EUA precisavam de uma guerra: ela veio com o 11 de Setembro
O PERSEGUIDO
Kurt Sonnenfeld, é um cidadão norte-americano refugiado na Argentina, sujeito a uma implacável perseguição pelo governo dos EUA, considerado uma das peças chave na desmontagem da versão oficial dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001. Foi um dos cinegrafistas autorizados a filmar na área reservada das torres gêmeas em Nova York, após a explosão. Ali, viu coisas que, sem dúvida, não deveria ter visto, o que o obrigou a fugir da caçada a que foi submetido, uma circunstância que dá argumentos à possibilidade de que, mais cedo ou mais tarde, poderá vir à tona o que seria a mentira mais escandalosa que Washington orquestrou em toda a história de suas falcatruas.
TESTEMUNHA INCONVENIENTE: CINEGRAFISTA DO 11/09 VIVE REFUGIADO NA ARGENTINA
Por Luciana Taddeo *
Kurt Sonnenfeld foi o único cinegrafista autorizado a filmar as operações de resgate das vítimas do World Trade Center, em setembro de 2001. Com livre acesso ao perímetro de desabamento das Torres Gêmeas, conhecido como “Marco Zero”, o norte-americano viu e registrou cenas que, segundo ele, contradizem a versão oficial dos Estados Unidos sobre os atentados.
Por ter visto o que viu e não entregar as imagens às autoridades, Kurt vive uma trama kafkiana. Acusado pelo assassinato da própria esposa, ficou 13 meses na prisão, tanto nos EUA como na Argentina, onde mora atualmente. O governo norte-americano, no entanto, alega que o cinegrafista é um fugitivo e pressiona a Argentina por sua extradição.
Novamente casado e pai de gêmeas de cinco anos, Kurt sofre perseguição até os dias atuais, que envolve ameaças, tortura, prisão em dois países, apreensão ilegal de bens e invasões a domicílio. “Tudo isso por coisas que eu nunca quis ver e que, para ser sincero, preferia não ter visto”, lamenta.
11 DE SETEMBRO DE 2001
Minutos antes que os relógios de Denver marcassem as 07h daquela terça-feira, o telefone tocou. Ainda sonolento, Kurt reconheceu, do outro lado da linha, a voz de John perguntando se ele tinha visto a notícia de última hora transmitida pela televisão. Em tom mais carregado de ansiedade e adrenalina que de costume, o chefe ordenou:
– Ligue a televisão e coloque na CNN.
Foram segundos para que o controle-remoto, jogado no chão ao lado da cama, fosse localizado e Kurt que se deparasse com a manchete “Pequeno avião se incrusta no WTC” ao pé da imagem que se reproduziria tantas vezes depois.
– Estamos sendo atacados! – concluiu o chefe, enquanto as teorias ainda giravam em torno de um erro de cálculo da aeronave. Kurt não entendeu: um acidente com um pequeno avião não implicava em um ataque e, sim, em um desastre de proporções remediáveis pela polícia e pelo corpo de bombeiros.
A FEMA (Federal Emergency Managment Agency), órgão governamental para o qual Kurt trabalhava, somente entra em ação quando as catástrofes são de tamanha dimensão que excedem a capacidade do Estado. Enquanto ainda se perguntava sobre a constatação do chefe, a televisão mostrou um segundo avião avançando no sentido da torre Sul, até então intacta ao lado da que ardia em chamas.
Uma explosão e o espontâneo “Oh, my God!” do apresentador do noticiário foram suficientes para que John rompesse o silêncio e decretasse:
– Estão nos atacando, eu já disse. Vá já pra Nova York.
Em menos de 15 minutos, Kurt chegou à sede da FEMA, no Colorado. Em Nova York passava das 10h e relatórios de inteligência já informavam sobre um atentado simultâneo ao Pentágono e a queda de um avião na Pensilvânia.
Como diretor de Operações de Transmissão e Difusão para Emergências Nacionais, seu trabalho consistia em monitorar o conteúdo transmitido pela televisão e divulgar a versão oficial das autoridades norte-americanas, evitando a propagação de possíveis rumores e retificando informações incorretas.
Foi no desempenho desta tarefa que assistiu ao vivo, impotente e indignado, a queda das Torres Gêmeas.
