Rede Globo censura atriz Maitê Proença e cobra de outros artistas
NO PODER DA GRANA É ONDE A GENTE SE VÊ
A atriz Maitê Proença admitiu publicamente que foi obrigada a pedir desculpas à TV Globo por participar de um episódio do humorístico Porta dos Fundos.
É mais uma evidência de como a empresa exerce seu poder de ordem unida, a exemplo do que faz a tropa nas Forças Armadas.
Durante o “Roda Presa”, na TV Cultura, Maitê estava bem “Viva”:
“Eu combinei com eles (Porta dos Fundos) que eu queria uma coisa bem baixa. Não podia ser uma coisa elegante. Aí eles deitaram e rolaram. Para fazer o comum, eu faria na televisão, faria a TV Globo. Achei que era um bom tema demolir a atriz consagrada. Mas não vou fazer mais nada com eles porque eu não sabia que não posso”.
“Os canhões” devem necessariamente estar a serviço das causas que os Marinho defendem. É para isso que pagam “generoso soldo”, como estão sempre a lembrar aos colaboradores.
Neste sentido, portanto, ousar pode levar à forca, à guilhotina ou ao ostracismo, a pior das penas para um global.
No ano passado, outro ator entrou na dança. Num evento para a prefeitura de Suzano, no interior de São Paulo e cujo vídeo tornou-se um fenômeno viral na internet, Caio Blat foi ao ponto:
“Eu ia sempre na Globo pra divulgar os filmes que estava fazendo. Ia no ‘Vídeo Show’, no programa do Serginho Groisman para falar do filme, mostrar o trailer e tal. E achava que isso era um trabalho natural de divulgação. Aí eu descobri que essas coisas são pagas”, afirmou, perdendo a inocência.
Para, afinal, arrancar as máscaras: “quando vou no programa do Jô Soares fazer uma entrevista, em que ele mostra um trecho do filme, isso é considerado uma ação de merchandising, e não jornalismo”.
Se o controle é assim na linha de shows, imagine no jornalismo, principalmente em questões “sensíveis à casa”.
Recentemente tenho recebido dos amigos opiniões simpáticas aos noticiosos da emissora, principalmente às coberturas locais. No entanto, sei que esta “flexão” é para inglês ver.
Uma empresa que tanto sonega à Previdência e à Receita Federal, portanto a todos os brasileiros, não pode se dar ao luxo de confrontar ostensivamente.
No entanto, sabemos que esta aparente liberdade é vigiada por um sem-número de instâncias de controle. Há mais intermediários entre a cúpula e a base do que ajudantes na cozinha das redações.
É um exército bem treinado, que sabe direitinho em que temas pode avançar sem ter que consultar a direção.
Por exemplo, o gênero polícial (se não esbarrar no Alckmin), cidadania e serviços públicos essenciais (se esbarrar no Haddad) estes a ordem é cobrir ostensivamente. O mesmo vale para o “factual”, onde os serviçais “testam hipóteses”.
Mas experimente questionar ou mesmo variar o cardápio nas coberturas dogmáticas, como são as de economia e política.
Afirmo, porque fui editor de política e economia durante quase toda a minha carreira nos telejornais da emissora: Todos os temas importantes estão sujeitos à consulta prévia e ai de quem não cumprir o “encaminhamento”.
E isto vale para matéria sobre o preço de pãozinho, portos, petróleo, inflação, emprego etc.
Assim o mundo segue seu curso, desigual, injusto e desumano. Mas se o telespectador estiver distraído, e a maioria está mesmo, nem percebe tanta sutileza.
Neste sentido, não dá para chamar um soturno de incompetente, não é mesmo?
Com Marco Aurélio Mello, no DoLaDoDeLá