Pessoas desapareceram das imagens de tsunami no Japão
Na guerra a primeira vítima é a verdade; na tragédia do Japão a segunda é a informação
Do blog O Chefe de Redação
Quem primeiro chamou a atenção para o fato foi o companheiro de blog Yuri Vandereer, que comentou a presença de veículos — parece que trafegando tranquilamente — no vídeo de cerca de 2 minutos que publicamos aqui com imagens dramáticas do exato momento que o tsunami começa a invadir a cidade japonesa de Miyako.
Nele, um cinegrafista filma da varanda de um apartamento a força destruidora da água negra. A câmera se desloca do mar em direção à cidade. Quando chega próxima à avenida, onde três carros se encontram no caminho da onda gigante, aos 40 segundos de exibição, a imagem é desviada e não mostra mais o que aconteceu naquela via.
Agora esta mesma observação foi feita pelo diretor de jornalismo do iG, Luciano Suassuna, em sua coluna Análise, no site de notícias Último Segundo. E ele foi mais adiante:
“No país em que as pessoas fizeram da câmera de filmar uma extensão do olho, o terremoto seguido de tsunami foi, à primeira vista, exposto de forma ampla, geral e irrestrita: casas, estradas, aviões, barcos, carros, árvores, tudo desceu, água abaixo, nas telas do mundo. Num olhar mais atento, contudo, nas impressionantes cenas havia de tudo, menos gente.”
De fato, raras foram as pessoas a aparecer no meio do caos provocado pela natureza em fúria na hora que ela se manifestava.
A maioria das imagens mostrando casas sendo engolidas pelo tsunami, feitas a grande distância, dava a impressão que os moradores haviam sido evacuados a tempo. Não foram. Muito provavelmente sequer tinham a mínima noção da trágica surpresa que enfrentariam.
Suassuna prossegue em sua crítica à cobertura esmeradamente asséptica dos chamados grandes meios de comunicação:
“Não se trata de mostrar a morte ao vivo. No atentado terrorista do 11 de setembro, agências de notícias e emissoras de televisão optaram por não disseminar nem exibir imagens de pessoas desesperadas nos andares mais altos, fugindo do fogo num salto para o vazio. Seus corpos, estendidos ao chão, não ampliariam o drama humano, nem dariam sentido diferente ao terror dos atentados. O drama foi exaustivamente contado pelos parentes das vítimas, pela história dos bombeiros arrastados pelo desabamento, pelos sobreviventes.
Mas a escassa presença de gente nas imagens do tsunami, aliada às desencontradas informações sobre a extensão do acidente nuclear na planta de Fukushima, indica um jeito muito particular dos japoneses lidarem com suas tragédias. No caso do tsunami a omissão significa respeito aos que não conseguiram escapar a tempo. Mas o vazamento nuclear não pode merecer o mesmo tratamento. Nesse caso, omissão é irresponsabilidade.”
Suassuna foi ao ponto. Se governos estrangeiros indicam que a situação é pior que a informada oficialmente, as autoridades japonesas deveriam, no mínimo, abrir suas instalações para uma comissão independente dirimir a dúvida.
Com o tempo, não se sabe quando, a história de Fukushima será contada em sua verdadeira magnitude. Por enquanto, pelo que se nota, a mídia tem preferido não mergulhar muito fundo nestes problemas. É Suassuna quem conclui dando a pista:
“Se na guerra, a primeira vítima é a verdade (porque a mentira das autoridades vem antes dos embates armados), na tragédia japonesa ela é a segunda, imediatamente depois das vidas perdidas no maior terremoto da história do país.”
Veja também:
A ‘IMAGEM SÍMBOLO’ DO TERREMOTO E TSUNAMI NO JAPÃO
IDOSOS, AS MAIORES VÍTIMAS DA TRAGÉDIA DO TSUNAMI NO JAPÃO
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É interessante como a falta de conhecimento ou de foco nos faz julgar antes de tentar compreender.
Antes de julgar a “falta de corpos”, tente entender o sofrimento das pessoas e dos seres humanos envolvidos. Creio que as pessoas talvez não entendam a dificuldade de evitar o “sensacionalismo” de mostrar pilhas de corpos e pessoas que perderam tudo em sofrimento… digo isso porque é preciso muita coragem e sentimento humano para não explorar essas imagens para ganhar audiência e telespectadores.
Tive a oportunidade de cobrir o terremoto de Kobe e ver câmeras e fotógrafos se empurrando para pegar o melhor ângulo para filmar uma mãe chorando quando recebeu a notícia do falecimento da filha é uma coisa chocante… a imagem pode ser comovente na TV, mas o bastidor dela é muito mais…
Estivemos cobrindo o Tsunami no Japão e concordo plenamente sobre as informações erradas e desencontradas do governo japonês no caso de Fukushima e, também entendo o posicionamento do governo, uma vez que é uma questão de segurança nacional, compreendam… “entendo, mas, não compactuo ou aceito”, apenas… entendo… uma vez que o país é cercado por países com quem possuem “rixas históricas” (Coréia do Norte, China, Rússia, etc).
Uma coisa ficou clara para mim… Minha admiração e respeito pelo povo japonês e sua cultura só aumentou. Apesar dos erros, em minha opinião, justificáveis, os exemplos dados pelo povo foi gratificante. Quem dera tivéssemos algo assim no Brasil.
No mundo em que vivemos o interesse dos outros sempre vai estar em segundo plano, se fosse ao contrário todos viveriam pacificamente.Uma coisa é certa, a maneira de o mundo encarar a honestidade e a justiça japonesa QUESTIONADA como nunca antes.
Em compensação, o canal de TV paga NHK, japonês, liberou o sinal de graça por esses dias e praticamente só mostra gente sendo resgatada e tratada pelas equipes de socorro. É muita gente!
Apesar da língua incompreensível as imagens são impressionantes.
Já para quem entende japonês é uma ótima opção para obter informações mais “humanas”.
Abs,
Lauro
Yuri é meu ídolo. Além de lindo é super observador como todo bom designer. Presta a atenção nos mínimos detalhes, não escapa nada daqueles olhos azuis. Uma fera o carinha.