CHEGANDO AO ‘MARCO ZERO’
Com o tráfego aéreo suspenso e a autorização para que caças militares abatessem qualquer avião que sobrevoasse o território, Kurt se desdobrou para chegar à ilha de Manhattan, onde seu trabalho seria essencial: produzir a maior variedade possível de imagens dos escombros e operações de resgates.
Há nove anos na FEMA, o cotidiano profissional de Kurt se resumia a frequentar zonas afetadas por catástrofes. Kurt também foi à televisão durante os resgates do WTC, já que era o único que podia descumprir a mensagens de “proibido filmar” anunciadas nas dezenas de cartazes espalhados pelo local.
A permissão teve que ser provada inúmeras vezes por ele, tanto para agentes do FBI que circulavam como para bombeiros, que reagiam indignados à presença da câmera.
No primeiro dia, enquanto filmava um carro de bombeiros deformado sob toneladas de escombros, um jovem vestindo um uniforme cheio de barro empurrou sua câmera violentamente. Após os esclarecimentos, o bombeiro afirmou, com tristeza e raiva:
– Dentro deste caminhão morreram muitos companheiros meus.
A frase foi concluída com uma cabeçada no nariz do cinegrafista, que não protestou. Kurt conhecia de perto a dor e os horrores sofridos pelas vítimas das catástrofes.
DIMENSÕES DO DESASTRE
Apesar da experiência em zonas devastadas, o cinegrafista se impressionou com o que viu no Marco Zero. “Nada do que me mostraram antes me preparou para uma devastação tão massiva. Era enorme, surreal. Os escombros pareciam se estender por quilômetros, como uma vasta e pavorosa cadeia de montanhas”, descreve.
O cenário apocalíptico, em meio a colunas de fumaça negra, estava conformado por destroços de vidro, concreto, metais retorcidos, quase incandescentes, que convertiam em vapor os jatos d’água saídos das mangueiras dos bombeiros, vigas de ferro cravadas no asfalto como lanças, carros (inclusive de bombeiros) soterrados pelas toneladas de escombros que vieram abaixo e restos de material de escritório cobertos por grossas camadas de cinza e pó.
Abaixo de tudo, corpos soterrados.
Uma de suas principais tarefas era o registro do momento em que partes dos aviões fossem encontradas. “Filmei pedaços da fuselagem, do trem de aterrissagem, pneus e poltronas”, explica ele, ressaltando que nenhuma das quatro caixas-pretas (duas de cada avião) foi localizada, apesar de serem feitas para suportar impacto e temperaturas extremas.
‘O PERSEGUIDO’
Kurt parecia contar com plena confiança das autoridades norte-americanas: além do registro de catástrofes, disse ter conhecido os mais herméticos segredos militares dos EUA em trabalhos para os departamentos de Defesa e de Energia, quando acompanhou de perto o transporte e armazenamento de armas químicas, nucleares e biológicas, com acesso a instalações desconhecidas pela maioria dos norte-americanos, por abrigar gás sarin e ogivas nucleares.
Os resgates do WTC, no entanto, seriam um irreversível divisor de águas em sua vida. Acostumado a ter suas fitas perdidas no desorganizado escritório da FEMA e com a falta de pedido oficial para que entregasse o material, segundo explica, Kurt guardou a gravações em casa, sem imaginar as consequências da decisão.
“Quando voltei de Nova York a Denver, minha cidade no Colorado, fui recebido como um herói local. Todos os jornalistas queriam me entrevistar e as pessoas pediam para tirar foto comigo. Mas isso mudou muito rápido e para sempre. De herói, eu passei a ser um inimigo público”, diz o cinegrafista.
Após o Réveillon de 2002, ao chegar em casa com a esposa, Nancy disse que queria dormir. Poucos minutos depois, o som de um disparo se propagou pelo corredor.
“Corri até o quarto. Os cachorros saíram correndo, tropeçando um no outro, horrorizados. Nancy estava sentada no canto, como se estivesse em um sofá, com a arma no chão, o sangue, seus olhos ainda abertos”, descreve ele, que conta ter chamado aos gritos o 911.
