Semelhança do Coro dos Grilos com voz humana. Verdade ou mentira?
O CORAL DOS GRILOS FALANTES É FRAUDE?
O Coro dos Grilos de Deus faz sucesso há vários anos, desde a época das trocas por e-mail dos velhos arquivos editados em PowerPoint. Passado um tempo, a sinfonia volta como novidade às redes sociais.
É natural que a orquestra faça barulho, com a chegada de novos internautas através da inclusão digital. Todos ficam grilados e extasiados com o som “angelical” produzido pelos insetos. Mas… foi mesmo?
Essa história começou há uns vinte anos quando o compositor norte-americano Jim Wilson gravou o canto dos grilos e, a seguir, o desacelerou. Ao diminuir a velocidade da gravação, surgiram evidentes semelhanças com a voz humana.
Para mostrar sua descoberta ao mundo, o compositor mixou uma fita contendo duas faixas que executam simultaneamente a “voz” dos grilos. Uma delas apresenta a velocidade normal e a outra, desacelerada.
Dê o play a seguir e ouça o resultado (no vídeo acima há um fragmento):
A experiência foi tão impressionante que até mesmo o lendário roqueiro Tom Waits se rendeu aos encantos místicos daquilo que comparou a “um coro, como música dos anjos, um pedaço do céu“.
Pronto, foi o aval que faltava para transformar Jim Wilson numa celebridade internacional e para fazer jorrar muito dinheiro em sua conta bancária, através da venda de discos new age e palestras.
Vale lembrar que o anúncio da descoberta ocorreu num momento muito propício, durante o auge do movimento esotérico mundial que antecedeu a virada do século e o advento do Terceiro Milênio.
Algum tempo depois, começaram a surgir problemas. Vários músicos capturaram milhares de grilos para recriar o mesmo efeito, mas foram incapazes de repetir sons parecidos com os da gravação original.
A impressão generalizada é que Wilson usou um monte de cantos diferentes, retirou muitos espaços “em branco” e colocou-os em vários tons num sistema multitrack para compor uma espécie de coral.
Depois disso, parece, ele baixou de fato a velocidade, alterou os tempos individuais, e ainda adicionou ecos e outros efeitos especiais. Ou seja, pintou e bordou com a tecnologia disponível na época.
Resumo da ópera: para os incrédulos que estudam o fenômeno, o coro de grilos não é simplesmente o som abrandado como garante o autor, mas uma forma de manipulação para alcançar harmonias familiares aos ouvidos humanos.
Nada disso, vamos combinar, tira o mérito de uma obra interessante e envolta em uma aura transcendental que, de fato, pode levar os adeptos da meditação a estados alterados de consciência.
O cuidado a ser tomado é não afirmar categoricamente que se trata de uma prova irrefutável de “manifestação divina” através dos insetos, porque aí a coisa vira hoax e descamba para a mais deslavada fraude.
Estes sons, portanto, devem ser ouvidos com o mesmo espírito crítico que se assiste ao Jornal Nacional ou que se lê qualquer assunto, também neste espaço.
Sabedores de que na Globo a notícia é sempre manipulada ao passo que, aqui, nós até podemos estar sinceramente enganados e, por isso mesmo, sem nenhum tipo de grilo da consciência…