Agora a gente se estranha, se evita e não se tolera mais
HUMANOFOBIA: CÍRCULO VICIOSO E VICIANTE
Há vários anos publicamos o texto de uma amiga mineira que, melancolicamente, já percebia um aumento na intolerância e na nossa incompetência em nos reconhecermos uns nos outros.
A este fenômeno ela chamou de humanofobia, ou como a aceitação e o acolhimento do “diferente” incomoda profundamente nossos pobres narcisos. E, na época, nada era ainda como hoje…
PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO
O gordo discrimina o velho. Discrimina, mas chama de “idoso”, que chamar de velho nos tempos atuais não “pega bem”.
O idoso acha que as “bichinhas”, ou melhor, os homossexuais são um horror, sinal do fim dos tempos. Estes por sua vez acham os “hetero” qualquer coisa limitada e de gosto duvidoso.
Heterossexuais, que ainda se crêem maioria, do alto de sua hegemonia discriminam qualquer outra forma de amor e tesão.
Também não gostam de preto, embora os chamem, respeitosamente de afrodescendentes. Já são informados o suficiente pra saberem que raça não tem a ver com cor de pele. Por isto, incluem entre os afrodescendentes também os brancos que sejam pobres.
Negros, por sua vez, fazem questão de declarar em camisetas e outras mídias que são “100% negros”.
Alguns acham que as louras são burras de doer. Ah! E os índios preguiçosos, os judeus pouco confiáveis. Louras, oxigenadas ou não, detestam pobres e estes desconfiam dos ricos ou dos quase ricos.
Os quase ricos, também chamados de “classe média”, são seres atavicamente rancorosos. Torcem o nariz para os trabalhadores mais humildes sob a alegação de que falta-lhes o “glamour”. Mas também provam do próprio veneno. Pelo mesmo motivo, são também discriminados por aqueles que nasceram em berço de ouro.
Intelectuais abominam quem não tenha lido pelo menos um clássico simplesinho como Ulisses de Joyce (no original de preferência). Nutrem um secreto desprezo por qualquer pessoa inculta, ainda que bela – exceção feita apenas à língua portuguesa: esta sim, pode ser “inculta e bela”. Mas idioma não vale, é vivo mas não é pessoa, não é mesmo?.
Já os iletrados, mas endinheirados, acham que templo mesmo são os shoppings e não gostam muito de pessoas religiosas… e blá, blá, blá.
Este círculo vicioso – e viciante – vai dando voltas e mais voltas sobre si mesmo até se fechar novamente nos gordos. Destes, o mundo todo fala mal.
E assim caminha a humanidade, amalgamada na mediocridade da burrice que nos une a todos. Porque afinal, a burrice, esta sim, é um valor universal.
* Por Vera das Alterosas