Brasil profundo mostra a sua cara nas eleições municipais de 2012
DE OLHO NO FUTURO
O Brasil realizou uma importante revolução social, nestes últimos dez anos, e não pode recuar. Não é o desespero que faz as revoluções, mas, sim, a Esperança. Os milhões de brasileiros que passaram a viver melhor não aceitarão voltar ao passado de miséria.
O BRASIL, A PARTIR DE AGORA
Por Mauro Santayana *
Há os que vêem, nas eleições municipais de São Paulo, os rumos futuros do Brasil. O umbigo, porém, é mais em baixo.
Talvez lhes fosse mais inteligente observar as votações em todo o Brasil, principalmente nos municípios mais pobres da Federação, espalhados pelas regiões do Norte e do Nordeste.
Os leitores dos colunistas dos grandes jornais conservadores do Sudeste, salvo alguns, menos jovens e mais prudentes, não conhecem esse Brasil profundo, que começa a descobrir que a vida pode ser mais do que o dia-a-dia do sofrimento dos pobres.
Estas eleições são importantes não porque, em São Paulo, em Belo Horizonte ou Recife possam ser eventualmente debuxadas as cartas da sucessão presidencial de aqui a dois anos.
Elas são importantes por duas grandes razões: com a Bolsa Família já consolidada e trazendo os seus primeiros grandes efeitos, na libertação dos mais pobres, o voto não precisa mais ser trocado por uma cesta básica.
Mais do que ter o almoço garantido, os mais pobres passaram a ter a liberdade de escolher seus dirigentes. Nem sempre os melhores, mas com o tempo irão aprendendo.
A outra grande razão é a vigência da Lei da Ficha Limpa, uma conquista direta dos cidadãos sobre a indolência conveniente dos parlamentares.
Segundo os cálculos do TSE, mais de 3.000 candidatos disputaram o pleito sob o risco de, vitoriosos, ter o mandato cassado em seguida pela Justiça.
Essa limpeza ética animará cada vez mais os cidadãos honrados a disputar, nas eleições vindouras, os mandatos com o saneamento efetivo das atividades políticas.
Como o pleito agora se limita aos municípios, os grandes temas nacionais se ausentam das campanhas.
Com toda sua importância para os cidadãos de São Paulo, a eleição do último domingo não irá decidir os rumos do país para mais adiante. O que entrou em jogo, no desenho do futuro é, mais uma vez, a economia.
Em razão disso, é bom concentrar a atenção nas conversações entre a China, a Rússia, o Brasil, a Índia e a África do Sul, em seu projeto, já adiantado, de romper com a famigerada governança mundial.
Tais nações se articulam para a criação do que poderíamos chamar de um Fundo Monetário Internacional dos Brics, a fundação de um novo Banco Mundial para atender a todos os países emergentes e de uma agência independente para a classificação de riscos.
As existentes foram incapazes de prever as crises que enfrentamos, porque, na verdade, são controladas pelos grandes bancos que as provocaram com as fraudes conhecidas.
O Brasil realizou uma importante revolução social, nestes últimos dez anos, e não pode recuar.
Como já constataram alguns pensadores, não é o desespero que faz as revoluções, mas, sim, a Esperança.
Os milhões e milhões de brasileiros que passaram a viver melhor não aceitarão voltar ao passado de miséria e opróbrio.
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* Mauro Santayana é colunista político e foi correspondente internacional nos principais jornais brasileiros.