Por que a Globo defende arrocho do salário-mínimo para os pobres?
E DOS PENSIONISTAS… DOS APOSENTADOS?
O arrocho do salário-mínimo pago a trabalhadores mais modestos e à imensa maioria dos aposentados e pensionistas, proposto no editorial deste domingo do jornal O Globo, causou perplexidade na blogosfera e indignação nas redes sociais.
Mas o que se esperar dos três irmãos Marinho, que construíram a sua fortuna de quase R$ 60 bilhões como porta-vozes de uma elite predadora que eu, você e nenhum dos seus descendentes vai querer, jamais, fazer parte no futuro mais remoto?
Na verdade, eles representam monstros que vendem o direito à dignidade de nossos irmãos pobres no mercado de suas ambições pessoais, que negociam os brasileiros como se barganhavam os escravos até há pouco no mercado das praças.
Entenda como agem os parasitas sociais para interromper o atual ciclo virtuoso da nossa economia, a partir das tentativas de importação da crise neoliberal que assola o mundo ocidental. A análise é da jornalista francesa Martine Orange:
2013, O ANO DO FAUSTO PARA OS 1% MAIS RICOS
Para os milionários, 2013 foi muito melhor do que o previsto. Os rendimentos recordes e históricos obtidos pelo mercado nas bolsas de valores mundiais apagaram todos os rastros da crise de 2008.
O que distingue o ano que passou dos anteriores é o aprofundamento da fratura que separa os mais ricos dos mais pobres, o aumento cada vez mais escandaloso da desigualdade.
A recuperação só valeu, e só vale, para os 1% mais ricos, em detrimento dos 99% restantes.
A classificação da agência Bloomberg, divulgada na primeira semana de janeiro, mostra que as 300 pessoas mais ricas do mundo viram a sua fortuna crescer no ano passado em 524 bilhões de dólares.
Apenas essa pequena panela acumula uma riqueza inacreditável de 3,7 trilhões de dólares, equivalente ao PIB conjunto da França e da Espanha.
O fundador da Microsoft, Bill Gates, por exemplo, voltou a ser o homem mais rico do mundo, com um patrimônio de 78,5 bilhões de dólares. Graças à especulação nas bolsas (as ações da Microsoft aumentaram 40 % em 2013), ele simplesmente embolsou quase 16 bilhões de dólares em 12 meses.
INDIGÊNCIA NOS EUA E EUROPA
Paralelamente, as classes médias e os setores mais pobres do chamado mundo desenvolvido não notaram qualquer tipo de melhoria nas suas vidas.
Nos EUA, cuja economia é a que se considera que mais tem avançado, as condições de vida continuam a se degradar. O rendimento por habitante baixou para 28 mil dólares anuais, inferiores ao valor médio de 1998.
Oficialmente, a taxa de desemprego é apenas de 7% (no Brasil é de quase 4%), mas milhões de pessoas ficaram fora das estatísticas oficiais de procura de emprego. Mais de 46 milhões de norte-americanos vivem abaixo da linha da pobreza.
Enquanto a pobreza tinha caído continuamente a partir da década de 1960, não deixa de crescer desde meados da década de 2000 e ainda mais desde que se iniciou a crise. 20% dos jovens de 18 a 24 anos de idade vivem atualmente na indigência.
Os dados são ainda mais esmagadores no caso da Europa, onde à crise se somou a austeridade, com cortes de benefícios e garantias sociais. Enquanto a economia anda aos tropeções, o desemprego atinge níveis recordes no sul do continente: mais de metade dos jovens espanhóis e gregos estão sem qualquer perspectiva de trabalho.
RICOS COMEMORAM A CRISE
A pobreza reapareceu em todo o velho mundo. Mais de 8 milhões de franceses vivem abaixo do limite da pobreza, fixado em 977 euros por mês. 15% da população alemã também se encontra abaixo do mínimo. Na Itália 12% das famílias vivem na miséria.
Na Inglaterra, a Cruz Vermelha teve que reabrir centros de acolhimento para ajudar os mais pobres. Organizações de caridade multiplicam a distribuição de alimentos para famílias pobres. Uma situação similar à época do pós-guerra, dizem.
Os trilhões de dólares e euros despejados pelos bancos centrais não foram parar em nenhum caso na economia real, mas provocaram uma deformação econômica nunca vista até agora.
O essencial foi para o setor financeiro, que o utilizou como é seu costume: especulando em massa com todos os ativos que lhe pareçam rentáveis, desde o petróleo até ao setor imobiliário, passando pelas ações e títulos governamentais.
Enquanto o Fed – espécie de BC estadunidense – anunciava que ia continuar a injetar nos mercados 85 bilhões de dólares por mês, um endinheirado gerente de fundos de investimento comemorava:
“É uma notícia formidável para os ricos. É a maior redistribuição de riqueza das classes médias e dos pobres a favor dos mais ricos. Quem possui os ativos? Os ricos, ora, os multimilionários”.
A GRANDE DISTORÇÃO
É difícil resumir melhor a política aplicada pelas economias neoliberais desde o começo da crise. Há cinco anos leva-se a cabo uma transferência massiva de recursos dos pobres e das classes médias para os mais ricos.
O economista Emmanuel Saez conclui que, entre 2009 e 20012, “95% dos ganhos da recuperação econômica foram parar nas contas dos 1% mais ricos”.
Os 10% com rendimentos anuais superiores a 114 mil dólares tiveram uma descida brutal de –36,3% em seus ganhos no começo da crise devido à queda dos mercados bolsistas e imobiliários. Não obstante, ao contrário das recessões anteriores, 99% também viram minguar os seus rendimentos em 11,6 % durante este período.
Entretanto, “a partir de 2010, as famílias acomodadas em mansões cinematográficas conseguiram ultrapassar os efeitos das perdas”, assinala o economista.
Estas cifras indicam que a grande recessão afetou temporariamente os rendimentos mais altos, mas não limitou e nem limitará o aumento espetacular dos rendimentos dos mais ricos a que assistimos desde a década de 1970.
O longo período de redução das desigualdades que se iniciou após a crise de 1929, e sobretudo depois da II Grande Guerra, passou definitivamente à história.
CHAMPANHE ENCOMENDADO
Os norte-americanos mais afortunados pagaram em 2012 menos da metade dos impostos que os demais cidadãos do país, devido aos privilégios fiscais sobre o seu patrimônio.
Apenas os 10% do topo da pirâmide recebiam exatamente a metade do total dos rendimentos norte-americanos em 2012. Esta proporção aumentou ainda mais em 2013.
Semelhante nível de acumulação de riqueza em tão poucas mãos nunca se viu desde 1917, ano em que começaram as estatísticas nos EUA. Nem sequer na véspera da crise de 1929 se atingiu uma percentagem tão elevada.
Na Europa, embora os dados ainda não sejam tão escandalosos e nem sequer se tenha começado a refletir sobre isso, a tendência é a mesma. Mas é evidente que, por todo o lado, se aprofunda a fratura entre ricos e pobres.
Da Inglaterra à Espanha e Portugal, passando pela França, Itália e Grécia, tudo continua sob o signo da austeridade, com redução da despesa pública, da diminuição dos impostos, do corte dos salários e da redistribuição social.
E assim, as grandes fortunas europeias não terão com o que se preocupar: 2014 promete ser também um ano excelente para elas. Podem encomendar o champanhe.
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