O bumerangue incendiário da Rede Globo está de volta

GOVERNO COLHE INVESTIMENTO NA GLOBO

TV Globo Golpista

O governo adora ‘chaleirar’ a Rede Globo de Televisão e agora paga um preço caro por não ter democratizado os meios de comunicação. Mais do que nunca, a organização dos irmãos Marinho se transformou num perigoso bumerangue que está voltando para as mãos do próprio governo.

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Por Emir Sader *

As mobilizações de junho tiveram potencial de crescimento muito forte, porque pegaram duas fragilidades especiais do governo:

1) A falta de políticas destinadas aos jovens, que dialoguem com eles – como cultura, aborto, descriminalização de drogas, internet etc;

2) E a ausência de iniciativas para democratizar os meios de comunicação.

Os jovens se mobilizaram por uma proposta justa contra o aumento de tarifa de transporte público. Porém, ela acabou catalisando quantidade enorme de outras demandas de diferentes tipos.

O movimento passou a ser, então, uma disputa entre a extrema-direita e extrema-esquerda.

Obtida a primeira vitória, no dia 19, o movimento se esvaziou, porque o objetivo imediato foi alcançado. Porém, a partir da última quinta-feira 20, mudou o caráter das coisas.

O potencial totalitário, que estava em segundo plano devido à reivindicação inicial, aflorou.

LARANJA DOS VÂNDALOS

Essas mobilizações sem objetivo imediato, ingenuamente ou não, se prestam a ser laranjas dos vândalos, que, por sua vez desatam um processo repressivo como resposta.

Dão a impressão de que estão buscando um cadáver, algum heroísmo, para poder multiplicar o movimento. Aí, já prevalece mais a ideia da provocação.

A própria imprensa, que até a última quinta-feira estava falando euforicamente “de um Brasil que está na ruas”, começou a passar a ideia de que o País estava sem controle.

Ao apelar à repressão, quis que o governo se aventurasse a uma repressão maior que desgastaria a sua autoridade e geraria mais uso da força.

Terminou, então, a natureza reivindicatória, que foi vitoriosa e ficou sem objetivos imediatos, se prestando muito a desatar uma onda de violência, que passou a ser explorada pela imprensa.

A velha mídia conseguiu inculcar a ideia da raiva dos partidos políticos, particularmente do PT. A gente pode perguntar: por que a raiva do PT e não do PMDB e do PSDB?

Aí, tem um instrumento de classe. É a bronca com os partidos, os governos, a política e o PT, que, claro, é o que encarna mais diretamente isso.

O MONOPÓLIO EM AÇÃO

Mas tem outro elemento que os opositores do governo estão tentando tornar dominante: desqualificar a ideia de que o Brasil melhorou.

Até a oposição aceitava isso e começava a discutir, que precisava fazer mais. Eles partiam desse pressuposto.

Agora, eles estão com uma ideia de tábula rasa. É contra tudo o que está aí, personificado no PT, e essa ideia de que o Brasil acordou. Esse é o selo da direita, que agora deu mais um passo adiante.

Não é a ideia de que precisa fazer mais, fazer melhor. É a desqualificação da política, do governo, do PT e tudo mais.

Essa propaganda tem um substrato que desemboca na violência, porque é a representante disso que está aí.

O movimento seria impossível sem a ação monopolística dos meios de comunicação.

No começo, eles até o desqualificavam, depois perceberam que poderia ser um elemento de desgaste do governo federal e passaram a apoiar, a multiplicar desproporcionalmente.

Agora o governo paga um preço caro por não ter democratizado os meios de comunicação. É um perigoso bumerangue que está voltando para as mãos do próprio governo.

Emir Sader é professor da UERJ, onde coordena o Laboratório de Políticas Públicas. É também secretário-executivo do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais.

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