Afiliada da Globo no Rio também faz campanha contra a Copa
REDE DE TV CERCA POR TODOS OS LADOS
Noite dessas, intervalo da novela das sete, uma apresentadora da InterTV RJ – afiliada da rede Globo que cobre as regiões Serrana e dos Lagos, além do Noroeste e Norte fluminense – fez a chamada do telejornal local, sobre uma “crise da saúde no interior do Estado do Rio”. Mais ou menos assim:
“Faltam aspirinas nas unidades de atendimento de Sumidouro e ansiolíticos nos postos de Cordeiro. Fraldas geriátricas praticamente desapareceram das farmácias populares de Teresópolis, CIDADE ONDE A SELEÇÃO BRASILEIRA TREINA PARA A COPA DO MUNDO. Veja, em instantes”…
Dona Lilia Blatt, mãe dos editores deste MIncBlog, se agitou na poltrona e, do alto de seus quase 90 anos, foi direto ao ponto: “Hehehe… mas olha só que ordinários, ligando uma falta ocasional de alguns remedinhos mixurucas com a Copa. Outra manipulação, cumprindo ordens da matriz”.
A velhinha sabe muito bem que os investimentos com o Mundial de Futebol representam uma parcela ínfima comparada aos recursos orçamentários destinados anualmente aos setores de saúde e educação. Não adianta jogar contra porque, para a Globo, a verdade é dura: o povo não é bobo.
Com toda a sua idade, Dona Lilia adora comparar o noticiário de TV com o contraponto que é feito na Internet. Além dos filhos blogueiros, naturalmente, ela aprecia em especial as análises de Luis Nassif – que, por sinal, se superou na sua abordagem sobre o negativismo da velha mídia:
NEYMAR CHUTOU DE CHALEIRA A URUCUBACA DA MÍDIA
Na Internet, o jornalão envia repórteres para identificar falhas em todos os estádios. A manchete principal foi essa: “Estádio de Fortaleza tem vigas à mostra”. Foi a única coisa que teve para dizer. A construção do estádio, a arquitetura, a valorização do entorno, tudo foi varrido para baixo do tapete do negativismo.
Na página de cobertura da Copa desse mesmo portal, as últimas notícias são assim: “Governo reconhece que metade dos estádios na Copa terá internet lenta”, “CNN faz alerta para prostituição infantil em Fortaleza”, “Governo paga viagem e gringos sofrem tentativa de assalto no Rio”.
Os “Brasinhas” – tira que se popularizou nas redes sociais – não resistiu ao prato saboroso. O amiguinho de azul encontra outro amiguinho com bandeira dos EUA e comemora: “Ser chique, hoje, é torcer contra o Brasil”. O amiguinho pondera: “Mas… e se ele ganhar”. Ganha um catiripapo na orelha: “Deixa de pensar negativo”.
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Ontem, quando o ex-jogador e comentarista esportivo da ESPN norte-americana, Alexis Lalas, desembarcou no Galeão, foi cercado por repórteres ávidos por más notícias. Para decepção geral, ele se declarou encantado com a estrutura encontrada.
Em sua página no Twitter elogiou a rapidez e a sinalização do aeroporto e declarou que em nenhum terminal aéreo dos EUA o desembaraço da bagagem é tão rápido. Ironizou o fato de ter desembarcado no Rio e nenhum “órgão” ter sido roubado. E, depois de um passeio em Copacabana, elogiou a “gente bonita, o clima bom e a segurança visível”.
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Há dois anos, a cobertura sistemática da Copa não reservou um espaço sequer para o feito nacional, com seus inúmeros atores, para preparar o país para a maior Copa da história. Divulgaram apenas a exceção, os problemas usuais em preparativos dessa ordem, e transformaram em regra.
Não conseguiram apenas comprometer o maior momento de marketing da história do país, espalhar a má imagem nacional por todo o mundo: desprezaram um imenso esforço conjunto juntando governo federal, governos estaduais de todos os partidos, prefeitos de capitais, Polícia Federal, Ministério Público, secretários de transporte, de segurança, técnicos em mobilidade urbana, especialistas em turismo, bancos públicos, empresas de engenharia, fundos de investimento.
