Por que certas pessoas falam tanto… e não conseguem dizer nada?
EM BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSQUITO
“Às vezes é melhor manter-se calado e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que abrir a boca e acabar de uma vez por todas com a dúvida”. – frase atribuída a Abraham Lincoln.
A ELOQUÊNCIA DO SILÊNCIO
Já que falamos mais do que ouvimos, como se expressar bem, seja escrevendo ou emitindo sons? Essa é uma das questões presentes desde sempre para a humanidade.
Na vida profissional ou amorosa, durante apresentação de trabalho aos chefes na empresa ou numa mera conversa de bar, comunicar-se faz bem faz toda a diferença.
Muitos sábios se detiveram nesse tema. Quase todos condenaram a verborragia, a eloqüência desmedida, a suntuosidade verbal.
A opção é pela simplicidade e pela brevidade. Uma pessoa afetada na maneira de falar ou de escrever é afetada em outras esferas.
“A verdade precisa falar uma linguagem simples, sem artifícios”, escreveu um filósofo da Antiguidade.
Montaigne (1533 – 1592) dedicou linhas brilhantes ao assunto em seus Ensaios, onde conta duas fábulas instrutivas e divertidas.
Numa delas, os embaixadores de uma cidade grega tentavam convencer o rei de Esparta a aderir a um esforço de guerra.
O espartano deixou-os falar longamente. Depois disse: “Não lembro do começo e nem do meio da argumentação de vocês. Quanto à conclusão, simplesmente não me interessa”.
Na outra história, dois arquitetos atenienses disputavam a honra de construir um grande edifício. A platéia que faria a escolha ouviu um extenso discurso do primeiro arquiteto.
As pessoas já se inclinavam por ele quando o segundo disse apenas: “Senhores atenienses, o que este acaba de dizer é o que eu vou fazer”. Levou.
Montaigne cita o seu pensador predileto, o romano Sêneca, segundo o qual nos grandes arroubos da eloqüência há “mais ruído do que sentido”.
Escreveu Montaigne: “Gosto de uma linguagem simples e pura, a escrita como a falada, e suculenta, e nervosa, breve e concisa, não delicada e louçã, mas veemente e brusca. Uma linguagem sem afetação, expressiva em todos os seus aspectos, não uma linguagem pedante, fradesca, ou de advogado, mas de preferência soldadesca”…
Os espartanos eram admirados por Montaigne pela simplicidade com que viviam e se expressavam.
Ele conta que uma vez perguntaram a uma autoridade de Esparta por que não colocavam por escrito as regras da valentia para que os jovens pudessem lê-las.
A resposta foi que os espartanos queriam acostumar seus jovens antes aos feitos que às palavras. “O mundo é apenas tagarelice e nunca vi homem que não dissesse antes mais do que menos do que devia”, disse Montaigne.
Outro mestre de Montaigne, Plutarco, autor de Vidas Paralelas, mostrou que falar demais pode ser até bastante perigoso.
“A palavra expõe-nos aos mais pesados castigos que deuses e homens podem infligir. Mas o silêncio jamais tem contas a dar. Não só não causa sede como confere um traço de nobreza.”
Não falar nada é, muitas vezes, a melhor coisa que temos a dizer, mas uma força irresistível parece sempre nos empurrar para o “mundo da tagarelice”, tão bem definido por Montaigne.
E então, estamos condenados a produzir “mais ruído que sentido”, para lembrar a grande tirada de Sêneca.
Por Paulo Nogueira