Brasil pode se transformar, em 2014, num ‘imenso Portugal’?
PAÍS TERÁ QUE SE DECIDIR PELO SEU IDEAL
A turma que hoje enfia, sem cerimônia, o pé na jaca e a mão na cumbuca da zona de euro, reza pela mesma cartilha dos neoliberais que tungaram o Brasil de tudo quanto foi jeito na década de 1990.
Caso os privatistas tupiniquins não tivessem sido enxotados pelas urnas há 10 anos, imagine o que não estaria ocorrendo por aqui desde que estourou a crise internacional no final da década passada.
Veja só o que os caras estão aprontando em Portugal, um dos países mais duramente atingidos pelo desemprego provocado pelas tais “medidas de austeridade”, eufemismo para forrar os cofres dos banqueiros com dinheiro público.
9 em cada 10 ofertas de trabalho que aparecem anunciadas são falsas “iscas” e têm como único objetivo criar bases de dados, à margem da lei, com o intuito de avaliar a procura de emprego e tentar baixar ainda mais os salários praticados.
Ou seja, significa que “mais de 90% dos anúncios de emprego são falsos”, segundo Luís Bento, presidente da APG – Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas.
A precariedade laboral e a crescente dificuldade em encontrar emprego fazem florescer um esquema, ilegal, para avaliar o estado em que se encontra a procura de emprego e, de acordo com a oferta encontrada, tentar baixar o valor das remunerações.
ESQUEMA TRANSNACIONAL
A mutreta foi denunciada recentemente e dá conta de como milhares de anúncios oferecendo emprego são, na verdade, operações de fachada para criar bases de dados com informação dos candidatos e avaliar a procura de emprego.
O objetivo é diminuir radicalmente os custos de seleção e criar bolsas de profissionais que aceitem emigrar.
Os anúncios, na sua maioria, aparecem como anônimos ou confidenciais, não referindo sequer a remuneração em causa, área profissional ou forma de contratação.
Como as empresas não têm que fornecer seus dados cadastrais quando do registro do anúncio, os veículos que o publicam não são responsáveis pelo conteúdo. Cria-se, então, um vazio legal que abre caminho ao abuso e à criação de bases de dados à margem da lei.
“As recentes campanhas de recrutamento da Alemanha de profissionais e técnicos especializados no Sul da Europa são um exemplo claro deste esquema”, segundo o presidente da APG.
“É um negócio transnacional, havendo troca e comercialização das bases de dados criadas na mentira e na fraude da oferta de emprego”, afirma Luis Bento.
FARDO NEOLIBERAL
A legislação em vigor permite que o candidato, conseguindo provar que concorreu a uma oferta de trabalho que nunca existiu, possa acusar o anunciante pela utilização indevida dos seus dados pessoais.
O crime é passível de pena de prisão até um ano, mas raras são as acusações porque é extremamente difícil comprovar que havia um posto de trabalho onde ele, concretamente, nunca existiu.
Enfim, é o que acontece agora, neste exato momento, em Portugal. Se os neoliberais daqui defendem abertamente a alta dos juros e demissões para derrubar o consumo, enquanto estão na oposição, imagine do que serão capazes caso retornem ao poder em 2014.
Aí, então, poderemos repetir Chico Buarque em seu “Fado Tropical“: Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal: ainda vai tornar-se um imenso Portugal!