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Em São Paulo, os esforços juntaram governo federal, estadual e municipal. Esse mesmo trabalho foi feito em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Fortaleza.
Ao jogar para baixo o moral nacional, com a única intenção de atuar politicamente, os grupos de mídia demonstraram que seus interesses particulares estão acima do próprio interesse nacional e até de seus anunciantes.
Em nenhum momento participaram de nenhuma etapa de construção desse evento. Mas se tornaram os maiores beneficiários, recebendo um volume recorde de verbas de patrocínio.
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Julgaram que estavam cravando a “bala de prata” na testa de Dilma, atribuindo a ela todos os problemas, independentemente de serem da alçada do governo federal, estadual ou municipal, de clubes esportivos. Mas acertaram a bala no centro da autoestima nacional.
Mas ontem, enquanto Neymar encantava o mundo com seus passes, São Paulo parecia viver um feriado: ruas desertas para que os paulistanos esquecessem as manchetes e celebrassem o país e a Seleção. Como se dissessem, “vocês não vão matar a alegria”.
(Clique nas imagens para ampliar)
Pois é…
Para quem é jovem há mais tempo, como eu e, portanto, tem mais tempo de estrada, fica fácil de estabelecer comparações, como a da senhorinha do texto.
Ela viu um país quase na idade da pedra lascada dar saltos gigantescos e aquela população pobretona que vivia das sobras de roupas, de subempregos, em barracos miseráveis, migrar para patamares sociais um pouco melhores, que os façam parecer mais com seres humanos.
Acontece que a sabedoria de vida e a longa estrada trilhada pela senhorinha em questão é privilégio de poucos. São poucas as pessoas que se dispõem a olhar para a História do país, para a sua própria História, e honestamente dizer, sem paixões, o que aconteceu e o que acontece hoje.
Há muitos senhores e senhorinhas que olham com mágoa para o presente porque no passado a “Maria”, que era tão zelosa no trato da casa e até ajudava na educação das crianças, hoje custa uma pequena fortuna para seus orçamentos e as “Marias” nem estão assim tão dispostas a se sacrificarem em subempregos.
Há a geração dos filhos das senhorinhas – na qual me incluo – que cresceu à sombra da ditadura militar e acabou se acostumando a ver o errado virar certo e o certo virar errado – com uma cumplicidade e passividade que deixariam um rebanho de ovelhas mortas de vergonha.
Acharam mais fácil fazer o jogo hipócrita do falso moralismo, se embrenhando em alguma seita 171 para legitimar suas aspirações falso-moralistas e talvez achar um pouco de sossego para suas consciências carregadas de culpa por terem entrado de cabeça no esquema da lei de Gérson onde todo mundo tem que levar vantagem em tudo e que f…-se o resto.
E essa geração, a nossa geração, criada à sombra da hipocrisia e da mentira institucionalizadas, resolveu fazer de seus rebentos a única e exclusiva razão para a sua existência.
O resultado disto? Garotos e garotas abobalhados, infantilóides, mimados, sem noção das dificuldades que a vida apresenta e comportando-se como eternos bebês chorões que sapateiam e esmurram as portas ao serem contrariados. Diga qualquer mentira bonitinha aos ouvidos de um bobalhão e ele fará dela um lema de vida.
Eis o ponto: há muito tempo, há décadas, não temos um lema de vida neste país. Só de sobrevivência. Sobrevivência aos economistas e seus planos fracassados; sobrevivência às maracutaias do sistema financeiro e ao FMI; aos políticos demagogos; à Igreja cínica que teima em tratar como manada o povo; sobrevivência à crise de cultura, de humanidade.
