis por 80% da área plantada e da produção de tomates do estado de São Paulo.

É dessa forma que desde o denodado plantador de tomates, Antônio Veropomodoro, de Apiaí (SP), até a presidente da República, Dilma Rousseff, preocuparão as sobrancelhas de William Bonner, hoje à noite, no Jornal Nacional.

Que pelo menos tivesse a honestidade de tirar o assunto do noticiário econômico para o de política.

Rui Daher

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