Como e onde formar opinião nos novos tempos de internet?
LIBERTE-SE DOS ANTOLHOS DA VELHA MÍDIA
Quem atua na blogosfera percebe que as pessoas estão cansadas da mídia tradicional, que ela sempre diz mais ou menos o que dela se espera — sobre protestos, manifestações, política etc.
O que se pode ler, então, e que sirva para a gente saber mais do que sabia, do que já pensava antes de tudo, do que precisa para formar uma opinião e, mais importante ainda, mudar uma opinião formada?
Com a internet, a lógica da comunicação foi sacudida, uma vez que a informação pode ser produzida e distribuída de maneira livre desses chocalhos que os compromissos impõem aos grandes veículos.
Mas, nessa hora, entra em cena um grande definidor do que é dito, e do por quê o que é dito é dito como é dito, também conhecido como ideologia.
Blogs, mesmo livres dos compromissos da velha mídia, não são livres dos compromissos dos seus autores consigo mesmos.
Como formar uma velha opinião sobre o que quer que seja, em um cenário dirigido como esse em que nos encontramos?
Nos EUA, por exemplo, na metade da última década, uma mulher chamada Arianna Huffington criou um blog chamado The Huffington Post.
O HuffPo foi criado a partir de uma estrutura bastante nova e perturbadora: boa parte do que se lê ali não foi produzido ali, ou para ali, mas acabou ali.
O que torna a leitura relevante é o contexto, mais do que o conteúdo. Isso é estranho. E no entanto, informa, forma, ilustra, comprova, sugere, sacode.
O fato é que logo o Huffington Post, uma coisa de esquerda para os padrões americanos, progressista, no seu rótulo genérico, passou a ser muito, muito lido.
Mais: passou a ser lido até por milhões de republicanos, vindos do lado direito do muro.
Os republicanos têm ao seu dispor toda uma rede de comunicações chamada Fox News. Para quem não conhece, é como se fosse possível dizer que a Globo, comparada à Fox News, é uma emissora séria, independente, lúcida, equilibrada.
Se é assim, imagine então o nível da Fox News.
A vasta maioria dos conservadores só assiste a Fox News, e completa a sua formação com a leitura de blogs de direita e programas de rádio ainda mais extremados do que a Fox.
Assim, não é de surpreender que Mitt Romney acreditava que ia vencer a eleição de 2012 contra Obama. Ele vivia na bolha republicana, que somente acredita no que é dito por ela mesma, para si mesma.
Lá, vivem os bolhas. Os republicanos menos bolhas lêem The Huffington Post, por saberem que é isso, ou a morte.
O risco dos nossos tempos, com a segmentação que esse mundo permite, é a criação de bolhas, tantas quanto necessárias.
Assim, você e seus preconceitos podem viver ali mesmo, leves e soltos, felizes na sua desinformação sobre tudo mais que acontece, ou sobre outras formas de ver o que acontece.
Nesse maravilhoso mundo novo, você não lê para se informar, porque isso dá um trabalho danado. E ter que buscar nas entrelinhas, não importando a fonte, cansa.
Além de cansar incomoda, e quem quer ser incomodado no sacrossanto ambiente de si mesmo, quando já existe tanta coisa com a qual se incomodar?
Os direitosos querem, desejam, pedem, acima de tudo, uma bolhazinha de proteção. Mas acontece que a esquerda de verdade é, essencialmente, fura-bolhas.
Existem verdades, existem versões, e é preciso interpolar, mesmo ao custo de ser necessário ver e considerar hipóteses que nos irritem profundamente. A verdade é mais importante do que o nosso bem-estar.
Assim, não somos o que lemos, porque isso apenas nos descreve, não define. Somos o que não lemos.
Nossa fronteira é a do desconhecimento, especialmente daquilo que preferimos não saber, por medo ou desconforto.
Os Felicianos da vida, dizem os psicanalistas, são gente com sexualidade frágil e com medo do que podem descobrir, se tentarem.
Os leitores que não lêem além dos limites do conhecido não são muito diferentes. Esse medo, essa resistência, tem razão de ser.
É a fragilidade do que sabemos que nos faz não querer olhar para o outro lado, não saber o que não sabemos, não darmos um passo para o lado que assusta por ser, por não se mostrar, por não servir para confirmar, de antemão, tudo aquilo que sempre soubemos sobre o mundo, e sobre nós mesmos.
Remix