Cooperação em redes sociais acelerou a evolução humana
Do blog ECOnsciência
Os humanos não são especiais devido ao tamanho de seu cérebro.
Não é por isso que conseguimos construir foguetes espaciais – nenhuma pessoa consegue. Temos foguetes porque 10 mil indivíduos cooperam para produzir a informação.
São dois os principais traços que sustentam o sucesso evolutivo humano:
. a incomum capacidade de cooperação entre pessoas sem laços familiares – em quase todas as outras espécies, apenas indivíduos de íntimo parentesco ajudam uns aos outros;
. e o aprendizado social, a habilidade de copiar e aprender a partir do que os outros estão fazendo.
Uma rede social grande e concatenada pode gerar conhecimento e adotar inovações com muito mais facilidade do que uma aglomeração de pequenos grupos hostis, constantemente em guerra entre si – o estado padrão da sociedade dos chimpanzés.
Se uma alteração no comportamento social foi o avanço crucial na evolução humana, a resposta a como os humanos se tornaram únicos está em explorar como as sociedades humanas começaram a se separar dos macacos.
Paleoantropólogos costumam afirmar que as sociedades de chimpanzés são um substituto razoavelmente aceitável para a sociedade ancestral de macacos, que deu origem às linhagens de humanos e chimpanzés. Caçadores-coletores vivos podem espelhar aqueles da antiguidade, já que os humanos viveram dessa forma até as primeiras sociedades estáveis, há 15 mil anos.
A estrutura social das duas espécies não podia ser mais diferente.
A sociedade dos chimpanzés consiste de uma hierarquia de machos, dominada pelo alfa e seus aliados, e uma hierarquia de fêmeas em seguida. O macho alfa contabiliza a maioria das paternidades, compartilhando outras com seus aliados. As fêmeas tentam se acasalar com todos os machos disponíveis, então cada um deles pode achar que é o pai – e poupar o filhote.
Como uma sociedade similar a essa poderia originar a estrutura igualitária e basicamente monogâmica dos grupos caçadores-coletores? Novas correntes da antropologia social buscam definir a transição entre a sociedade não-primata e os humanos.
Esta passagem decorreu de uma série de “acidentes”, cada um permitindo que a seleção natural explorasse novas oportunidades.
Os primeiros humanos começaram a caminhar sobre duas pernas por parecer mais eficiente do que se locomover sobre as juntas das mãos, como os chimpanzés. Isso deixou as mãos livres e agora eles podiam gesticular ou construir ferramentas.
Pois foi justamente uma ferramenta em formato de arma que tornou possível a sociedade humana.
Entre os chimpanzés, os machos alfa são fisicamente dominantes e conseguem derrotar qualquer rival. Mas armas ajudam a equalizar o jogo e, quando todos os machos se armaram, o custo para monopolizar uma grande quantidade de fêmeas se tornou muito mais alto.
Na sociedade hominídea incipiente, as fêmeas ficaram mais igualmente distribuídas entre os machos. A poligamia se tornou a regra geral, passando em seguida à monogamia.
Essa tendência levou ao surgimento de uma importante mudança no comportamento sexual: a substituição da promiscuidade dos macacos pela ligação em pares entre macho e fêmea. Com apenas uma parceira, na maior parte das vezes, o macho tinha um incentivo para protegê-la de outros machos e defender sua paternidade.
O elo entre casais foi o principal evento que abriu caminho para a evolução hominídea. No nível fisiológico, ter um casal de pais permitiu que os filhos fossem dependentes por mais tempo, um requisito para o crescimento cerebral contínuo após o nascimento.
Com isso, a seleção natural foi capaz de ampliar o volume do cérebro humano até ele ficar três vezes maior que o do chimpanzé. (…)
A íntegra dessa deliciosa aventura humana pode ser conhecida em matéria do New York Times que foi reproduzida aqui, em português.
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