A morte da mulher, aparentemente um suicídio, foi apenas o início de um pesadelo, detalhadamente narrado pelo cinegrafista em seu livro publicado pela editora argentina Planeta, com o título El Perseguido, em 2009. Kurt foi acusado de assassinato de Nancy e diz ter sido colocado em cela fria e precária, sofrido torturas e maus tratos policiais.
A promotoria pedia pena de morte por assassinato, com o argumento de que Kurt não abriu a porta de casa para a entrada dos policiais e ofereceu resistência para o resgate de Nancy.
“Eu estava atordoado e não encontrava as chaves, mas quando os agentes quebraram a janela, eu até os ajudei a entrar, afastando os móveis”, defende-se o cinegrafista.
Segundo informações divulgadas pela imprensa dos EUA durante o julgamento, amigos e familiares de Nancy asseguraram que Kurt era viciado em heroína, o que levou o casamento a ruínas, e a polícia disse ter informações de que ele foi flagrado pela esposa consumindo a droga e dormindo com uma mulher durante uma viagem de férias à Tailândia, em 2001.
O cinegrafista, por sua vez, garante que a esposa vinha de uma família com um histórico de suicídios e que sofria, há meses, de depressão.
A mãe de Nancy diz nunca ter acreditado na versão de suicídio: “Nós amávamos o Kurt, mas ele já não era a mesma pessoa”, afirmou Eleanor Campbell. “De qualquer maneira, não sei por que razão a polícia de Denver não acreditou estar lidando com um caso de suicídio e o prenderam preventivamente por meses antes do julgamento”, disse.
Um dia antes do julgamento, em junho de 2002, a advogada de defensa Carrie Thompson apresentou uma prova que a polícia não incluiu entre as evidências. “Nossos investigadores encontraram uma carta de Nancy, que consiste em uma mensagem de suicídio, que perguntava “o que é mais bonito que o amor e a morte? Kurt, por favor, procure ajuda”.
No julgamento, a Corte de Denver constatou que Nancy se suicidara e inocentou o cinegrafista.
Durante os meses que passou na prisão, no entanto, Kurt diz ter tido sua casa invadida sem autorização judicial. Ao regressar, seu computador e algumas gravações tinham desaparecido. Os colegas da FEMA nunca mais entraram em contato. Seus sogros o trataram como um assassino. “Perdi tudo: casa, família, trabalho, reputação. Virei um pária no meu próprio país”, conta.
Em liberdade, Kurt diz ter sido perseguido nas ruas, vigiado por agentes em cyber cafés e sofrido contínuas intimidações, novas tentativas de invasões a sua casa.
Foi quando decidiu aceitar o convite de uma amiga para passar uma temporada no litoral argentino, em fevereiro de 2003. Durante a viagem, conheceu Paula, uma tradutora poliglota, com quem se casou e foi morar em um sobrado de um bairro portenho.
Em Buenos Aires, Kurt trabalhou como produtor áudio-visual e transmitia algumas imagens do WTC em programas da TV argentina. No fim de agosto de 2004, a promotoria dos EUA reabriu o caso de Kurt após receber “informações que surgiram com o depoimento de dois homens que passaram pela mesma prisão que ele em 2002”.
Segundo a acusação, um dos companheiros de cela afirmou que Kurt disse ter colocado o dedo de Nancy no gatilho após ter efetuado o disparo. Outro deles, que diz ter conhecido o cinegrafista já em liberdade, afirmou que ele admitiu ter matado a esposa por não suportar a idéia de que ela o abandonasse.
Certo dia, Kurt foi abordado por agentes da Interpol em frente à sua casa. Ao ouvir a gritaria, Paula correu e tentou livrar o marido das mãos dos agentes.
Kurt teve o rosto coberto com um casaco e foi empurrado para dentro de um carro. Ele foi levado a Devoto, a única e super-povoada penitenciária de Buenos Aires, com uma ordem de extradição pelo homicídio de Nancy, contradizendo a determinação da Corte de Denver. A ordem de prisão enviada às autoridades argentinas dizia que o cinegrafista era um fugitivo da justiça e solicitava que os bens de Kurt fossem confiscados e enviados aos EUA.
Nos sete meses em que Kurt permaneceu detido, Paula acionou todos os contatos e organizações de Direitos Humanos que conhecia para denunciar a situação do marido e recebeu apoio de entidades como as Mães e Avós da Praça de Maio, Familiares de Presos e Desaparecidos por Razões Políticas e do Serviço de Paz e Justiça (Separj), liderado pelo prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel.
