O que faltou no golpe da oposição tucano-midiática? Combinar com o eleitor!
AONDE FOI QUE EU ERREI?
O que falhou no golpe da oposição tucano-midiática? Faltou combinar com o eleitor! Acharam que o povão, o eleitor pobre, não tinha ética. O povo, porém, como apregoa o conhecido refrão, não é bobo. Ele tinha, na verdade, a informação essencial transmitida pelos benefícios de uma administração que resgatou milhões de marginalizados para incluí-los no processo econômico.
A MANIPULAÇÃO DA ÉTICA
Por Mauricio Dias *
Lula ganhou a eleição presidencial em 2002. Tinha uma aprovação pessoal grande e a avaliação do governo dele em nível elevado.
A oposição não sabia como se opor àquele governo que não naufragou de imediato como ela esperava e torcia. Frustrou-se.
O governo fez o dever de casa. Foi comedido, comportado, conservador. Sacrificou o crescimento econômico pelo superávit primário.
Embora tivesse base de apoio no Congresso capaz de permitir ousadias, conteve-se. O programa Bolsa Família, criado em 2003, é uma exceção que confirma a regra.
Em 2005, no entanto, explodiu a denúncia do “mensalão” e despertou na oposição o velho sentimento moralista da extinta UDN.
Era a bandeira que faltava para guiar as insatisfações e retomar o poder para os tucanos. Delenda Lula.
Entrou em ação a “banda de música” udenista e com ela o uso político, ou manipulação, do tema corrupção, ampliado pelas trombetas da mídia.
A ética foi escancaradamente banalizada e alcançou até mesmo a tradicional distribuição de cargos da máquina pública. Antes aceita, passou a ser condenada.
Chegou-se à criminalização da política. Alguns índices de abstenção no primeiro turno das eleições municipais de 2012, ainda em curso, refletem isso.
Apesar disso, a propaganda do combate à corrupção não deu certo. Em 2006, Lula foi reeleito e, em 2010, elegeu Dilma. Um ás que tirou da manga.
O que falhou no golpe da oposição? Basicamente, faltou combinar com o eleitor.
Chegou-se a achar que o povão, o eleitor pobre, não tinha ética. O povo, porém, como apregoa conhecido refrão, não é bobo.
Tinha, na verdade, a informação essencial transmitida pelos benefícios de uma administração que resgatava milhões de marginalizados para incluí-los no processo econômico.
Mas a coisa não para por aí. Tem mais.
Recentemente, Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope, concluiu um levantamento sobre mudança na agenda dos “principais problemas brasileiros”, segundo o eleitor.
Os dados são tirados, essencialmente, das pesquisas daquele instituto. Em 21 anos, de 1989 a 2010, houve alterações significativas nessa agenda.
Observados os porcentuais do levantamento e, claro, principalmente os resultados das urnas nesse período, fica bem visível que o eleitor, embora condene, não vê a corrupção como principal adversário.
No período pesquisado, o combate a esse crime baixou do quinto para o sexto lugar no elenco dos problemas a partir da queda de 5 pontos porcentuais na escala das indicações.
Curiosidade à margem do tema: caiu radicalmente a preocupação com a inflação, diminuiu significativamente a preocupação com a habitação e desapareceu a referência à dívida externa.
Contrariamente, porém, surgiram as drogas com porcentual elevado na lista de apreensões dos brasileiros.
Essa preocupação secundária com o combate à corrupção mostra que os eleitores entregam o voto para candidatos preocupados com a inflação.
O próprio FHC valeu-se disso para ganhar a eleição montado no Plano Real – com a saúde, com a educação, a segurança pública e o desemprego.
Por fim, porém não menos importante, a distribuição de renda.
O eleitor sabe do que precisa. O moralista que duvidar que atire nele a primeira pedra.
* Na CartaCapital