Quanto mais homofóbico, mais gay o líder religioso

A EXPLOSÃO DO SEXO NAS ALCOVAS DA FÉ

Escolha do novo papa

O Chefe de Redação

Numa instituição que vive do segredo e da culpa, fermentam as condições ideais para o crescimento da extorsão e da manipulação. Alguns padres conseguem lidar com o celibato, mas um bom número – como se tem visto – não suporta viver em total abstinência. Cerca de metade dos rapazes que entram em seminários são gays. As lideranças mais homofóbicas da hierarquia religiosa são justamente as que procuram parceiros do mesmo sexo dentro e fora das paredes das igrejas.

BOMBA-RELÓGIO NA IGREJA

Por Kiko Nogueira *

Na visão do ex-frei dominicano Mark Dowd, abertamente gay, sobre a crise no Vaticano que levou à renúncia do papa, a homossexualidade é uma bomba-relógio armada para explodir na igreja.

Dowd é gay assumido. Expulso de sua congregação, trabalha como jornalista freelancer e documentarista. Tem uma coluna no jornal inglês The Guardian.

Segundo ele, os homossexuais são “amplamente representados na igreja. Cerca de metade das pessoas que entram em seminários são gays”.

Dowd falou depois que, na segunda-feira, o Vaticano anunciou a renúncia do arcebispo da Escócia, Keith O’Obrien.

O clérigo caiu na esteira de denúncias de que o mandatário havia tido relacionamentos sexuais com outros colegas.

Jornais italianos vêm dando matérias sobre uma rede de chantagens envolvendo uma certa “cabala gay”.

Gays da Igreja

Ela é um dos ítens citados no VatiLeaks, os documentos que mostram corrupção, disputas entre cardeais, transações financeiras mal explicadas e o diabo.

Seria uma das causas de Bento XVI ter saído.

É claro que a história não contada da desistência do papa envolve muito mais do que uma grande conspiração homossexual.

Mas, numa instituição que vive do segredo e da culpa, segundo Dowd, você tem as condições ideais para o crescimento da extorsão e da manipulação.

A igreja tem uma expectativa absurda dos padres no que tange ao sexo.

O celibato foi sacramentado no Quarto Concílio de Latrão, de 1215 e no Concílio de Trento, entre 1545 e 1563.

Antes disso, conta-se que no Concílio de Constança, em 1418, 700 prostitutas atenderam os clérigos que debatiam o assunto.

Alguns conseguem lidar com ele. Um bom pedaço – como se tem visto – não consegue.

Dowd é um militante da causa. Fez um documentário, Queer and Catholic, em que entrevistou dois sacerdotes que se apaixonaram e tentaram levar adiante essa questão com seus superiores.

Foram rechaçados sumariamente.

Raio caindo na cúpula da Igreja

Um deles revelou que seus chefes mais homofóbicos eram os mesmos que procuravam parceiros no Monte Capitolino, famoso parque em Roma.

O cardeal O’Brien, antes de dar o fora, declarou que o casamento entre pessoas do mesmo sexo era “uma tentativa de agradar um pequeno grupo de ativistas em detrimento de toda a sociedade”.

Segundo ele, “eliminaria a ideia básica de que toda criança precisa de um pai e de uma mãe”.

Claro que a homofobia não é exclusividade do Vaticano — vide, para ficar num exemplo recente, o caso do pastor Silas Malafaia.

Agora, a pressão para que seus líderes finjam ignorar sua sexualidade é injusta, sem sentido – e, claro, tem consequências.

Como a igreja católica é medieval e pequenas e eventuais mudanças ocorrem a cada 500 anos, é altamente improvável que algo vá acontecer.

Enquanto isso, os seminários continuarão cheios.

Como diria Libaninho, o beato de O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, com as mãos na cabeça: “Nossa Senhora das Dores, que até pode cair um raio!”.

* No DCM

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