Poesia de Romério Rômulo: quando o mundo acabar e todos partirem
DIABOS PELOS CANTOS
quando todos partirem
1.
quando todos partirem
eu vou ficar sem muros
e o silêncio dos cachorros
vai desabar sobre mim
penso nas ladainhas a rezar
nos bancos que serão meus assentos
e na ausência das aves
as pedras do meu olho
vão cair nos rios
e a minha mão
vai moer as cordas do tempo
pela noite
minhas facas saberão das noites a cortar
dos bichos a saber
e do meu corpo desfraldado
as carnes não deixarão rastros
e o ferro das ruínas
não caberá no poema.
2.
quando o mundo acabar
vou mutilar meus braços
meu hálito, meu desacerto.
quando o mundo acabar
vou desatar a glória
dos deuses correntes:
todos os diabos vão ficar nos cantos
das vias destratadas
os sóis serão banidos
e o começo de tudo estará pronto
(cozido, costurado, morto)
no adro do tempo
nem o meu coração tremido
vai bater.