Na orgia dos banqueiros e políticos, Silvio Berlusconi ‘dançou’
FIM DO BACANAL ITALIANO
Para salvar o capitalismo, os bancos fazem de tudo. Inclusive jogar ao mar, se preciso for, os seus próprios heróis. Quando Berlusconi assumiu o poder pela primeira vez, em 1994, a Itália era a sexta economia do mundo. Hoje é a oitava. Dois países a ultrapassaram. A China, claro. O outro? Ah, bem, como dizer? Para desespero dos comentaristas econômicos da Rede Globo, mestres do vodu e do mau-olhado, o outro é o Brasil.
A ERA DO BUNGA-BUNGA ACABOU
por Nirlando Beirão *
A capa do The Economist desta semana é um primor: Berlusconi arrumando a gravata no meio de um tremendo bacanal greco-romano. That’s all, folks. È finita, ragazzi. Acabou a festa, rapaziada. [veja abaixo]
De 1995 para cá, a Itália tem sido uma espécie de trenzinho erótico desgovernado pilotado por um playboy frenético orgulhosíssimo, aos 75 anos, de exibir publicamente seu apetite sexual.
Silvio Berlusconi é a imagem escarrada de uma Itália que se deixou levar pela ilusão hiperliberal da abundância sem limite, da desregulamentação radical da economia, do Estado zero, da orgia do vale tudo – que começou no salve-se quem puder e desaguou no locupletemo-nos todos.
Infelizmente, não é verdade que, na Itália dos gênios renascentistas, Silvio Berlusconi era um alienígena, um corpo estranho. Berlusconi, bufão, showman, solerte homem da comunicação, simulacro do Duce Mussolini, soube exprimir uma Itália debochada, arrivista, retocada de botox, arrogante, indiferente, desapaixonada, cínica, gananciosa, fútil.
Políticos não nascem por geração espontânea. Nem aqui nem lá.
Esta Itália do bunga-bunga leva agora um choque de realidade. Tomara que acorde diferente. Com a cara da Itália que já foi, civilizada, culta, com compostura.
Silvio Berlusconi é a dádiva dos caricaturistas. A Itália, por duas décadas, também virou um país de caricatura. O país teria relevado os pecadilhos sexuais, o populismo antidemocrático, as malversações financeiras (tráfico de influência, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, conluio com os mafiosos), se a catástrofe européia não lhe tivesse vindo bater dramaticamente à sua porta.
Existe uma ironia na crise: os especuladores cuja gula os governos ultraliberais protegeram e aguçaram tratam hoje de lançar a pá de cal sobre os governos ultraliberais que tanto os ajudaram e os incentivaram.
É ingrato, o capital especulativo. Não tem pátria, não tem coração – gratidão, nem pensar.
O que derrubou Berlusconi não foi a marroquina de 17 anos, call girl a serviço da libido do sultão milanês; não foi o amoralismo decrépito do tiozinho priápico; não foi seu palavrório indecoroso. Não é que a Itália tenha subitamente readquirido um senso de decência republicana, nada disso.
A crise de agora – com a renúncia de Berlusconi – é resultado de um ataque especulativo do mercado. Repete-se o script da Grécia, de Portugal, quem sabe da Espanha: os títulos públicos, que servem para financiar as dívidas de um país, viram pó e ameaçam arrastar para o abismo grandes bancos, os principais compradores desses papéis.
Para salvar o capitalismo, faz-se de tudo. Inclusive jogar ao mar, se preciso for, os heróis do capitalismo.
Quando Berlusconi assumiu o poder pela primeira vez, em 1994, a Itália era a sexta economia do mundo. Hoje é a oitava.
Dois países a ultrapassaram. A China, claro. O outro? Ah, bem, como dizer? Para desespero dos comentaristas econômicos da Rede Globo, mestres do vodu e do mau-olhado, o outro é o Brasil.
* Nirlando Beirão é jornalista e escritor, editor-adjunto da revista Brasileiros
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O velho tarado pode ter dançado, mas advinha quem levou ferro… como sempre? O povo!