Orações para quem ama, adora, idolatra o dinheiro
AOS DEUSES DO MERCADO
Nestes tempos infernais de crise econômica internacional causada pela usura e voracidade dos banqueiros, duas singelas orações dirigidas aos deuses do mercado.
Um ‘Capital Nosso’ e um ‘Credo Capitalista’…
CAPITAL NOSSO
Capital nosso que estais neste mundo, deus todo-poderoso, que altera o curso dos rios e fura as montanhas, que separa os continentes e une as nações, criador das mercadorias e fonte de vida, que comanda os reis e os súditos, os patrões e os assalariados, que vosso reino se estabeleça sobre toda a Terra;
Dai-nos muitos compradores que adquiram nossas mercadorias, tanto as boas como as más;
Dai-nos trabalhadores miseráveis que aceitem sem revolta todos os trabalhos e contentem-se com o mais vil salário;
Dai-nos tolos que creiam em nossos jornais;
Fazei com que nossos devedores paguem integralmente suas dívidas e que o banco desconte nossos papeis;
Fazei com que cárceres não se abram jamais para nós e afastai-nos da falência;
Concedei-nos rendimentos perpétuos.
Amém!
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CREDO DO CAPITAL
Creio no Capital que governa a matéria e o espírito;
Creio no Lucro, seu filho legítimo, e no Crédito, o Santo Espírito, que dele procede e é adorado conjuntamente;
Creio no Ouro e na Prata que, torturados na Casa da Moeda, fundidos no cadinho e batidos na balança, reaparecem ao mundo como Moeda legal e que, consideradas demasiado pesadas, depois de terem circulado sobre toda a Terra, descem aos subterrâneos do Banco para ressuscitar como Papel-Moeda;
Creio na Renda a cinco por cento, a quatro e a três por cento igualmente e na Cotação autêntica dos valores;
Creio no Grande Livro da Dívida Pública, que garante o Capital contra riscos do comércio, da indústria e da usura;
Creio na Propriedade individual, fruto do trabalho dos outros, e na sua duração até ao fim dos séculos;
Creio na Eternidade do Salário que desembaraça o trabalhador das preocupações com a propriedade;
Creio no Prolongamento da jornada de trabalho e na Redução dos salários e também na Falsificação dos produtos;
Creio no dogma sagrado: COMPRAR BARATO E VENDER CARO;
E igualmente creio nos princípios eternos da nossa muito santa igreja, a Política Econômica Oficial.
Amém!
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Por Paul Lafargue com tirinhas de Allan Sieber
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