Nós temos uma crise, sim. De humanidade. E onde reina esse samba do crioulo doido a engenharia social – uma das armas poderosas a serviço dos poderosos e à qual poucos tem acesso e conhecimento – começa a funcionar, propagando “verdades” quase que dogmáticas como: O país está uma m…, nunca houve tanta corrupção, a Copa vai terminar de quebrar o Brasil, os comunistas do PT estão tramando um golpe para transformar o Brasil num Cubão, etc, etc.
Estas coisas, marteladas dia após dia, direta ou indiretamente nos ouvidos da população, surtem o efeito narcótico de um mantra entre os velhinhos que suspiram de saudades do tempo da “Maria” em tempo integral, nos seus filhos que oportunamente esquecem dos grandes escândalos político-administrativos que este país já viu e que muitos deles devem ter se locupletado de uma forma ou de outra e gritam como beatas velhas o seu horror diante do maior escândalo de corrupção que o Brasil já viu.
Estas coisas grudam nos ouvidos da geração marsupial, a que nasceu e cresceu cercada de mimos e tecnologias e que de repente, mesmo sem nunca ter aprendido a rezar um Padre Nosso, vêem nas “informações” da mídia as trombetas do apocalipse soando e se agarram à canalhice do Olavo de Carvalho e à má fé do padre Ricardo para demonstrarem toda sua indignação como um bando de beatas saídas de um romance do séc. XIX.
Nós temos uma crise, sim. Grande. Mas de valores humanos. Porque a classe média quis tanto fazer grana que se esqueceu de fazer homens e mulheres de seus filhos e filhas. Criou um bando de “barbies” egocêntricas. E é este monturo social de coxinhas que ainda sustenta essas bizarrices que vemos na mídia diariamente.
Mas em meio a tudo isto, tenho ainda a ressaltar dois pontos positivos: o primeiro é que o tom de histeria da mídia e de seus apoiadores beira a esquizofrenia, o desespero total. Imagino que se o PT reeleger Dilma, haverá uma onda de suicídios ou fugas do país. E isto é ótimo. Livremo-nos de todos os males, Amém.
O segundo ponto positivo é que os pobres Brasileiros – a imensa maioria da população – e que foi a grande beneficiada pelas políticas sociais nestes últimos 12 anos, não pensa de acordo com tabelas ou estudos cheios de termos técnicos dos jornalões. Essa turma usa a memória, principalmente a memória de sua própria história. Costuma pôr na balança as conquistas econômicas e sociais que a família teve, o emprego, a escola, etc.
E é esta população que já sacou que os números do desastre propalado pela mídia não fecham com as suas contas. É esta população que faz o churrasquinho e a pizza no dia de jogo da Seleção Brasileira e torce pelo hexa e é esta população quem decide uma eleição, no fim das contas.
Culpa da casa grande. Não tivessem deixado o povo na miséria em que estavam, talvez ainda pudessem engambelá-lo um pouco mais e retornar ao poder pelo voto.
Como sempre, Fernando, irretocável em suas intervenções. Aplaudo de pé: Clap! Clap! Clap!
Agora, “geração marsupial”… essa é boa demais, não conhecia. Vai virar banner em breve.
Obrigado e um forte abraço. Paulo
E não é, Paulo? Esse povo se recusa em deixar a bolsa marsupial de papi e mami e só quer saber do bem bom. Na minha época, o sonho dourado era ter autonomia e um canto próprio, sem ninguém para ditar regras a não sermos nós mesmos. Muita mudança para nada. Mas se gostou, passe para frente.
O que eu gostaria muito, mesmo, era que a campanha #nãovaiterquintacoluna decolasse. Explico: quinta coluna era o apelido dos nazi-fascistas brasileiros alinhados ao eixo na segunda guerra mundial. Eram chamados na lata de traidores e não raro levavam um couro do povão.
Em tempos modernos, o quinta coluna é o imbecil que quer ver o Brasil perder a Copa, que nega os avanços sociais da última década, que quer ver o país de joelhos de volta às mãos do FMI e da ciranda financeira sionista, devendo até a alma.
Não acha o termo apropriado aos coxinhas? E a campanha, não é apropriada à época da Copa?
Abraços!