A ação, no entanto, teve consequências: Paula denuncia ter sido perseguida, fotografada na rua, ameaçada por mensagens de texto no celular e nas ruas. Grávida durante a prisão de Kurt, Paula acabou perdendo o bebê.
Na prisão, o cinegrafista conta ter sido visitado por uma diplomata norte-americana que afirmou as cortes argentinas “não diriam não” a um pedido de extradição dos EUA.
O juiz federal argentino Daniel Rafecas, porém, considerou pouco claras “algumas considerações” do pedido de extradição, afirmando que não havia garantias de que Kurt não seria condenado à pena morte – cuja aplicação é permitida no estado do Colorado e não prevista no código penal argentino -, e ordenou a liberação imediata do réu.
O governo dos EUA, por sua vez, apelou à sentença e, em fevereiro de 2008, a Suprema Corte argentina rejeitou mais uma vez a extradição.
Hoje, Kurt conta com um refúgio provisório na Argentina e espera que as autoridades lhe concedam o status de refugiado político.
Para a mãe de Nancy, a liberação de Kurt e a negativa à extradição pela Argentina se deve a um sentimento anti-imperialista no país vizinho. “Eu acho que ele foi [para lá] e encontrou pessoas que concordavam com o seu ódio pela ‘América’”, afirmou Eleanor Campbell à imprensa dos EUA.
Paula e Kurt, no entanto, ainda denunciam serem perseguidos e fotografados quando saem às ruas, mas se adequaram a uma rotina cautelosa, circulando somente durante o dia e em lugares frequentados por pessoas conhecidas, e trocando periodicamente o número de celular.
VERSÃO DOS ATENTADOS EM CHEQUE
Kurt revelou que, nas semanas prévias aos ataques ao WTC, treinamentos incomuns de evacuação foram realizados nas torres e que um dia antes da catástrofe, agentes do governo se preparavam para uma simulação, prevista para o dia 12 de setembro naquele mesmo local.
“Os oficiais da FEMA instalaram uma base de operações próxima às torres um dia antes do ataque”, diz ele.
Outro fato relevado por Kurt é sobre o edifício Sete do WTC, que sofreu poucos danos estruturais, mas acabou caindo. “Tenho imagens de como o edifício ficou, após uma queda vertical perfeita, reduzido a uma pequena e organizada pilha de escombros”, conta ele, sugerindo uma implosão.
Posteriormente o governo norte-americano admitiu que este prédio abrigava a maior base clandestina da CIA fora de Washington.
O edifício Seis, onde funcionava a Alfândega do país, possuía uma abóbada subterrânea onde agências governamentais armazenavam documentação classificada. O edifício foi espremido por toneladas de escombros, mas uma Força Especial de Resgate, acompanhada por Kurt, conseguiu chegar ao local secreto no subsolo.
Equipado com lanternas, o grupo encontrou um depósito cheio de estantes vazias.
“Naquele momento, não dei atenção, porque estávamos no meio do caos e corríamos perigo. Depois, a gravidade do que descobrimos começou a me intrigar”, relata. “Quando a abóbada foi evacuada? O local só pode ter sido esvaziado antes dos ataques”, conclui ele, explicando que a evacuação durou poucos minutos e que seria impossível esvaziar o local após o ataque do primeiro avião.
“A CIA não parecia preocupada com as perdas. Um porta-voz afirmou que uma equipe enviada ao local constatou que todos os documentos se reduziram a cinzas”, ironiza Kurt, recordando que “meses depois, a agência anunciou o desbaratamento de uma quadrilha colombiana de lavagem de dinheiro, graças a fotos e gravações de escutas telefônicas recuperadas no local”.
Todas as imagens que foram gravadas por Kurt no Marco Zero foram entregues a “especialistas independentes e de confiança”.
Com base nas análises feitas por eles até agora, no constatado durante seu trabalho e na perseguição que sofre há 10 anos, o cinegrafista afirma: “O governo dos EUA tinha tanta necessidade de iniciar uma guerra, que não só previa os atentados e permitiu que se concretizassem, como também colaborou para que acontecessem”.
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