Para velha mídia democracia é manutenção de privilégios
Diariamente a velha midia produz uma visão única do mundo, um consenso fabricado de acordo com seus interesses, que é distribuída à sociedade em forma de noticiário. Essa “imprensa” brada impropérios contra governos progressistas eleitos pelo povo, tachados de antidemocráticos por não se enquadrarem em suas linhas editoriais.
ENQUADRAMENTO – CONTRA O CONSENSO DE INTERESSES FABRICADO
Por Fagner Torres de França *
A comunicação é uma das dimensões mais importantes da vida humana individual e coletivamente. Sem ela, não podemos formar polos de relacionamento baseados num conhecimento comum do mundo, o que dificultaria a ação comunicativa na Terra. Por isso ela deve ser abundante e, idealmente, motivada pela verdade e confiança nos interlocutores.
Vivemos, porém, uma contradição. Vários autores classificam e pensam nossa época com expressões como Era da Informação, Sociedade do Conhecimento etc. De fato, os produtos midiáticos vêm crescendo de forma acelerada para atender a todos os nichos de interesse. Num movimento inverso, a propriedade dos meios de comunicação está cada vez mais concentrada, reduzindo, consequentemente, a pluralidade da informação que circula no espaço público.
O conceito complexo de democracia, apropriado e distorcido, é sempre aplicado para referir-se à imprensa privada, e não à multiplicidade de opiniões que deve circular para o próprio bem da democracia – aliás, ela mesma ausente das redações e diretorias de empresas de comunicação, onde a autoridade é sempre exercida verticalmente por herdeiros nunca eleitos por ninguém.
Demanda reprimida
São essas mesmas pessoas que diariamente são encarregadas de produzir e reproduzir uma visão única do mundo, um consenso fabricado de acordo com seus interesses, em seguida distribuídos à sociedade em forma de noticiário. São elas também que, dia após dia, bradam impropérios contra governos progressistas eleitos pelo povo, tachados de antidemocráticos simplesmente por não se coadunarem com suas linhas editoriais.
Durante séculos, os cidadãos foram obrigados a consumir estas informações de mão única simplesmente por não terem como expressar suas próprias opiniões ou mesmo ter acesso a outras divergentes. Com a expansão da internet, este quadro se transforma gradualmente e, pela primeira vez, vislumbra-se a possibilidade de uma democracia informativa efetiva, levada adiante principalmente pelos militantes da mídia alternativa.
Um pequeno passeio pelo mundo virtual revela uma situação sociologicamente admirável: milhares de pessoas expondo seus pontos de vista em blogs pessoais, caracterizando um fenômeno de demanda reprimida por opinião. Embora não com o mesmo alcance, agora é possível mostrar quem você é e o que deseja para milhões de pessoas conectadas à internet e que estejam dispostas a compartilhar experiências.
A importância da blogosfera
E é bom que se saiba. Por mais que digam o contrário, a chamada grande imprensa não é objetiva nem imparcial. Ao ler um jornal, ver ou ouvir um noticiário, deparamos com interesses, submetidos à política e ao mercado. No limite, eles aparecem. Por exemplo, mas eleições. Nelas, luta-se pela manutenção do status quo das empresas, também econômica e politicamente. Em outras palavras, apoia-se o candidato mais alinhado com a conservação do poder vigente que segue os ditames de Washington.
É nesse contexto que a blogosfera assume importância fundamental no sentido de contrapor uma resistência a uma estrutura que sustenta um mundo desigual e excludente. Por isso, é necessário que aqueles que, de certa forma, se sintam insatisfeitos e não possuam canal de comunicação, ajudem agora a quebrar o poder hegemônico da informação consensual e unidirecional, que rotineiramente esconde a possibilidade de outros mundos possíveis. Nesse processo de esclarecimento mútuo possibilitado pelas novas tecnologias digitais, daremos um passo adiante no sentido de uma democracia realmente substancial.
* Fagner Torres de França é estudante de Natal, RN, em artigo publicado no Observatório da Imprensa.
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