A ‘privataria tucana’ vai recomeçar, agora em Portugal
PRIVATARIA À PORTUGUESA
Quem avisa amigo é, até porque nós já conhecemos o script deste filme de horror. Que os nossos amigos lusitanos tratem de encomendar, adquirir ou baixar exemplares de A Privataria Tucana antes que seja tarde demais.
Agora que o governo de Passos Coelho decidiu fazer de 2012 ‘o ano das privatizações’, marcando a saída quase total do Estado da economia, é indispensável a leitura do livro do jornalista investigativo brasileiro Amaury Ribeiro Jr.
Tal como aconteceu aqui, o plano prevê que, em Portugal, a energia, águas, telecomunicações, transportes ou comunicação social sejam transferidos para as mãos de grupos privados.
Os montantes da partilha atingirão cerca de quatro bilhões (mil milhões) de euros em ativos estratégicos, cerca de 70% do total do plano de privatizações, orçamentado em 5,5 bilhões. No Brasil isto representou uma gota no oceano, mas proporcionalmente não menos salgada.
A voracidade com que os neoliberais portugueses se lançarão sobre o patrimônio público português, ninguém se iluda, irá beirar o limite da irresponsabilidade, exatamente como seus congêneres tucanos do lado de cá do Atlântico. Porque estará tudo dominado, como costumamos dizer.
Portanto, desde já, atenção redobrada com a violenta campanha a ser deflagrada pelos meios de comunicação de massa.
A partir de agora tentarão convencer os seus “Ananias”, crédulos e manipuláveis, que as estatais são improdutivas e dão prejuízos ao erário. E que com a venda passarão a apresentar resultados superavitários, que as tarifas serão reduzidas e o atendimento melhorado com a competição.
Puro engodo, não foi o que se viu aqui. Nos segmentos de mercado cartelizados que se formaram algumas taxas de serviços registraram aumentos superiores a 500%.
Os próprios grupos da grande imprensa estarão entre os principais beneficiários das negociatas que se aproximam. Faz parte.
Caso seja seguido em parte o roteiro descrito no livro de Ribeiro Jr., esta será a oportunidade de ouro para que os consórcios vencedores possam fazer a quitação dos valores empenhados com títulos podres.
Ou ainda pior: dando como garantias para o abate das dívidas todos os papéis tóxicos que disponham em suas carteiras de crédito. Tudo tão conveniente, não?
Ou seja, como ocorreu por aqui, Portugal encontra-se próximo de se transformar numa enorme lavanderia de dinheiro sujo e papelada sem valor — saldo incômodo da crise financeira de 2007/2008. Isto para não falar das operações de “internação” de valores oriundos de paraísos fiscais, agora plenamente justificáveis.
Enfim, na década de 90 do século passado, os políticos tucanos brasileiros se associaram a grupos portugueses, espanhóis e italianos, entre outros, para saquear os bens públicos, bem debaixo dos nossos narizes.
Paradoxalmente, tão pouco tempo depois, com a crise da dívida soberana, agora em 2012 são os novos ricos dos países emergentes, como o Brasil, a China ou Angola, os principais candidatos a adquirir posições que abrem portas ao controle de setores estratégicos como a energia, águas e transporte aéreo em Portugal.
Não fosse um plano sinistro tão bem concatenado poderíamos dizer tratar-se apenas de uma triste ironia do destino.